Bolsa fecha em queda, após novas falas de Trump sobre tarifas, payroll e balanços; na semana, cai 1,20%

148

São Paulo, 7 de fevereiro de 2025 – O Ibovespa acentuou as perdas no final do pregão desta sexta-feira e fechou em queda. Os destaques de parte do pregão foram a divulgação do relatório de empregos (payroll) de janeiro nos Estados Unidos e o resultado do Bradesco, o terceiro balanço de peso do setor financeiro brasileiro, divulgado antes da abertura do pregão. Mas o movimento negativo se acentuou durante a tarde, após novas declarações do presidente dos Estados Unidos de que vai anunciar tarifas contra diversos países na próxima semana, e uma entrevista do ministro do Desenvolvimento, Wellington Dias, de que o governo avalia aumentar o valor pago no programa de transferência de renda Bolsa Família aos beneficiários.

Os investidores também acompanharam declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que concedeu entrevista a uma rádio nesta manhã. Em entrevista a uma rádio pernambucana, Haddad disse que a acomodação do dólar, a entrada da safra recorde a partir de março e o final do ciclo do boi gordo vão garantir a normalização dos preços dos alimentos no médio prazo. Segundo o ministro, a eleição de Trump fez com que o dólar subisse no mundo inteiro e agora a moeda está perdendo força.

O principal índice da B3 caiu 1,27%, aos 124.619,40 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro recuou 0,95%, aos 124.925 pontos. O giro financeiro foi de R$ 16,3 bilhões. Na semana, o índice caiu 1,20%. Em Nova York, os índices de ações fecharam em queda.

As ações da Vale (VALE3) caíram 0,54% e as da Petrobras (PETR3; PETR4) tiveram baixas de 0,67% e 0,57%, respectivamente. Após balanços, as ações do Bradesco (BBDC3; BBDC4) recuaram 3,11% e 3,92%; Multiplan caiu 0,85% e CCR caiu 2,67%.

Os bancos Santander Brasil (SANB11) e Itaú Unibanco (ITUB4), que também divulgaram resultados nesta semana, fecharam negativos em 2,18% e 0,73%, respectivamente.

Matheus Lima, analista de investimentos e sócio da Top Gain, os destaques da semana entre os papéis do Ibovespa foram as valorizações de Cogna e Embraer. Na sua avaliação, os resultados dos bancos (Santander, Itaú e Bradesco) acabaram decepcionando na variação das ações. “A grande surpresa foi o lucro de Santander, que veio bem acima do esperado, bem acima do anterior. E o mercado reagiu positivamente no dia, mas Santander, no momento e na semana, está subindo um pouco mais de 1,5%. Então acabou diluindo um pouco o que o mercado esperava positivamente para a semana. E os demais bancos, Bradesco, inclusive, fecha a semana no negativo. Realmente, não foi o ânimo positivo que a gente esperava de acordo com os números que estavam vindo.”

Para a próxima semana, Lima destaca que, além da divulgação do IPCA, o mercado continua atento à temporada de divulgação de balanços do quarto trimestre de 2024, especialmente em Usiminas, BTG Pactual e TIM. “Teremos mais uma semana de divulgação de balanços e acredito que esse vai continuar sendo o principal foco para a semana nos mercados de ações. Isso vai ser extremamente relevante para trazer volatilidade ao mercado.”

Segundo o analista da Top Gain, o IPCA é o principal dado de inflação do Brasil e está sendo o principal balizador das preocupações do Banco Central para o aumento acelerado da taxa de juros. “Então, dependendo de como o IPCA vier, talvez a gente tenha não somente pronunciamentos do presidente do Banco Central, como também falas que podem agitar muito o mercado do próprio presidente questionando taxa de juros tão alta e obviamente isso que mexe o mercado, isso traz muita volatilidade. Então a divulgação do IPCA com certeza vai mexer muito.”

