Bolsa fecha em queda acompanhando o exterior e tombo do setor financeiro; dólar sobe

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São Paulo – A Bolsa fechou em queda, com os investidores ainda de olho na formação do novo governo em Brasília e as negociações sobre o orçamento de 2023. O resultado das eleições dos EUA também mostrou uma forte resistência democrata, contrariando as pesquisas que indicavam uma onda republicana, e enfraquecimento de Donald Trump, o que desagradou o mercado.

Na parte da tarde, as quedas acentuaram, parte por conta da quedas nas ações do Bradesco após o banco reportar balanço abaixo das expectativas do mercado além da elevação da estimativa das provisões para o acumulado de 2022, da faixa de R$ 17 bilhões a R$ 21 bilhões, para R$ 25,5 bilhões a R$ 27,5 bilhões, indicando maior inadimplência. As ações BBDC3 e BBDC4 fecharam em baixa de 16,01% e 17,65%. Santander Itaú e Banco do Brasil acompanharam a queda, com perdas de 5,95%, 5,20% e 2,65%, respectivamente.

A queda dos preços dos contratos futuros de petróleo, perto de 3%, completando três sessões consecutivas de perdas, após a divulgação de aumento dos estoques semanais de petróleo nos Estados Unidos indicando demanda mais fraca, também impactou negativamente outros papéis de peso como Vale (VALE3; -1,21%) e Petrobras (PETR3; -1,86% e PETR4; -1,64%).

O principal índice da B3 caiu 2,22%, aos 113.580,09 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro teve baixa de 2,57%, aos 114.785 pontos. O giro financeiro foi de R$ 36 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Agora, o mercado se mantém atento ao índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês), de outubro, que mede a inflação nos EUA, e será divulgado amanhã (10). No mês passado, o índice subiu 0.4% após subir 0,1% em agosto. O CPI é um dos números analisados pelo Federal Reserve (Fed, Banco Central dos Estados Unidos) para decidir a taxa de juros nos EUA.

Rafael Weber, head da RJI Gestão e Investimentos, explica que vários fatores impactam a baixa do índice nesta quinta-feira, com a Bolsa brasileira acompanhando a forte queda dos mercados nos Estados Unidos e petróleo. “O resultado do Bradesco favoreceu, mas o cenário de incerteza e indefinição favorecem os movimentos mais fortes de queda e baixa na Bolsa, que reflete a queda de quase 2% lá fora, 3% do petróleo, somado à ausência de um numero fechado da PEC da Transição, agora está entre R$ 170 e 175 bilhões. Só o petróleo já traz um impacto para a Bolsa, além dos bancos que somam uns 20 bps”, calcula.

Além da forte queda do Bradesco, há baixa de outras blue chips de outros setores que também impacta a Bolsa, como Vale, Petrobras, Hapvida, Ambev, B3 – mas o tombo do setor bancário contribui de forma importante.

“É uma conjunção de fatores, bancos, commodities com a queda do petróleo e o mercado doméstico pegando uma aversão a risco do exterior e a taxa de juros continua a subir com a indefinição em Brasília. No caso da Vale, a influência do petróleo impacta mais do que a piora da Covid na China, por que o governo chinês está avaliando apoioar o setor imobiliário e o minério de ferro tem recuperado o preço. Com isso, o componente de fundamento da Vale está mantido, por isso é mais um reflexo da queda dos outros setores”, avalia Weber.

O movimento no exterior ponde indicar uma antecipação de cautela do mercado com os dados CPI que saem amanhã, que indicam a situação do processo de desaceleração da inflação. “O mercado receoso pode ter retirados suas as apostas da onda vermelha, manteve a cautela com um possível CPI ruim e também realizou lucros, já que, em outubro teve uma forte valorização dos índices norte-americanos”, conclui o head da RJI.

Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT CAPITAL, comenta que em relação ao Bradesco, houve um aumento importante na provisão de devedores duvidosos (PDD). Além disso, o banco revisou para cima seu guidance de provisões em 2022, o que implica em resultados ainda pressionados no 4T22. O cenário de juros altos e risco de inadimplência também colaborou para a forte queda dos papéis.

Do lado positivo, Gerdau está entre as maiores altas do IBOV. A empresa reportou um conjunto sólido de resultado, superando as expectativas das principais casas de análise, mostrando uma grande resiliência. Apesar dos temores de recessão, a empresa continua gerando fluxo de caixa substancial e anunciou um pagamento de dividendos muito maior no trimestre de cerca de R$ 3,6 bilhões. Há pouco, a ação vinha apresentando alta de 4%, na contramão do mercado, que cai quase 2%.

“Amanhã temos a divulgação do IPCA. O último Boletim Focus apontou para uma inflação de 0,42% em outubro. Tivemos um cenário de deflação nos últimos meses por conta das medidas do governo em relação a redução da alíquota do ICMS. Mas isso ficou no passado. Não existe mais uma expectativa de que a gente volte a ter deflação a menos que haja um programa de governo novo que possa mexer com a inflação novamente”, estima Labarthe.

Vitor Carettoni, diretor da mesa de renda variável da Lifetime Investimentos, destaca que a influência externa pesou bastante no movimento de hoje, além do balanço do Bradesco bem abaixo do esperado. “O mercado segue acompanhando o valor da PEC da Transição que deve ficar em torno de R$ 170 bi, que já era esperada. Lá fora, também houve queda de criptomoedas, que estão derretendo por conta de um problema numa corretora, mas o principal impacto foi o resultado da eleição nos EUA, super apertado. Os democratas tem maior propensão aos gastos públicos, enquanto os republicanos são mais pró-mercado, reduzem custos. O resultado desapontou bastante o mercado, mas está indefinido e bastante apertado e ficou para 6 de dezembro.”

O analista também comenta sobre uma caravana de caminhões que estaria indo para Brasília e pode gerar mais ruído após o fim das eleições.

Carlos André, analista-chefe no TC, o resultado do Bradesco veio em linha com o do Santander em relação às maiores provisões e o mercado precificou que os resultados de Itaú e Banco do Brasil também devem seguir pela mesma trilha.

O dólar comercial fechou em alta de 0,66%, cotado a R$ 5,1840. A moeda, que oscilou durante toda a sessão, refletiu as indefinições sobre a formação da equipe econômica de Lula (PT).

Segundo o sócio da Ethimos Investimentos Lucas Brigato “o mercado ainda reflete de forma negativa às indefinições, e em curto prazo nomes que não são aceitos geram uma reação negativa”.

Para o head de tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, “estamos esperando a definição da equipe econômica, se vamos ter uma desenvolvimentista ou uma pessoa mais austera. Se irá manter a coerência fiscal. O mercado será bem volátil em cima destas especulações”.

De acordo com a Ajax Asset, “lá fora, ativos de risco recuam, dólar se fortalece com a modesta alta dos juros dos Treasury Bonds (título do tesouro dos Estados Unidos). Por aqui, front político segue no radar. Investidores seguem no aguardo da divulgação dos nomes do futuro ministério de Lula”.

Em sessão volátil, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam de lado, com tendência de queda, com incertezas fiscais no radar. O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,668% de 13,670% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,050%, de 13,035%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,020%, de 12,000% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,900% de 11,855%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 5,1830 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda – após três sessões consecutivas de ganhos – à medida que a disputa pelo controle do Congresso norte-americano segue indefinida após as eleições de meio de mandato.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,95%, 32.513,94 pontos
Nasdaq 100: -2,46%, 10.353,2 pontos
S&P 500: -2,07%, 3.748,57 pontos

Com Paulo Holland / Pedro do Val de Carvalho Gil / Darlan de Azevedo / Agência CMA.