Bolsa fecha em queda, com fiscal indefinido e decepção com China; dólar sobe

78

São Paulo, 8 de novembro de 2024 – A Bolsa fechou o último pregão da semana em baixa, pressionada por indefinições no cenário fiscal brasileiro. Os operadores do mercado financeiro aguardavam o anúncio de medidas de corte de gastos pelo governo federal desde segunda-feira, quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cancelou uma viagem internacional para tratar das medidas, o que não ocorreu até o fechamento dos mercados desta sexta-feira. Uma nova reunião foi marcada pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva com nove ministros nesta sexta-feira, após uma série de reuniões ao longo da semana, e rumores de um pacote de cortes menor que o esperado, além de expectativa de desidratação após reclamações de ministros.

A aversão aos investimentos de risco que marcou a sessão de hoje começou com a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro acima das expectativas e acima do limite da meta para o ano, e foi intensificada pela falta de medidas de corte de gastos públicos até o final do dia.

O movimento também reflete a forte queda das ações ligadas às commodities metálicas, após queda do minério de ferro com anúncios decepcionantes na China. A ação da Vale, que tem forte peso na Bolsa brasileira, caiu 4,60%, assim como outras ações ligadas a commodities metálicas, como CSN (CSNA3 -4,39%), CSN Mineração (CMIN3 -5,49%) e Usiminas (USIM5 -6,01%).

Outro destaque negativo foram os papéis do setor financeiro, que caíram em bloco.

Nem a valorização das ações da Petrobras elevou o índice, após a divulgação de lucro de R$ 32,6 bilhões no terceiro trimestre de 2024, após prejuízo de R$ 2,6 bilhões no intervalo anterior e alta de 22,3% na comparação anual. A petrolífera também anunciou distribuição de dividendos de R$ 17,12 bilhões, a serem pagos aos acionistas em duas parcelas, em fevereiro e março do ano que vem. As ações PETR3 e PETR4 fecharam em alta de 1,82% e 1,88%, a R$ 39,08 e R$ 36,18, respectivamente.

O principal índice da B3 fechou em queda de 1,42%, aos 127.829,80 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro recuou 1,49%, aos 128.945 pontos. O giro financeiro foi de R$ 22,5 bilhões. Na semana, o índice recuou 0,23%. Em Nova York, os futuros fecharam em alta.

Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, afirma que “hoje o Ibovespa recua fortemente, refletindo tanto questões externas quanto internas. Externamente, a China decepcionou ao anunciar um pacote de estímulos que ficou aquém das expectativas do mercado, impactando as empresas de commodities brasileiras, especialmente a Vale, cujo desempenho depende bastante do apetite chinês por minério de ferro.

Segundo o analista, o fraco estímulo chinês gerou uma queda nas commodities metálicas, que pressionam o Ibovespa para baixo. “Vale cai também com perda de R$ 17 bilhões em valor de mercado, devido à decepção do mercado com o pacote de estímulo econômico da China, que afetou as commodities e gerou desvalorização de ações do setor. Outras quedas são de Usiminas e CSN, que também sofreram quedas significativas. Assim como a Vale, essas empresas foram impactadas negativamente pela falta de estímulo suficiente da China para o mercado de commodities.”

“Internamente, na minha visão, a inflação medida pelo IPCA acima das expectativas trouxe um cenário de incerteza em relação à política de juros. Fica claro que esse resultado alimenta a possibilidade de que o Banco Central mantenha a Selic elevada por um período prolongado, o que pressiona os juros futuros e gera aversão ao risco entre investidores, tornando o ambiente doméstico ainda mais desafiador.”

“Além disso, a falta de clareza sobre o pacote de corte de gastos do governo brasileiro aumenta o desconforto fiscal, provocando mais incertezas sobre a saúde financeira do país e afastando investidores estrangeiros.”

O analista também comenta o movimento de outras ações no final do pregão: “Entre as altas, temos Embraer, que apresentou lucro sete vezes maior que o ano anterior, o que gerou forte valorização de 7,75% e fez a ação liderar os ganhos do Ibovespa. A empresa acumula alta de 140% em 2024, com o valor de mercado chegando a R$ 39,9 bilhões.

