Bolsa fecha em queda com preocupação com inflação nos EUA, na semana acumula perda de 3,70%; dólar sobe

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São Paulo- A Bolsa fechou o pregão desta sexta-feira em queda de 1,94% acompanhando o movimento no exterior com a expectativa de uma inflação mais alta e de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) deva seguir com a perspectiva de aperto monetário em um cenário de possível recessão global. Na semana acumula perda de 3,70%.

O petróleo caiu forte impactando as ações ligadas à commodity como Petrobras (PETR3 e PETR4), 3RRPetroleum e Petrorio (PRIO3), que perderam respectivamente 1,95% e 1,53%; 5,78% e 2,23%.

Os papéis da Vale (VALE3), de maior peso no índice, também tiveram forte queda de 3,25% em meio às medidas de restrições sanitárias na China.

Essa semana, nos Estados Unidos, os dois dados de inflação apontaram que os preços seguem altos. Na quarta-feira, o índice de preços ao produtor de setembro (PPI, sigla em inglês) subiu 0,4% na comparação mensal e 8,5% em base anual.

Na véspera, o índice de preços ao consumidor de setembro (CPI, sigla em inglês) veio pior que o esperado-subiu 0,4% na comparação mensal e avançou 8,2% em base anual. E o núcleo subiu 6,6% no período.

O principal índice da B3 caiu 1,94%, aos 112.072,34 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro perdeu 1,64%, aos 114.055 pontos. O giro financeiro foi de R$ 25 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em queda.

Milena Araújo, especialista em renda variável da Nexgen Capital, disse que a Bolsa acompanha o mercado dos Estados Unidos.

“Essa queda podemos associar aos dados de inflação que saíram essa semana, que vieram acima das expectativas pressionando o banco central norte-americano a continuar elevando as taxas de juros e um posicionando do FMI que fez uma alerta sobre os níveis de inflação elevados sobre a economia global que se torna difícil e incerto de estar administrando”.

Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, disse que o Ibovespa está “seguindo o exterior com os dirigentes do Fed reforçando perspectiva de aperto monetário”.

Marco Noernberg, líder de renda variável da Manchester Investimentos, disse que o mercado está muito dinâmico e volátil, já subiu e caiu na sessão de hoje. “Estamos um pouco menos descorrelacionados com os mercados globais, apesar de não sermos uma caixinha fechada, vamos surfar em uma proporção de alta ou de baixa, mas estamos um pouco mais autônomos e tendemos a ter um movimento mais favorável neste momento até pelo valution”.

O líder de renda variável comentou que as maiores economias enfrentam inflação e elevam os juros para combater os preços, o que já foi feito anteriormente aqui.

Noernberg acrescentou que com as commodities em queda “impactam nas ações de Petro e Vale [forte peso no índice]”.

As varejistas caem na sessão de hoje. “A queda pode ser mais uma correção técnica porque as ações subiram muito no curto prazo; outro ponto é que tem um beta mais alto e as ações são impactadas com queda da Bolsa”, explicou.

O dólar comercial fechou em alta de 1,0%, cotado a R$ 5,3270. Isso é resultado da forte aversão global ao risco, com incertezas nas economias da China e Estados Unidos.

Segundo o economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi, “a semana nos confirma que os Estados Unidos estão com um problema difícil de ser resolvido, que é a inflação alta, resiliente e disseminada”.

Borsoi entende que o mercado ainda precifica alta nas duas próximas reuniões do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês): “As perspectivas são de um Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mais agressivo, o que resulta em maior aversão ao risco no mercado. O dólar, de modo global, se apreciou muito esta semana”, contextualiza.

“O minério de ferro está em uma posição muito crítica, e isso demonstra a volta da preocupação com a China, com o retorno dos lockdowns por lá. Foi uma semana muito ruim para as moedas de países ligados às commodities”, avaliou Borsoi.

De acordo com o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, “com o dado de varejo acima do esperado, o dólar volta a se fortalecer. Essa deve ser a tônica do mercado até o final do ano, o cenário dos juros nos Estados Unidos é muito desafiador”.

As vendas no varejo norte-americano ficaram estáveis em setembro ante agosto, e somaram US$ 684 bilhões.

Rostagno acredita que o dólar opere em uma banda larga entre R$ 5,10 e R$ 5,40 até o final do ano, e mantenha-se fortalecido: “Não há perspectiva de valorização no curto prazo”, projeta.

Para a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, “a taxa de câmbio segue refletindo o mau humor do cenário externo, em especial os dados de inflação nos Estados Unidos, que seguem pressionados”.

Consorte se refere ao índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês), que subiu 0,4% em setembro ante agosto (projeção de +0,3%), enquanto o núcleo teve alta de 0,6%, também acima das expectativas (0,4%).

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta. O movimento foi reflexo da aversão global ao risco que ganhou força ao longo da sessão.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,688% de 13,680% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,875%, de 12,830%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,785%, de 11,725% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,615% de 11,550%, na mesma comparação.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam a sessão em queda, com o S&P caindo 2,34%, e encerram uma semana volátil de negociações depois do relatório do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) causar uma reviravolta nas últimas duas sessões, em meio à maior inflação dos últimos 40 anos no país.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,34%, 29.634,83 pontos
Nasdaq 100: -0,92%, 10.321,4 pontos
S&P 500: -2,36%, 3.583,07 pontos

Com Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Agência CMA