São Paulo -A Bolsa fechou em leve queda, melhorando ao longo da sessão, mas não suficiente para zerar as perdas devido à pressão das empresas ligadas às commodities-Petrobras (PETR3 e PETR4) e Vale (VALE3) – com o recuo do petróleo e do minério de ferro.
Apesar do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro benigno -subiu 0,8% no 1T24-, as indefinições em relação à economia americana deixam os investidores apreensivos.
A Petrobras (PETR3 e PETR4) caiu 0,57% e 1,11%, respectivamente, acompanhando a cotação do petróleo tipo Brent. Vale destacar que a commodity estava a US$ 89,01 em 25 de abril (tipo Brent) e hoje fechou a US$ 77,61.
A Vale (VALE3) perdeu 1,01%. A SLCAgrícola (SLCE3) liderou as altas em 3,04% e Magazine Luiza (MGLU3) foi destaque de queda de 8,12%.
O principal índice da B3 caiu 0,18%, aos 121.802,06 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho ficou estável, aos 121.970 pontos. No interdiário, a mínima atingiu 120.878,36 pontos. O giro financeiro foi de R$ 20,3 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em alta.
Jaqueline Kist, especialista em mercado de capitais e sócia da Matriz Capital, disse que “o principal gatilho de queda no Ibovespa hoje é a baixa no preço nas commodities. Frente à queda do preço do petróleo e do minério de ferro, Petrobras, Vale e Prio lideram os volumes negociados na bolsa com perdas superiores a 1%, com o mesmo movimento observado nos pares como PetroReconcavo, 3R Petroleum, Gerdau e CSN Mineração”.
Jaqueline ressaltou que o Ibovespa tem registrado volume diário de negociação abaixo da média dos últimos meses e com quedas acentuadas desde o mês de abril, à exceção no final do mês citado que teve uma leve recuperação.
A saída forte de estrangeiros e institucionais também é observada pela especialista.
“Os fluxos divulgados hoje pela B3 indicam saída de R$ -1,6 bilhão de capital estrangeiro e R$ -3,1 bilhões de institucional no mês de maio, frente ao investidor pessoa física que sustenta algum fluxo positivo em R$ 2,4 bilhões no mês”.
Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que o mau humor vem do exterior com o mercado preocupado com possível estagflação.
“Se a Bolsa testar a região dos 120 mil pontos é bom, assim o mercado se estabiliza, mas tem que ver qual o fluxo para segurar esse preço. Apesar de o Jolts [relatório de emprego divulgado mais cedo indicar a abertura de 8,059 milhões de vagas contra previsão do mercado de 8,4 milhões] ter vindo abaixo do esperado, só vamos saber se a notícia é boa ou ruim depois dos próximos indicadores de inflação [o CPI]. Os dados recentes mostraram a economia enfraquecendo, mas faltaram realmente os dados de inflação, o PCE na sexta (31/5) veio em linha. Começamos a ver redução na venda de imóveis, o setor imobiliário é importante porque movimenta os preços. O mercado começou a ficar com medo da estagflação, que seria o pior cenário. Petrobras e Vale também caem forte e impacta a Bolsa”.
Mais cedo, Leonardo Costa, economista do Asa Investments, disse que o resultado do PIB [divulgado pela manhã, cresceu 0,8% no 1T24] ficou próximo as estimativas e “não deve alterar as expectativas de crescimento do ano, de +2,3%; os dados devem ficar mais voláteis a partir do segundo trimestre, quando deve se contabilizar o efeito da tragédia no Rio Grande do Sul”.
O dólar comercial fechou em alta de 0,95%, cotado a R$ 5,2858. A moeda refletiu, ao longo da sessão, a piora do cenário global e as incertezas domésticas, com o fiscal voltando a ser o tema central das discussões.
Segundo o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, o cenário interno parece ter “indigestão” com a percepção de desaceleração global, além da queda das commodities, e que essa dinâmica beneficia o dólar.
“O mercado aqui está muito desancorado em relação às Treasurie, com os juros subindo. Isso não é normal”, avalia Borsoi.
Além de ressaltar que a agenda econômica volátil traz de volta as incertezas fiscais domésticas, Borsoi acredita que este é um cenário de incertezas, o que gera busca pela divisa estadunidense.
Lucas Brigato, sócio da Ethimos Investimentos, o exterior já começa a mostrar desaceleração da economia, mas o doméstico ainda mostra muito incerteza.
“O mercado já tem alguma expectativa de payroll na sexta-feira, hoje o Jolts [relatório de emprego, mostrou que foram abertas 8,59 milhões de vagas contra previsão do mercado de 8,4 milhões] veio um pouco em linha e está mostrando um pouco de fragilidade do aquecimento da economia americana, o que faz o mercado olhe para um possível corte de juros em setembro. Mas aqui tem bastante ruído em relação à reforma tributária, o que reflete na parte fiscal. Além disso, tragédia do Rio Grande do Sul com destinação de recursos, cadeia produtiva que fica complicada por lá”.
Bruno Komura, analista da Potenza Capital, disse que existe um medo em relação aos Estados Unidos.
“Com a economia bastante forte, os juros devem permanecer elevados, mesmo com a deterioração do setor manufatureiro. Existe uma aversão ao risco que puxa o dólar”.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em alta. A sessão foi marcada pela piora do cenário global e externo, que voltou a precificar as incertezas fiscais.
Por volta das 16h42 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,410%, de 10,410% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 10,845% de 10,785%, o DI para janeiro de 2027 ia a 11,205%, de 11,130%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 11,485% de 11,430% na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em ligeira alta, à medida que os investidores ajustaram suas expectativas de corte de juros em função de dados econômicos mais fracos do que o esperado.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: +0,36%, 38.711,09 pontos
Nasdaq 100: +0,17%, 16.857,05 pontos
S&P 500: +0,15%, 5.291,32 pontos
Paulo Holland e Darlan de Azevedo/ Agência Safras News