Magazine Luiza também sobe após reportar lucro de R$ 102,4 milhões no terceiro trimestre, revertendo o prejuízo de R$ 498,3 milhões do mesmo período de 2023. A estratégia de focar na lucratividade agradou o mercado, elevando suas ações em 1,28%.

Outra alta é de Natura, que teve prejuízo de R$ 6,693 bilhões no terceiro trimestre, em grande parte devido ao efeito não-caixa da recuperação judicial da Avon. Apesar disso, o resultado superou as projeções de mercado, fazendo com que as ações subissem 0,42%.

Entre as quedas, temos Lojas Renner, que apresentou lucro líquido de R$ 255,3 milhões no terceiro trimestre, 47,7% superior ao ano passado e acima do esperado. Contudo, a falta de perspectivas otimistas na teleconferência e a exclusão do índice MSCI desanimaram o mercado, resultando em queda de 5,42%.”

O dólar comercial fechou em alta de 1,05%, cotado a R$ 5,7355. A moeda refletiu, ao longo da sessão, as incertezas que envolvem o pacote fiscal ser anunciado pelo governo. Na semana, a moeda teve desvalorização de 2,29%

De acordo com o sócio da Pronto! Invest Vanei Nagem, o pacote chinês “foi muito mal visto”, tendo efeito no ajuste de posições do que propriamente de injeção de capital no mercado. Isso, pontua, enfraqueceu as commodities e as moedas ligadas a elas.

“Mais cedo, o governo chinês anunciou que aumentará o teto de dívida dos governos locais para 35,52 trilhões de yuans, com isso será possível implementar um programa de refinanciamento de dívida de governos locais no valor de 10 trilhões de yuans (USD 1,4 trilhão). Estes entes governamentais poderão resgatar suas dívidas que não estão contabilizadas em seus balanços e que somam 14 trilhões de yuans, ao longo dos próximos anos. Assim, Governo estima uma economia de cerca de 600 bilhões de yuans em pagamentos de juros ao longo de cinco anos. Estes recursos servirão para impulsionar investimentos dos governos locais. Esta proposta de solução destas dívidas faz parte das ações na área fiscal que o governo prometeu implementar para estimular a economia. O Governo prometeu também anunciar novas medidas de estímulo fiscal em breve”, contextualiza a Ajax Asset.

Além disso, Nagem observa que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem tido dificuldade para conclusão do pacote de ajustes fiscais e, percebendo isso, o investidor se protege na divisa estadunidense.

Segundo a economista da Valor Investimentos Paloma Lopes, caso o pacote de ajustes seja menor do que o esperado pelo mercado, “vai frustrar muito”.

Para o economista-chefe da Ativa Research, Étore Sanchez, “está difícil anunciar o pacote de corte de gastos. A briga interna no PT está vindo a público, e ninguém quer abrir mão de um quinhão de seu ministério. Lula segue adiando as reuniões, tentando evitar apontar de onde os recursos irão sair.

“Contudo, o ‘maçarico’ do mercado está ligado e pode voltar a esquentar Brasília, que ainda não assimilou a urgência dos cortes de gastos. Hoje, Lula voltará a se encontrar com membros do Executivo para tentar concluir o pacote, mas já há quem diga que o anúncio deverá ficar apenas para a semana que vem”, complementa Sanchez.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em alta. Isso porque o mercado espera que o corte de gastos que está para ser anunciado pelo governo fedeal seja bem menor que o esperado pelo mercado. Além disso, a eleição de Donald Trump deve impactar na valorização do dólar, além de deteriorar ainda mais o fiscal estadunidense.

Por volta das 16h50 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 11,398% de 11,394% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 13,050%, de 13,005%, o DI para janeiro de 2027 ia a 13,095%, de 13,040%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 13,010% de 12,915% na mesma comparação. O dólar opera em alta, cotado a R$ 5,7355 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em alta, encerrando a melhor semana do ano, em meio a um rali do mercado impulsionado pela vitória de Donald Trump na Casa Branca, seguido pelo mais recente corte de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,59%, 43.988,99 pontos
Nasdaq 100: +0,09%, 19.286,8 pontos
S&P 500: +0,37%, 5.995,54 pontos

Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo (Safras News)

Copyright 2024 – Grupo CMA