No âmbito internacional, Lima ressalta que os investidores devem continuar de olho nos pronunciamentos dos membros do Fed (o banco central norte-americano), inclusive do presidente do órgão, Jerome Powell, na quarta-feira (12) perante o Congresso. Será o primeiro sob o comando de Donald Trump e uma maioria republicana nas duas casas. Há expectativa de que Powell fale sobre a manutenção dos juros e as previsões do Fed para os próximos meses. “Tudo o que ele fala mexe com os mercados no mundo inteiro. Então, com certeza, essas falas podem trazer de volatilidade e oportunidade para o mercado financeiro”, comentou.

Sidney Lima, Analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, pontua que os dados do Payroll sugerem uma postura mais restritiva por parte do Fed, mesmo que os números sejam mais modestos. “O crescimento salarial acima do esperado, a leve redução no desemprego e a aceleração na criação de empregos evidenciam que o mercado de trabalho americano permanece tensionado. Com uma atividade econômica resiliente e os riscos inflacionários, sobretudo no contexto das políticas de Trump, o Fed deverá manter uma vigilância constante. No curto prazo, as chances de novos cortes nos juros parecem praticamente inexistentes”, comentou.

Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, no que diz respeito aos salários, o aumento reportado pelos dados do Departamento do Trabalho dos EUA é relevante. “Há um ano, a remuneração por hora era de US$ 34,47, enquanto agora é de US$ 35,87. Isso representa um ganho semanal de US$ 1.223,17, o que pode impulsionar o consumo, mas também gerar pressão inflacionária. Como destacou o presidente do Fed de Boston, as tarifas impostas pelo governo terão um papel crucial nesse cenário. Somente as tarifas de 25% sobre o Canadá e o México, e de 10% sobre a China, podem adicionar entre 0,5 e 0,8 ponto percentual à inflação, eliminando qualquer possibilidade de corte de juros pelo Fed este ano. Além disso, novas tarifas para a Europa e outras regiões podem intensificar ainda mais a pressão inflacionária, afastando o país da meta de 2%”, destaca o analista.

O dólar fechou em alta de 0,47%, cotado a R$ 5,7916. A moeda refletiu, especialmente na segunda parte da sessão, os dados do payroll, divulgados nesta manhã. Na semana, a divisa estadunidense teve retração de 0,75%.

Foram criadas, em janeiro, 143 mil vagas, abaixo das expectativas (169 mil). Já o salário médio por hora trabalhada foi a US$ 35,87, uma alta de 0,5% na comparação com o mês imediatamente anterior. A criação de vagas em dezembro foi revisada de 256 mil para 307 mil.

Para o analista da Potenza Capital Bruno Komura, os números do payroll mostram que o mercado de trabalho estadunidense segue aquecido, o que neste momento gera certa cautela no mercado.

Para o sócio da Top Gain Leonardo Santana, os dados do payroll foram mistos, culminando em baixa volatilidade no mercado: “As atenções agora estão voltadas para as inflações do Brasil e Estados Unidos, na próxima semana”, projeta.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em alta. O driver de hoje foi o payroll, divulgado no começo da sessão.

Por volta das 16h55 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 15,010% de 14,935% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 15,155%, de 15,015%, o DI para janeiro de 2028 ia a 14,945%, de 14,780%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 14,830% de 14,700% na mesma comparação. O dólar opera em alta, cotado a R$ 5,7936 para venda.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda, encerrando a semana em baixa, com os investidores preocupados com uma combinação de notícias relacionadas a tarifas e inflação.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,99%, 44.303,40 pontos
Nasdaq 100: -1,36%, 19.523,0 pontos
S&P 500: -0,94%, 6.025,99 pontos

Confira abaixo a variação dos índices na semana:

Dow Jones: -0,54%
Nasdaq 100: -0,53%
S&P 500: -0,24%

Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Safras News

Copyright 2025 – Grupo CMA