São Paulo – A Bolsa fechou em queda em mais um pregão em que as atenções do mercado ficaram voltadas para o cenário interno com as preocupações em torno da PEC da Transição e os impactos fiscais, mas após a divulgação da ata do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano), o Ibovespa teve uma melhora apesar de seguir no negativo.
No documento, os membros do Fed sinalizaram que, em breve, poderão diminuir o ritmo de aumento da taxa de juros nos Estados Unidos. Amanhã é feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos e as bolsas não funcionarão. Aqui no Brasil, a liquidez deve ser reduzida.
O principal índice da B3 caiu 0,17%, aos 108.841,15 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro perdeu 0,02%, aos 109.570 pontos. O giro financeiro foi de R$ 23,5 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.
Nicolas Farto, especialista em renda variável da Renova Invest, disse a divulgação da ata do Fed contribuiu um pouco para a melhora da Bolsa, apesar de seguir no negativo. “Alguns membros dizem que desacelerar a alta pode reduzir risco e foi interpretado como positivo, as bolsas lá fora subiram”.
O diretor de reasearch e sócio da Quantzed disse que a Bolsa cai com o cenário interno pesando “refletindo a preocupação com a PEC de Transição; o mercado não tem reagido bem com a transição de governo e vemos investidores estrangeiros desmontando posições em bolsa brasileira e levando dólares para fora; a ata não fez efeito por aqui”.
As ações ligadas à economia doméstica tiveram mais um pregão em queda refletindo a elevação das taxas de juros futuros em alta. Americanas (AMER3) e Cielo (CIEL3) e CVC (CVCB3) perderam respectivamente 5,35%, 6,82% e 7,22%.
O destaque positivo ficou para a Marfrig. “É uma reação pontual após queda bem forte do ativo, como um ajuste ou arrefecimento de pressão vendedora”, disse Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed. A empresa de proteína animal chegou a ter queda de cerca de 20% em seis pregões. Marfrig (MRFG3) subiu 3,16%.
Em relação a ata do Fed, Celso Pereira, diretor de investimentos da Nomad, comentou que a ata mostra que “deve ter uma diminuição da velocidade do aumento de juros nos Estados Unidos. O investidor deve considerar o cenário que parece hoje mais plausível e conservador com um aumento de 0,50 pp em dezembro e uma estabilização do teto da meta de juros em 5% em 2023”.
Felipe Moura, sócio e analista de investimentos da Finacap, disse que o centro das discussões segue com a PEC da Transição e “enquanto não tiver uma definição mais clara o mercado fica à deriva; [o mercado] está bem sensível e qualquer aceno de responsabilidade fiscal, a Bolsa começa a melhorar”.
Moura comentou que o cenário macroeconômico vem se deteriorando, “isso é observado na curva de juros e indica que virá mais alta da Selic [taxa básica de juros]; o problema todo é qual seria a âncora fiscal”.
Em relação à ata do Fed, o sócio e analista da Finacap acredita que “possa ter uma sinalização deum ritmo mais brando os juros”.
Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital, disse que aqui o mercado continua atento “à novela da PEC da Transição com o novo governo pedindo bastante e alguns parlamentares querendo diminuir o tamanho e prazo. Essa indecisão faz o mercado ficar na defensiva e traz volatilidade adicional para o mercado com a Bolsa se aproximando das mínimas”.
O gestor da Galapagos Capital comentou que a Petrobras está “muito pressionada por conta de quem irá assumir a empresa a partir do ano que vem, mas também pela queda do barril do petróleo. As empresas ligadas ao mercado interno, como o setor de varejo e aviação, estão sofrendo bastante devido à pressão na curva de juros”.
O dólar comercial fechou em queda de 0,18%, cotado a R$ 5,3690. A moeda norte-americana não teve grande oscilações ao longo, e refletiu o clima de cautela à espera da aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição e da divulgação dos nomes que irão compor a equipe econômica do presidente eleito, Lula (PT).
Para o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, “são balões de ensaio, tudo isso é, de alguma maneira, previsto. Eles (o futuro governo) fazem isso para sentir o mercado, mas ainda não tem nada de concreto”.
“O mercado tem a percepção de total falta de definição. O tempo deles (governo) é exíguo, e não adianta jogar qualquer nome ou mesmo um texto muito pesado, e achar que isso vai passar”, pondera Vieira.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta, com indefinições políticas e fiscais no radar. O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,700% de 13,690% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 14,585%, de 14,380%, o DI para janeiro de 2025 ia a 13,945%, de 13,690% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 13,860% de 13,460%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em queda, cotado a R$ 5,3720 para venda.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em alta, seguindo a divulgação da ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que sinalizou uma provável desaceleração no ritmo de aumentos de juros.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices futuros de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: +0,28%, 34.194,06 pontos
Nasdaq 100: +0,99%, 11.285,3 pontos
S&P 500: +0,59%, 4.027,26 pontos
Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA.