São Paulo- A Bolsa fechou em queda na última sessão antes das eleições, oposto ao exterior, com os investidores cautelosos com o resultado do pleito no domingo (30) e puxada pelas commodities, principalmente Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3 PETR4). Na semana, o índice acumulou perda de 4,49%.
A Vale (VALE3) caiu 4,87%, cotada a R$ 67,45 refletindo o balanço decepcionante e acabou impactando as ações do setor de siderurgia e mineração, tendo em conta também a queda do minério de ferro.
Já a Petrobras (PETR3 e PETR4) caiu 1,51% e 1,18%, a R$ 35,78 e R$ 32,57 com impacto das eleições e desvalorização do petróleo no mercado internacional.
Os papéis do setor de educação e varejistas avançaram e foram mais um pregão beneficiados com a aposta de um eventual governo petista. Cogna (CGN3) subiu 5,29%, a R$ 3,18 e ficou entre as maiores altas do índice.
O principal índice da B3 caía 0,08%, aos 114.539,05 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro subiu 0,92%, aos 116.685 pontos. O giro financeiro foi de R$ 28 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.
Edmar de Oliveira, operador de mesa de renda variável da One Investimentos, disse que a liquidez está baixa com os investidores mais cautelosos por conta do fator eleições e empresas de mineração e siderurgia estão pesando muito sobre a performance por balanços mais fracos.
“A Vale é uma empresa que paga dividendos, mas teve uma geração de caixa um pouco menor, aumento de custos e isso tudo atrapalhou o resultado final e obviamente deixa um recado mais receoso no curto prazo”.
Além disso, as eleições estão tomando conta do mercado. “É um cenário muito binário, os investidores estão preferindo ficar de fora, observando, evitando de se posicionar no mercado à vista e estão eventualmente se posicionando no mercado de opções”, disse.
Oliveira explicou que, por exemplo, se o investidor compra na expectativa de uma vitória do presidente Jair Bolsonaro, “pode se decepcionar bastante porque o prêmio, ou seja, onde se tem o maior potencial de ganho está nas estatais e se o cenário não se concretiza o risco da queda desses ativos é bastante elevado”.
Matheus Spiess, analista da Empiricus, disse que hoje se observa na Bolsa um receio da vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com “a Petrobras e Banco do Brasil caindo até que seja formalizado algo mais palpável ao eventual governo do ex-presidente; ontem a carta apresentada por ele deu um ânimo, mas logo frustrou os investidores porque trouxe um compromisso frágil com o fiscal e ele não apresentou e não vai divulgar o nome para a economia”.
Spiess apontou outros vetores negativos no pregão desta manhã. “Os resultados de mineração e siderurgia, Usiminas e Vale, abaixo do esperado, puxam pra baixo o Ibovespa”.
Spiess disse que o Ibovespa é positivo no mês ainda por causa da primeira semana de outubro, após a eleição do Congresso conservador.
O dólar comercial fechou estável, cotado a R$ 5,3020. Na última sessão antes das eleições presidenciais do próximo domingo, a moeda teve bastante oscilação, e chegou a subir mais de 1%, porém foi perdendo força no período da tarde. Na semana, o dólar teve valorização de 2,99%.
Segundo a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “o mercado está demonstrando um comportamento razoável para a véspera de uma eleição acirrada”.
“Uma vitória do Bolsonaro (PL) seria mais do mesmo, e com Lula (PT) teria o fator da dúvida. O mercado não reage bem a incertezas”, analisa Abdelmalack.
De acordo com o sócio da Ethimos Investimentos Lucas Brigato, “o movimento global é de dólar acima da média, especialmente pela fragilidade na Europa”.
Brigato explica que o dólar permanece na faixa entre R$ 5,15 e 5,40 desde agosto, e acredita que a participação do ex-presidente do Banco Central (BC) e ministro da Economia, Henrique Meirelles, na campanha de Lula é um atenuante: “Mantém dólar e bolsa bem controlados. Uma contestação dos resultados, porém, ainda não foi precificada pelo mercado”, opina.
Para o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, “este movimento é muito condizente com o investidor buscando proteção no dólar. Ainda existe alguma incerteza em relação à equipe economia do Lula, o que deve diminuir à medida que ele anunciar os nomes, ao longo das próximas semanas”.
Komura entende que a carta de Lula ao mercado, divulgada ontem, que poderia indicar medidas fiscais mais austeras, apontou para gastos altos e subsídios, o que não foi visto com bons olhos no mercado.
“O mercado lá fora, na média, teve uma semana mais otimista. Parece que a política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) está surtindo efeito. Existe expectativa para uma postura menos hawkish (dura, propensa ao aumento dos juros) na reunião de dezembro. A pressão inflacionária, contudo, não diminuiu. Acreditamos que o mercado está otimista demais, não teve uma mudança significativa”, contextualiza Komura.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda nesta sexta-feira (28), após deflação registrada pelo IGP-M.
O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,680% de 13,672% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,965%, de 12,960%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,820%, de 11,835% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,650% de 11,665%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em alta, com Dow Jones, Nasdaq e S&P subindo mais de 2%, após alguns indicadores econômicos indicarem a desaceleração da inflação e o consumo estável. Os dados ofuscam uma série de balanços corporativos mistos na semana.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: +2,59%, 32.861,80 pontos
Nasdaq 100: +2,87%, 11.102,5 pontos
S&P 500: +2,46%, 3.901,06 pontos
Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA