Bolsa fecha em queda, após payroll turbinado afastar chance de início da queda de juros nos EUA

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São Paulo – O Ibovespa fechou o pregão desta sexta-feira em queda, refletindo a volta da aversão ao risco e a fuga dos capitais para o dólar e para os títulos do tesouro americano. Após abrir em leve alta, a bolsa inverteu o sinal e passou a cair depois da divulgação dos dados de emprego nos Estados Unidos, o payroll. O país criou 353 mil vagas, ante previsão de 180 mil vagas. A taxa de desemprego se manteve em 3,7%, o mesmo registrado em dezembro, abaixo dos 3,8% projetados. O movimento se intensificou e o índice passou a cair mais, voltando ao patamar dos 127 mil pontos.

Por aqui, em agenda sem destaques, o dado de produção industrial divulgado na manhã de hoje no Brasil, mostrou um aumento de 1,1% ante previsão de 0,3%, surpreendeu a expectativa de alguns analistas. Na próxima semana, o local deve voltar à cena, com o retorno do Congresso e os resultados trimestrais das companhias domésticas.

O principal índice da B3 encerrou a sessão em baixa de 1,01%, aos 127.182,25 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro recuou 0,95%, aos 127.580 pontos. O volume financeiro do mercado foi de aproximadamente R$ 18 bilhões. Na semana, o índice recuou 1,38%. Em Nova Iorque, as bolsas fecharam em alta.

Entre as ações mais negociadas, Vale (VALE3:-2,03%), Petrobras (PETR3:-1,46%;PETR4:-1,29%) e bancos majoritariamente em queda – Itaú (ITUB4:+0,15%) e Bradesco PN (BBDC4:-0,13%) fecharam em leve alta -, favorecendo a baixa do índice.

Stefany Oliveira, analista da Toro Investimentos, destaca que a divulgação do payroll fez a Bolsa brasileira cair, o dólar subir e os títulos do Tesouro norte-americano de 10 anos subirem, após a constatação de que o início dos cortes dos juros nos Estados Unidos não deve acontecer tão cedo. “A ação da Vale cai acompanhando a queda do minério de ferro”, acrescenta.

Para Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos, o mercado começou a se posicionar considerando um cenário de queda dos juros nos Estados Unidos cada vez mais distante. “A divulgação do payroll reforça a ideia de que vamos começar a ver um corte de juros, talvez, apenas no final do primeiro semestre ou até mesmo que os juros continuem elevados até o final do ano. O que é ruim para os mercados, que esperavam uma redução dos juros. Com isso, quase todos os papéis caem na Bolsa hoje. Principalmente o investidor estrangeiro tira o capital da Bolsa e busca investimentos mais seguros, como o dólar, que é uma fuga pro seguro, e para os títulos americanos.”

Agora, ele avalia que será preciso continuar a acompanhar os dados, não só de geração de emprego, também o nível de crescimento do PIB e de atividade da indústria, que ajudarão entender qual será a dinâmica desse primeiro trimestre, se será de fato de geração econômica, para avaliar os impactos na inflação e nas decisões de política monetária.

Outros dados que influenciaram as bolsas norte-americanas foram os resultados de Amazon e Meta, que saíram ontem (1). “As ações das duas empresas tinha forte alta no pré-market. A Meta registrou crescimento de 25% na receita do trimestre finalizado em dezembro e a Meta anunciou seu primeiro dividendo”, comentou Alan Soares, analista de investimentos da Toro Investimentos.

Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas, ressalta que o mercado de trabalho nos Estados Unidos tem se mostrado muito mais resiliente do que as expectativas do mercado e é um indicador importante para acompanhar após as sinalizações do Fed na última quarta-feira. “O Fed tentou sinalizar uma certa distância em relação ao início do ciclo de cortes no mês de março e a indicação de querer observar mais dados econômicos nos próximos meses antes de ter mais clareza em relação ao timing correto para o início do afrouxamento monetário nos Estados Unidos. Então, o dado do payroll acaba sendo o mais relevante depois disso”, comenta.

O economista também observava que, no local, o cenário um pouco mais tranquilo devido ao noticiário mais esvaziado e com poucas movimentações políticas, os ativos brasileiros ficaram mais dependentes do cenário internacional e respondem às movimentações lá de fora.

A especialista em mercado de capitais e sócia da Matriz Capital, Daniely Holanda, destaca que, com a elevação da recomendação do banco Goldman Sachs para as ações da Gerdau (GGBR4:+2,38%) de neutro para compra, impulsionou as ações da companhia e da Gerdau Metalúrgica (GOAU4:+1,52%), que terminaram a sessão entre as maiores altas. “O banco BTG Pactual também elevou a recomendação para compra a ação da Azul (AZUL4:+3,62%), pois acredita numa menor concorrência no mercado interno devido ao pedido de reestruturação da Gol”, comenta. A maior alta do dia foi do Banco Pan (BPAN4:+4,10%), seguida por Azul, Gerdau e Gerdau Metalúrgica e Carrefour (CRFB3:+1,39%)

Já entre as maiores quedas da bolsa de hoje, a ação da Cogna (COGN3:-6,94%) recuou com outras de setores sensíveis aos dados de juros, e por rebaixamento de recomendação para venda para os papéis da companhia pelo BTG Pactual. Outros destaques de queda foram Casas Bahia, Petroreconcavo, Magazine Luiza e Locaweb.

O dólar comercial fechou em alta de 1,06%, cotado a R$ 4,9676. A moeda refletiu, ao longo do dia, os resultados do payroll ,muito acima das projeções. Na semana, a moeda teve valorização de 1,16%.

Foram criadas, no primeiro mês do ano, 353 mil vagas ante projeções de 180 mil, enquanto o salário médio por hora subiu 0,6%, acima das projeções de +0,3%.

Os dados de dezembro foram revisados de 216mil vagas criadas para 333 mil, o que contribui ainda mais para a piora do humor.

Segundo o head de Tesouraria da Travelex Bank, Marcos Weigt, o resultado de hoje foi “impressionante”. “Mas isso é temporário, até o mercado acalmar. Passado isso, o real tende voltar a subir”, avalia Weigt.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “o resultado de hoje demonstra uma economia muito resiliente, forte. Chama a atenção a esticada que teve em salários, o que invalida o discurso sobre inflação do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano)”.

Borsoi diz que os resultados o levam a acreditar que o início dos cortes será em junho, e não mais em maio: “Talvez comece até mesmo no segundo semestre”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em alta. Os DI abriram em queda, mas passam a subir depois do payroll, divulgado há pouco, que veio bem acima das projeções do mercado.

Por volta das 16h25 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,975% de 9,930% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 9,700% de 9,610%, o DI para janeiro de 2027 ia a 9,865%, de 9,750%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 10,130% de 10,010% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar comercial operava em alta, cotado a R$ 4.9663 para a venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão desta sexta-feira em alta, impulsionados por perspectivas robustas de lucros. O otimismo em relação à economia norte-americana foi reforçado, apesar da postura menos inclinada do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) para cortar as taxas de juros em um futuro próximo.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,35%, 38.654,42 pontos
Nasdaq 100: +1,74%, 15.629,0 pontos
S&P 500: +1,06%, 4.958,61 pontos

Confira a variação dos índices na semana:

Dow Jones: +1,43%; Nasdaq 100: +1,12%; S&P 500: +1,38%

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Larissa Bernardes / Agência CMA

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