Bolsa fecha em queda com pressão de Vale, no pós-feriado; dólar encerra a R$ 4,982

1426

São Paulo- A Bolsa fechou em queda pela quarta sessão seguida, no patamar dos 115 mil pontos, em dia de baixa liquidez, refletindo o pregão da véspera no exterior e com a pressão da Vale (VALE3) -ação de maior peso no índice- e siderúrgicas com medidas governo chinês de aumentar a supervisão regulatória sobre o preço do minério de ferro.

A Petrobras (PETR3 e PETR4) também recuou em movimento contrário ao petróleo. Na semana, o Ibovespa acumula perda de 2,19%.

A Vale (VALE) chegou a cair mais de 2%, mas reduziu a queda e fechou em baixa de 1,89% e as ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) caíram 0,78% e 0,35%. CSN (CSNA3) baixou 1,97%.

O principal índice da B3 caiu 0,57%, aos 115.313,40 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro perdeu 0,56%, aos 116.705 pontos. O giro financeiro foi de R$ 16,3 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em alta.

Gabriel Bassotto, analista chefe de ações do Simpla Club, disse que a Bolsa opera no negativo refletindo os mercados externos de ontem. “Com o Ibovespa fechado por conta do feriado [ontem], os ADRs da Vale caíram e na sessão de hoje acaba sendo reflexo do dia anterior; a Vale em baixa puxa o índice pra baixo, inclusive o minério de ferro fechou em queda; a alta do petróleo pode fazer a inflação subir um pouco mais do que as projeções indicavam no Brasil”.

André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, disse que a maioria das ações do Ibovespa está refletindo um movimento mais técnico. “A Petz (PETZ3) lidera a alta por um movimento técnico de realização de lucros, pois é uma ação que tem agentes com posições short no ativo e agora passaram a reduzir suas posições recomprando os papéis. A Yduqs (YDUQ3) ainda está refletindo a notícia de um possível “refil” do Fies por parte do governo, que acabou refletindo positivamente nas ações de educação. Já Braskem (BRKM5) está refletindo a emissão de bonds no exterior para antecipação de pagamento de dívidas da empresa”.

Segundo Alexandro Nishimura, a Petz (PETZ3) liderou os ganhos “devido aos rumores da possibilidade de uma fusão com a concorrente Cobasi”. As ações subiram 3,86%.

Entre as maiores quedas, estão as ações da Embraer (EMBR3), Alpargatas (ALPA4) e BR Foods (BRFS3). “Com exceção de Embraer que percebemos um forte fluxo vendedor, principalmente de corretoras estrangeiras ao longo do dia, Alpargatas e Br Foods são duas empresas que estão em meio a reestruturações de seus processos. Em um clima de aversão a risco do mercado, esses tipos de ações que estão sendo reestruturadas acabam sofrendo mais por conta da desconfiança do mercado em relação ao possível turnaround que essas empresas possam entregar”, disse o head de renda variável e sócio da A7 Capital.

Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos, disse que o Ibovespa cai pelo quatro pregão consecutivo em um ajuste pós-feriado e com o fim de semana logo à frente.

“A liquidez da Bolsa é baixa e se ajusta aos mercados internacionais de ontem, caminha para fechar a semana no negativo. Na sessão de hoje a queda é puxada pelas ações da Vale, siderurgia e celulose, e Petrobras e é compensada pela alta dos papéis dos bancos; também reflete a volta da preocupação com a maior alta dos juros nos EUA e medidas do governo chinês para reduzir o preço do minério de ferro, além de dados piores da balança comercial da China- o superávit somou US$ 68,36 bilhões em agosto, resultado abaixo da previsão do mercado, de US$ 79,9 bilhões. O foco do mercado fica para as decisões dos bancos centrais, dia 20 aqui e nos Estados Unidos-manutenção por lá e queda aqui; dados na Europa preocupam e o bc pode manter os juros lá em alta dia 14”.

Gustavo Cruz, disse que a Bolsa tem um pregão mais negativo por conta do feriado aqui ontem.

“O volume de negócios é mais reduzido, com a queda do minério na China a Vale recua e Petrobras também está mais negativa e não acompanha o petróleo, com esses dois papéis em queda já empurra o Ibovespa pra baixo. Mas não tem novidades, teve finalmente a reforma ministerial, a reforma tributária voltará a ser discutida. O grande driver vai ser dia 20, quando saírem as decisões de juros aqui e nos Estados Unidos. A gente tem tendência forte para a busca de renda variável aqui e, quiçá no mundo, se os EUA pararem de vez [subir juros]”.

Mais cedo, segundo Nicolas Borsoi, economista-feche da Nova Futura Investimentos, em dia de agenda vazia por aqui e ressaca pós-feriado, “a sessão é de baixa e os investidores de olho na China com as especulações de proibição dos Iphones por oficiais chineses, revisão baixista do PIB do Japão- crescimento anualizado de 4,8% abaixo do esperado de 5,5%- e perspectiva de juros altos nos EUA”.

O dólar comercial fechou em queda de 0,02%, cotado a R$ 4,9828. A moeda refletiu, ao longo da sessão e da semana, o ambiente global de cautela, que tenta entender quais serão os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). Na semana, a moeda teve valorização foi de 0,88%.

Para a economista-chefe da Veedha Investimentos Camila Abdelmalack, a moeda norte-americana está transmitindo o sentimento de cautela com os rumos dos juros nos Estados Unidos, com os indicadores apontando para resultados difusos.

No pano de fundo, salienta Abdelmalack, os ruídos fiscais domésticos não ajudam na performance do real.

Para o sócio da Ethimos Investimentos Lucas Brigato, apesar dos “trancos e barrancos” a lição de casa no cenário doméstico tem sido feita, mas o quadro global segue preocupante, com a resiliência da economia dos Estados Unidos e a dificuldade da China em retomar o crescimento econômico.

De acordo com o boletim da Ajax Research, “lá fora, a fala dos diretores do Fed sobre política monetária favorece as moedas dos emergentes e as commodities. Ações em baixa com aumento das preocupações com a economia europeia. Por aqui, ativos devem seguir movimentos mais fracos do exterior”.

“O presidente do Fed de Nova York John Williams comentou que a política monetária está em bom lugar quando a avaliamos em termos restritivos. Já Lorie Logan, do Fed de Dallas, entende que pode ser apropriada uma pausa em setembro, mas isto não significa o término do ciclo de alta”, contextualizou a Ajax.

“Raphael Bostic, do Fed de Atlanta, destacou a desaceleração da economia e o recuo da inflação. Para Bostic, a política monetária está em terreno restritivo e ainda afetará a economia. Por fim, Austan Goolsbee, Fed de Chicago, entende que o debate migrará de quão altos precisam estar os juros, para quão longo permanecerão em território contracionista. Essas falas provocaram leves baixas nos juros dos Treasury Bonds (títulos do Tesouro dos Estados Unidos) e a estabilidade do dólar”, explicou a Ajax.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em queda, no último pregão da semana e emenda do feriado do Dia da Independência do Brasil. Em dia de baixa liquidez, os ativos brasileiros acompanham o exterior.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,345% de 12,370% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,550% de 10,540%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,220%, de 10,270%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,465% de 10,508% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o dia em ligeira alta, porém registrando perdas na semana, com preocupações de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) eleve as taxas de juros mais do que o esperado.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,22%, 34.576,59 pontos
Nasdaq Composto: -0,09%, 13.761,5 pontos
S&P 500: +0,14%, 4.457,49 pontos

 

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA