Bolsa fecha em queda com realização de lucros, após máxima histórica; dólar sobe

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São Paulo -Após atingir recordes históricos nos últimos pregões, a Bolsa fechou em queda com os investidores realizando os lucros, oscilou entre a máxima de 137.370,36 pontos e a mínima de 135.857,81 pontos.

Os agentes financeiros ficam à espera de novos dados econômicos, como a inflação PCE amanhã (30), para voltarem a se posicionar. Poucas ações subiram, destaque para Gerdau, em dia de queda generalizada. Azul despencou.

O principal índice da B3 caiu 0,94%, aos 136.041,35 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro recuou 1,10%, aos 137.620 pontos. O giro financeiro foi de R$ 20,6 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam mistos.

Anderson Silva, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, afirma que o Ibovespa corrige na sessão de hoje.

“Não vejo nenhum ponto específico para a queda do Ibovespa. Depois de alguns dias de expressivo movimento de alta, o mercado realiza de lucros”.

Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, explica que “a alta dos juros futuros e do dólar ajudou a pressionar os ativos de bolsa, com altas pontuais reagindo a motivos específicos. Foram os casos da Natura ON, +1,00%), que foi uma exceção no setor varejista, prevalecendo o movimento favorável pela divulgação de que a BlackRock aumentou sua participação na companhia, e das siderúrgicas e mineradoras, que acompanharam a alta do minério de ferro diante da esperança de melhora na demanda da China”.

Pedro Caldeira, sócio e assessor da One Investimentos, diz que a Bolsa tem um dia mais negativo em um movimento de realização de lucros, após bater máximas; espera por novos dados econômicos.

“Na nossa visão, o mercado estava muito voltado para o micro com os bons resultados das empresas, e agora olha parte política, principalmente o fiscal e novos dados econômicos. Hoje vemos uma realização de lucros e perda de fluxo. No curto prazo a realização é factível, depois de ter chegado às máximas, é até um alívio. O investidor aguarda novos indicadores para se posicionar. O mercado fica em período de incerteza com os juros adiante e espera amanhã (30) a inflação PCE nos EUA e divulgação do orçamento de 2025 aqui. Vemos estresse na curva de juros e as ações de peso estão lateralizadas”.

Caldeira ressalta a baixa generalizada das ações, mas o destaque de queda fica para a Azul.

“A companhia aérea entrou em leilão e saiu com 25% de queda. Agora cai menos. A empresa está buscando uma renegociação de dívida, e isso pode vir através de emissão de novas ações. A Azul é uma empresa alavancada, o aumento na curva de juros, alta do dólar -ruim para uma empresa de aviação- e elevação do petróleo corroboram para essa queda mais forte”. As ações da companhia aérea caíram 24,13%.

Em relação à alta Gerdau, a empresa conseguiu levantar quase R$ 1,7 bilhão em créditos tributários excluindo PIS e da Cofins, comenta. As ações da Gerdau (PN, +2,27) e Gerdau Metalúrgica (PN, +1,83%).

Sobre os dados americanos que saíram mais cedo, André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, explica que com o desempenho da economia dos Estados Unidos, a chance de um corte de 0,50 ponto porcentual (pp) nos juros é improvável.

“Apesar de toda a controvérsia sobre uma possível recessão na economia norte-americana, os dados mais recentes apontam em uma direção oposta. O crescimento do PIB sugere que, apesar dos discretos sinais de desaceleração, a atividade econômica permanece acima do nível desejado pelo Federal Reserve”.

Galhardo complementa que essa percepção de sobreaquecimento foi intensificada pelos indicadores do mercado de trabalho.

“No entanto, não foi a discrepância entre o número de novas requisições e as expectativas do mercado que influenciou o humor dos investidores. O dado evidencia, de forma inequívoca, que a atividade econômica dos Estados Unidos continua robusta, o que provavelmente levará o Fed a adotar uma postura mais cautelosa no início do ciclo de cortes de juros, previsto para setembro”.

Mais cedo, o Departamento de Comércio dos Estados Unidos divulgou o PIB do país no segundo trimestre deste ano, que cresceu 3,0%, acima das expectativas de 2,8%, e expandiu ante o relatório anterior (+1,4%). Quanto aos pedidos de seguro-desemprego semanal, as solicitações foram de 231 mil enquanto a previsão era de 230 mil.

No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou em alta de 1,18%, cotado a R$ 5,6218. A moeda refletiu, ao longo da sessão, as incertezas que rondam a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). O índice de preços para os gastos pessoais (PCE), que será divulgado amanhã, também está no radar.

Para o sócio da Ethimos Investimentos Lucas Brigato, o movimento de hoje reflete tanto as expectativas sobre o corte de juros nos Estados Unidos quanto as incertezas que envolvem a nova diretoria do Banco Central (BC) e a decisão do Copom no mês que vem.

Para o head de tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, o Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano aumentou as chances que o corte dos juros comece em 0,25 ponto percentual (p.p.), e que tanto a espera pelo índice de preços para os gastos pessoais (PCE) quanto pelo payroll e Copom irá trazer muita volatilidade ao mercado nas próximas semanas.

O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, entende que os ativos estão muito mais ligados à indicação do diretor de política monetária do BC, Gabriel Galípolo à presidência do banco: “O mercado quer entender se ele [Galípolo] está convicto sobre os juros e qual a capacidade de trazer o Copom com ele”, avalia.

Borsoi entende que até o “Galípolo unir o discurso com a ação, o mercado vai pressionar o câmbio e juros”.

De acordo com Borsoi, a composição do PIB estadunidense é benigna, mostrando atividade aquecida sem pressão inflacionária.

“A questão que fica agora é se o Fed irá cortar 0,25 p.p. ou 0,5 p,.p., e isso deve ter influência do payroll. Acho que na cabeça do Fed seria bem razoável começar com um corte de 0,5 p.p.”, avalia Borsoi.

Hoje, no começo da sessão, foi divulgado que o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos subiu 3% no segundo trimestre, acima das projeções de +2,8%.

Assim como o dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em alta, impactadas pela indicação de Galípolo à presidência do banco central brasileiro, pelo IGP-M abaixo do esperado e pelo dólar mais forte, que gera pressão inflacionária.

Por volta das 16h45 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,995% de 10,935% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 11,810%, de 11,715%, o DI para janeiro de 2027 ia a 11,780%, de 11,645%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 11,825% de 11,690% na mesma comparação.

No exterior, os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão desta quinta-feira em campo misto. O Dow Jones atingiu um novo recorde, apesar do declínio da Nvidia, uma das favoritas no setor de inteligência artificial, após a divulgação de seus últimos resultados financeiros.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,59%, 41.335,05 pontos
Nasdaq 100: -0,23%, 17.516,4 pontos
S&P 500: 0,00%, 5.591,96 pontos

 

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Larissa Bernardes / Agência Safras News