São Paulo – A Bolsa fechou em queda, em um movimento de realização com o mercado frustrado diante do comunicado do Banco Central (BC) da véspera mais duro em que não sinalizou a intenção de cortar a taxa básica de juros (Selic)-mantida em 13,75% ao ano- em agosto, como era a expectativa de boa parte do mercado.
A queda no Ibovespa foi praticamente generalizada, com exceção das ações defensivas, como a Ambev (ABEV3) -subiu 1,76%. Mas os papéis mais sensíveis a juros, como varejistas, construtoras e bancos, foram as mais penalizadas.
O principal índice da B3 caiu 1,16%, aos 119.016,80 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto perdeu 1,27%, aos 121.155 pontos. A mínima interdiária atingiu 118.018,03 pontos. O giro financeiro foi de R$ 21,5 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas.
Bruna Sene, analista de investimentos da Nova Futura Investimentos, disse que a Bolsa está em um movimento de realização.
“A realização chegou mesmo porque o Ibovespa subiu mais 120 mil pontos, da mínima a máxima mais recente, a Bolsa subiu mais 11%, vinha em uma escalada forte, o mercado estava um pouco esticado, hoje reflete o comunicado do Copom que não teve sinalização de corte de juros em agosto; hoje existe uma contaminação das ações, as do setor cíclico estão sofrendo mais, mas também mais nas últimas semanas; ações defensivas [oscilam menos, com beta menor que o índice] estão subindo].
Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, disse que o mercado está repercutindo o comunicado do Banco Central da véspera e o exterior também não ajuda para a melhora do índice.
“O Copom flexibilizou o tom em relação ao último comunicado e frente ao esperado pelo mercado foi menos dovish; ele foi em direção ao início de ciclo de flexibilização, mas não como as pessoas esperavam. Eu mantenho a expectativa de queda de 0,25 pp em agosto porque ainda tem vários indicadores para sair como IPCA-15 de junho, IPCA de junho, ente outros; e se eu errar ele [o BC] vai ter de deixar claro que vai ter de cortar em setembro. A ideia de 0,50pp que o mercado ventilava saiu da mesa e ganha força 0,25pp em setembro, ainda temos quatro reuniões e faria sentido começar 0,25pp sem setembro e mais dois cortes de 0,50pp; o contexto internacional não ajuda muito”.
Spiess afirmou que o Copom tem se mostrado conservador e “quis se alavancar a para reunião do CMN [Conselho Monetário Nacional], da semana que vem, na quinta-feira (29), para ter base de negociação ainda que implícita, para que a meta de inflação não seja alterada; essa reunião ganhou importância”.
Paulo Silva, economista e analista ALM da Efí, comentou sobre a decisão em manter inalterada a Selic e o comunicado mais duro. “O Banco Central acertou ao manter a Selic inalterada, e o comunicado veio em linha com as nossas projeções de que os cortes efetivos só vão ocorrer a partir do mês de setembro finalizando o ano com uma taxa terminal em torno de 12,75%”. Silva disse que no comunicado de ontem o Copom mostrou que “não há garantia de que a taxa de juros será reduzida em agosto porque o comitê ainda enxerga riscos de curto prazo com a desaceleração mais lenta da inflação”.
Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, disse que os mercados não devem reagir bem ao comunicado do Copom que veio mais duro do que o esperado. “O índice futuro está caindo e esse movimento pode se intensificar ao longo do dia; houve a retirada da menção ao cenário alternativo e sobre a possibilidade de alta, mas não teve uma abertura para uma possível queda dos juros nas próximas reuniões; o Copom parece que se fixou na expectativa de inflação para 2025”.
Komura reforçou que “o clima entre o BC e outros agentes (Congresso, governo e empresários) pode piorar”.
O dólar comercial fechou a R$ 4,771 para venda, com valorização de 0,06%. Às 17h20min, o dólar futuro para julho tinha alta de 0,20% a R$ 4.779,000. Os investidores reagiram à decisão de ontem do Comitê de Política Monetária (Copom), considerado hawkish. Mas a alta foi limitada pelo forte ingresso de recursos externos.
A Selic foi mantida em 13,75% ao ano, mas o mercado se ressentiu de uma sinalização mais clara sobre quando os cortes iniciarão. A quase certeza de que a Selic começaria a cair em agosto já não existe e a aposta foi adiada para setembro.
No exterior, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, reiterou em sabatina ao Senado, que as taxas devem subir um pouco mais e que ainda não enxerga um pouso suave na economia norte-americana. Atualmente, a taxa de juros na faixa entre 5,0% e 5,25%.
Lucas Brigato, analista da Ethimos Investimentos, disse que o dólar operou perto da estabilidade na maior parte do dia. “Existe um pouco do reflexo do comunicado do Copom que deixou frustradas as projeções para agosto, mas esperava um repique maior do dólar na mão contrária à Bolsa; o dólar ainda mostra apetite do investidor internacional, um comportamento de atratividade do Brasil frente a outros mercados”.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham majoritariamente em alta, absorvendo as falas do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, que falou mais cedo no Senado norte-americano que ainda vê espaço para mais altas nos juros. As taxas mais curtas ainda repercutem o comunicado hawkish do Comitê de Política Monetária (Copom), que não sinaliza quando começará o ciclo de cortes.
O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,075% de 13,030 % no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 11,165 % de 11,110%, o DI para janeiro de 2026 ia a 11,140 %, de 10,550 %, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,530 % de 10,500 % na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo misto, com o Nasdaq subindo quase 1% puxado pelo setor de tecnologia, que encerrou uma sequência de três pregões consecutivos de queda. Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,01%, 33.946,71 pontos
Nasdaq 100: +0,95%, 13.630,6 pontos
S&P 500: +0,37%, 4.381,89 pontos
Com Dylan Della Pasqua, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA