São Paulo- A volatilidade ditou o ritmo dos negócios nesta terça-feira. A Bolsa fechou em leve queda, mas operou todo o pregão entre os campos positivos e negativos com a apreensão dos investidores para a decisão de amanhã (4) dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos sobre a política monetária dos dois países.
Os investidores ficarão atentos aos comunicados para buscar pistas em relação próximos movimentos dos juros. A tensão do mercado foi observada na baixa liquidez registrada hoje no Ibovespa.
Já está precificado uma Selic de 12,75% ao ano (aa) e a expectativa é de que o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) suba os juros 0,50pp, para uma faixa entre 0,75% e 1,00%.
O principal índice da B3 caiu 0,10%, aos 106.528,09 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho perdia 0,40%, aos 107.655 pontos. O volume financeiro era de R$ 22,4 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.
Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed, disse que os investidores ficaram em compasso de espera, na sessão de hoje, para a “Super Quarta” [reuniões do Copom e do Fed no mesmo dia]. “O mercado vê uma chance praticamente certa de um aumento de 50 pontos-base, mas os holofotes se voltam para as falas do presidente do Fed, Jerome Powell sobre a trajetória futura de juros e a redução do balanço patrimonial”.
O CFA e fundador da Quantzed acrescentou que operou um pouco mais fraco e “com um fluxo constante de venda de papéis por parte de algum player grande”.
Rodrigo Moliterno, da Veedha Investimetnos, comentou que o setor de siderurgia se recupera das recentes quedas com as medidas anunciadas pela China para aquecer a economia, “apesar de o país asiático permanecer fechado por causa de um feriado e de a manutenção a política de zero covid, o que levam os investidores a acreditar em uma diminuição da recuperação global”.
Mais cedo, Felipe Moura, analista de investimentos da Finacap, comentou que todos os olhares do mercado estão para as decisões de política monetária aqui e nos Estados Unidos. “O grande desafio dos bancos centrais é manter ancorada as expectativas de inflação no longo prazo. O tom do dia é cautela com a espera dos comunicados trazendo as sinalizações para as próximas reuniões”.
Outro ponto de destaque mencionado por Moura foi a saída de estrangeiros em abril, que pesou muito no mercado em abril e essa evasão de capital externo continua no início desse mês “com os investidores retirando os recursos de emergentes e voltando a aplicar nos Estados Unidos, isso é visto pelo aumento dos títulos norte-americanos e o DXY-desempenho do dólar frente uma cesta de moeda- que está forte”.
Em relação aos balanços corporativos, os resultados das companhias no 1T22 têm sido sólidos. “Quando a gente olha para o micro, os resultados vêm bem forte, reportando lucro e crescimento, observa-se certa inflação dos custos das empresas, mas a maioria conseguindo repassar bem. O que está ditando as negociações é o cenário macro”, enfatizou o analista de investimentos da Finacap.
O dólar comercial fechou em queda de 2,12%, cotado a R$ 4,9640. A moeda perdeu durante toda a sessão, em um movimento de correção potencializado pela rolagem de 20 mil contratos de swap cambial durante a manhã, além da expectativa pela reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês).
Segundo a economista e estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli, “a realização do swap ajudou, mas não será suficiente para os próximos dias. Situação macro continua a mesma”.
Quartaroli espera que o Fed seja mais duro, enquanto o comunicado do Copom seja mais aguardado do que o aumento da Selic em si, que já está precificado em +1,0%.
De acordo com o head de análise macroeconômica da GreenBay Investimentos, “o movimento hoje é de correção, de alívio com o efeito do swap. Pelos fundamentos técnicos, o dólar ainda deve ficar entre R$ 4,70 e R$ 5,00”.
Serrano entende que um Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mais hawkish (duro) deve depreciar as commodities e valorizar ainda mais o dólar e, em segundo plano, a alta da Selic (taxa básica de juros) também deve impactar o mercado na sessão da próxima quinta-feira.
Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “houve um certo questionamento por parte dos operadores do mercado doméstico porque normalmente o Banco Central (BC) atua quando tem alguma ‘disfuncionalidade’ no mercado, quando o real mostra um movimento que destoa do mercado global, o que não foi a situação de ontem”.
Abdelmalack também aponta que desaceleração do DXY (cestas de moedas desenvolvidas) contribui para esta momentânea desvalorização do dólar, com o aumento das expectativas para a decisão do Fomc.
Em sessão volátil, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta nesta terça-feira (3), com o mercado aguardando reunião do Copom. É esperado um aumento de 1,0 ponto percentual na Selic – levando a taxa para 12,75% ao ano, de 11,75% atualmente.
O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,120% de 13,038% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,685%, de 12,680%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,170%, de 12,165% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,005% de 11,985%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam em alta à medida que os investidores tentam já precificar a decisão da reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), em que se espera um aumento de 0,5 pontos percentuais (pp) na taxa de juros.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: +0,20%, 33.128,79 pontos
Nasdaq 100: +0,22%, 12.564 pontos
S&P 500: +0,48%, 4.175,48 pontos