Bolsa fecha em queda, com ajustes de expectativas sobre corte de juros após PMIs; dólar cai

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São Paulo – Após abrir o pregão em alta, que acompanhava o bom humor global com o forte resultado da Netflix e o anúncio de novos estímulos pelo Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês), o Ibovespa passou a operar volátil e encerrou em baixa, após a divulgação dos dados de atividade nos Estados Unidos bem acima das projeções. O dia também teve a divulgação de índices de gerente de compras (PMIs, da sigla em inglês) do Reino Unido, Eurozona, Alemanha e Japão.

Os PMIs de produção combinada para as principais economias avançadas geralmente subiram em janeiro, indicando que a atividade econômica se recuperou no início deste ano. Os primeiros números de janeiro indicam que os preços ainda causam uma certa pressão sobre o desempenho das economias. “E com as pressões de preços ainda fortes, os bancos centrais provavelmente continuarão a resistir às expectativas de cortes nas taxas no curto prazo”, afirma Ariane Curtis, economista global da Capital Economics.

Nos Estados Unidos, os PMIs mostraram uma economia bem aquecida e acenderam o alerta em relação à perspectiva de corte de juros nas próximas reuniões do membros do Federal Reserve (Fed, o banco central de lá). O PMI da atividade industrial subiu para 50,3 pontos em janeiro, de 47,9 em dezembro. Analistas esperavam que o indicador ficasse em 47,2 pontos. O índice sobre a atividade do setor de serviços subiu para 52,9 pontos em janeiro, de 51,4 em dezembro, de acordo com dados preliminares do S&P Global. A previsão era de 51,2 pontos.

Por outro lado, as ações de mineração e siderúrgica surfaram na onda da notícia de corte do compulsório dos bancos pelo PBoC, medida que deve injetar 1 trilhão de yuans (US$ 139 bilhões) no mercado. A ação da Vale, que tem forte peso no Ibovespa, manteve o movimento de alta, que reduziu no fim do pregão após notícias de que o presidente Lula segue fazendo pressão para colocar Guido Mantega na presidência da mineradora. A ação VALE3 fechou em alta de 1%, a R$ 69,90.

Sem novidades em relação às negociações entre governo e Congresso para evitar a derrubada de vetos ao Orçamento e sobre a desoneração da folha de pagamento, o impactos ao cenário fiscal ficaram em compasso de espera.

No petróleo, os preços dos contratos futuros do petróleo subiram cerca de 1% nesta quarta-feira, depois que a produção doméstica caiu substancialmente na sequência das severas tempestades de inverno deste mês. A produção nos Estados Unidos caiu cerca de 1 milhão de barris por dia, para 12,3 milhões de bpd no total na semana encerrada em 19 de janeiro, de acordo com a Agência de Informação de Energia. Os estoques comerciais de petróleo bruto nos Estados Unidos caíram 9,2 milhões de barris durante o mesmo período.

As ações da Petrobras (PETR3;PETR4) fecharam em queda de 0,93% e 0,75%, a R$ 39,24 e R$ 37,88.

O principal índice da B3 caiu 0,34%, aos 127.815,70 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro recuou 0,56%, aos 128.300 pontos. O giro financeiro foi de R$ 15,7 bilhões. Em NY, as bolsas fecharam mistas.

Para Dierson Richetti, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, “a movimentação de hoje se deve tanto pela subida que se deu ontem, puxada muito pelo mercado americano, que vem batendo recordes de topos históricos, bem como por uma melhor aceitação das questões do valor que será dedicado para o novo projeto do governo via BNDES. Então, digamos que o mercado surfou um pouco nesses movimentos, e isso se refletiu no dia de hoje.”

Na sua avaliação o mercado ficou muito dependente do PMI americano, que veio acima do esperado e continuou animando os mercados lá e, consequentemente, aqui também houve um descolamento frente ao cenário externo. “A bolsa brasileira hoje abriu já com uma alta. Porém, no decorrer do dia, principalmente depois dos resultados do PMI dos Estados Unidos, acabou desacelerando e passando a cair”, explica.

Em relação às ações, Vale, Usiminas, CSN e CSN Mineração foram os destaques de alta, acompanhando o minério de ferro, que subiu. “Os setores subiram também em virtude do alívio em relação a possíveis novos incentivos na China para a construção, para a infraestrutura da China, e isso sempre privilegia as empresas siderúrgicas.”

“A Marfrig sobe também porque o Brasil vai poder exportar bovinos vivos para o Paquistão e isso favorece a empresa. E a MRV é uma empresa que oscila bastante, não tem nenhum ponto principal para a subida dela hoje”, acrescenta.

Entre as quedas, o sócio da GT destaca a de IRB Brasil, que avalia como uma realização de mercado. “Ontem ela disparou quase 10%, então hoje é uma realização normal. Já Pão de Açúcar também cai após ter anunciado a conclusão da venda de fatia da empresa com o grupo Éxito.”

Gabriela Sporch, analista da Toro Investimentos, afirma que o principal fator que explica a volatilidade do pregão de hoje foi a divulgação da prévia do PMI dos Estados Unidos, que surpreendeu bastante o mercado. “Era esperado que o PMI industrial se mantivesse em 47,9 pontos e ele veio em 50,3, entrando na faixa de expansão. Em serviços, era esperada uma queda, de 51,4 para 51, mas ele acelerou e fechou em 52,9.”

Segundo a analista, o setor de serviços corresponde a 70% do PIB norte-americano e sua atividade ainda está bem aquecida pode indicar que o banco central dos Estados Unidos não corte a taxa de juros em março.

“A divulgação do desempenho do último trimestre da economia americana também pode gerar bastante volatilidade no pregão de amanhã”, finaliza.

O dólar comercial fechou em queda de 0,43%, cotado a R$ 4,9320. A moeda refletiu, ao longo da sessão, a empolgação do mercado com o pacote de incentivos anunciado pelo governo chinês.

“O Banco Central chinês anunciou que irá reduzir suas taxas de compulsório em 50 bps (de 10,5% para 10,0%), válido a partir de 5 de fevereiro, em mais uma tentativa de impulsionar o crescimento do país. A medida traz cerca de 1 trilhão de yuans (US$ 141 bilhões) na economia chinesa. O órgão também decidiu cortar suas taxas de reempréstimo e de redesconto em 25 bps, e novas políticas sobre empréstimos para ajudar a indústria imobiliária deverá ser anunciado nos próximos dias”, explicou a Ajax Asset.

Segundo o head de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, a alta de commodities como o minério, soja, milho e petróleo, impulsionadas pelas notícias vindas da China, valorizam o real, que apesar dos ruídos fiscais no começo permanece com tendência altista.

Weigt reforça que a divisa estadunidense também cai ante o DXY (cesta de moedas desenvolvidas).

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) também fecharam em queda, descoladas do movimento dos Treasures (títulos Tesouro norte-americano), que operavam em alta.

Por volta das 16h40 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,065% de 10,085% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 9,755% de 9,790%, o DI para janeiro de 2027 ia a 9,925%, de 9,970%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 10,180% de 10,230% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar comercial operava em queda, cotado a R$ 4.9310 para a venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos perderam um pouco de fôlego perto do fechamento da sessão mas ainda fecharam mistos, com as ações de tecnologia liderando os ganhos do dia com os traders ainda digerindo o balanço da Netflix.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,26%, 37.806,39 pontos
Nasdaq 100: +0,36%, 15.481,9 pontos
S&P 500: +0,08%, 4.868,55 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA

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