Bolsa fecha em leve queda com ajuste nas apostas para juros, após IPCA e CPI, dólar cai

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São Paulo -A Bolsa fechou em leve queda com os investidores digerindo os dados de inflação acima do esperado aqui e nos Estados Unidos e ajustando as apostas para a Selic e os juros americanos. Petrobras ajudou na melhora do índice.

Mais cedo, n Estados Unidos, foi divulgado o índice de preços ao consumidor (CPI, sigla em inglês), que subiu 0,30% em dezembro comparado ao mês anterior e a previsão era de alta de 0,2%. Na comparação mensal, o núcleo do índice de preços ao consumidor, que exclui a variação dos preços de alimentos e energia, ficou em 0,3% em dezembro. Nos 12 meses encerrados em dezembro, o núcleo do índice de preços ao consumidor subiu 3,9%.

Mais cedo, a dirigente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de Cleveland, Loretta Mester, disse a inflação não vai cair a 2% até o final de 2024 e o caminho é o soft landing.

Por aqui também saiu a inflação oficial do País. O Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dezembro, que subiu 0,56% contra expectativa de 0,50%, mas fechou o ano de 2023 dentro da meta-alta de 4,62%-. O teto da meta é de 4,75%.

As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) subiram 1,02% e 0,84%. Petrorio (PRIO3) aumentou 2,59%. O destaque positivo ficou para a Eletrobras (ELET6), avançou 1,36%, após a aprovação da incorporação de Furnas.

O destaque negativo ficou para o recuo das ações da MRV (MRV3), caíram 11,77%. O mercado especula que a companhia anunciará uma revisão de seu guidance para o lucro líquido em 2025. Além disso, investidores acreditam que o movimento seja uma antecipação da prévia operacional que a construtora divulgará hoje após o fechamento do mercado”, disse Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

O principal índice da B3 caiu 0,14%, aos 130.648,75 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro perdeu 0,12%, aos 131.740 pontos. O giro financeiro foi de R$ 20,4 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam mistos.

Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, avaliou que os dados inflação aqui e lá fora ter vindo um pouco acima do esperado foi bom e o mercado deve analisar com mais moderação os próximos passos dos bancos centrais.

“Foi o terceiro mês de aceleração da inflação aqui lá fora, mas a tendência ainda é positiva; o mercado estava muito ansioso para o primeiro corte de juros nos Estados Unidos, o que pode acontecer até esse primeiro trimestre é o afrouxamento quantitativo sigiloso, ou seja, por meio de alguns estímulos, o Fed coloca liquidez na economia sem precisar reduzir juros, e só corta no final do segundo trimestre -entre maio e junho-como projetávamos. Isso se traduz aqui em não acelerar o ritmo de queda da Selic. Agora é pensar com mais sobriedade os próximos passos do Fed e do BC porque trabalhar com ansiedade é mais complicado; a Petrobras e Petrorio ajudam na melhora do Ibovespa”.

André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, disse que o movimento do mercado na sessão de hoje reflete, em grande parte, os dados de inflação no Brasil e nos EUA.

“No cenário local, o IPCA veio acima do esperado, pressionado, principalmente, por conta da alta do preço dos alimentos, e as apostas de cortes mais agressivos [0,75pp] pelo Copom foram reduzidas. No exterior, o CPI também ficou acima das expectativas, tanto o índice cheio quanto os núcleos, provocando também um ajuste nas apostas de corte de juros já em março pelo Fed”.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, a inflação nos EUA veio acima do esperado.

“Olhando a abertura da inflação, o que dá para anotar é que em outubro e novembro, a baixa de energia com o recuo do preço de petróleo influenciou muito para que a inflação desacelerasse no mês de dezembro não teve grande contribuição da energia na parte negativa, ficou praticamente estável; o item moradia, que acho que é o mais sensível e importante para acompanhar, teve uma leve aceleração (0,5% na comparação mensal e 0,2% na anual, só esse item representa de 20% a 30% da inflação. enquanto tiver bem alto vai ser difícil a gente ver o FED vai se sentir comportável para começar a baixar os juros. Eles sempre dizem que ficam na dependência dos indicadores. O mercado foi muito precipitado para o corte de juros em março. A gente enxerga corte de juros mais na metade do ano”.

Cruz comentou que o núcleo da inflação veio em linha, “o que podemos fazer uma leitura positiva-cresceu 0,3% na comparação mensal e 3,9% no anual, o projetado era 3,8%, se tirar os itens mais voláteis de energia e alimentos, os preços se comportaram bem. Ainda reforço o item moradia e o mercado dá pouco peso. O interessante foi que os carros usados que tinham pressão grande desaceleraram em dezembro de 1,6% para 0,5% e no anual ficou negativo”.

O dólar comercial fechou em queda de 0,32%, cotado a R$ 4,8754. A sessão foi marcada pela falta de tendência clara, mesmo após a divulgação da inflação dos Estados Unidos, pela manhã.

De acordo com o economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano, não houve nenhuma informação relevante que afetasse o câmbio, que segue de lado, sem oscilações.

Serrano explica que em momentos de reversão de ciclo de política monetária os dados costumam ser mais heterogêneos, mas ainda assim não acredita que o Fed comece a cortar os juros estadunidenses em março: É muito cedo, opina.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “o dado não é tão ruim, mas como o mercado se empolgou demais está ocorrendo um choque de realidade. O Fed deve manter os juros altos por mais tempo”.

O economista refere-se ao ao índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de dezembro, nos Estados Unidos, que subiu 0,3% ante expectativa de +0,2%.

Borsoi acredita ser pouco provável que o início dos cortes nos juros americanos seja em março, e que o mercado começa a alinhar suas expectativas ao discurso moderado do Fed.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em queda, em dia de volatilidade. Com IPCA de dezembro (+0,56% ante expectativa de +0,49%), as apostas ainda são de que o corte deve ser 0.50p.p na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

O DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,125% de 10,135% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 9,760% de 9,775%, o DI para janeiro de 2027 ia a 9,875%, de 9,880%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 10,090% de 10,095% na mesma comparação.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo misto, próximos da linha de equilíbrio, após uma nova leitura de dados de inflação que refletiu um aumento nos preços ao consumidor para dezembro.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,04%, 37.711,02 pontos
Nasdaq 100: +0,004%, 14.970,2 pontos
S&P 500: -0,06%, 4.780,24 pontos

 

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA