Bolsa fecha em queda, abaixo dos 100 mil pontos, seguindo exterior e às vésperas da decisão do Fed; dólar recua

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São Paulo- A Bolsa fechou em queda e abaixo dos 100 mil pontos, com recuo mais moderado que os índices em Nova York, às vésperas da decisão de política monetária do banco central norte-americano em que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, sigla em inglês) deve aumentar os juros nos Estados Unidos em 0,75 ponto porcentual (pp) para a faixa entre 2,25% e 2,5%. Liquidez reduzida.

Ademais da expectativa com os juros, os investidores digeriram os balanços corporativos com o impacto negativo no setor de varejo lá fora e aqui, após a gigante Walmart sinalizar queda na projeção trimestral e anual. As varejistas no Brasil despencaram. Os dados de vendas de casas novas nos Estados Unidos em junho, que vieram pior que o esperado, também ajudaram no mau humor do mercado.

O principal índice da B3, perdeu 0,49%, aos 99.771,69 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto caiu 0,57%, aos 100.510 pontos. O giro financeiro foi de R$ 16,7 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, disse que o mercado está em compasso de espera para a decisão do Fed de amanhã e “os dados da economia norte-americana -vendas de casas novas caíram 8,1 em junho ante maio-mostrados mais cedo decepcionaram e provocaram a queda ao longo do dia no mercado somado ao setor de varejo e e-commerce que estão sofrendo bastante, após o Walmart divulgar projeção pior”.

Moliterno comentou que os investidores estão de olho nos balanços de amanhã (27) e de quinta-feira (28) como da Petrobras. “O resultado deve ser bom e o mercado espera que algum dividendo seja anunciado”.

Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora disse que a Bolsa está em queda e a sessão de hoje deve ser de muita volatilidade em dia de véspera de decisão do Fed e “o mercado fica sem parâmetro do que vai acontecer. As varejistas estão puxando [para baixo] bem após resultado do Walmart [cortou projeção de lucro trimestral e anual]”.

Velloni comentou que o IPCA-15 gerou um otimismo no início dos negócios e “serve de espelho não só para o Brasil, mas para o mundo. A redução no preço do combustível teve um reflexo não só no transporte, impactou em todas as outras cadeias”.

E completou que IPCA-15 foi favorecido com redução do ICMS, mas também com um patamar diferente do petróleo, chegou a bater US$ 130 [o barril] e está em uma média de US$100. “Isso [a queda na cotação do barril do petróleo] pode desacelerar a inflação norte-americana e mudar a postura do Fed não nessa reunião, mas para a próxima [reunião]. Entender o quanto está desacelerando a economia norte-americana para refletir nos juros, ainda é uma incógnita”.

Mais cedo foi divulgado o Indice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de julho, prévia da inflação, desacelerou e subiu 0,13%. O mercado previa alta de 0,16%, praticamente em linha. Em 12 meses, o índice acumula ganho de 11,39% até julho e a estimativa era de +11,41%.

O dólar comercial fechou em queda de 0,39%, cotado a R$ 5,3510. A moeda oscilou durante boa parte da sessão, mas a alta das commodities no cenário global aumentou o fluxo estrangeiro e favoreceu a moeda brasileira, que fecha em alta pelo segundo dia consecutivo.

Segundo o sócio fundador da Pronto! Invest, Vanei Nagem, “somos a melhor moeda entre os pares. Não é um movimento de correção, mas as commodities aumentaram o fluxo estrangeiro. A bolsa está em linha com o exterior, mas o dólar reflete este fluxo”.

De acordo com o head de tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, “as commodities – tanto as agrícolas quanto as metálicas – estão em alta, puxadas pela China”.

Weigt também acredita que o investimento direto estrangeiro, que foi de US$ 7,5 bilhões em março ante expectativa de US$ 6 bilhões, demonstra que o investidor continua vendo atratividade no mercado brasileiro.

Para a economista e estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli, “o comportamento da nossa moeda deve continuar dependendo da decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) que acontece amanhã, assim como o tom do comunicado do presidente do Fed (Jerome Powell)”.

Quartaroli entende, contudo, que atualmente existem mais fatores que contribuem para a depreciação do real: “As incertezas ainda são grandes, sobretudo no campo político interno”, pondera.

As taxas longas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda. O movimento é explicado pelo ambiente de baixa aversão ao risco, com a China dando sinais de recuperação econômica e de a recessão global ser mais branda que o esperado.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,885% de 13,835% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,780%, de 13,750%, o DI para janeiro de 2025 ia a 13,195%, de 13,185% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 13,115% de 13,125%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercados de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em queda após a Walmart anunciar um corte em sua previsão de ganhos, o que espalhou um pessimismo entre as varejistas norte-americanas, apoiando os temores de uma recessão.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,71%, 31.761,54 pontos
Nasdaq 100: -1,87%, 11.562,6 pontos
S&P 500: -1,15%, 3.921,05 pontos

 

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA