Bolsa fecha em queda com temor ao fiscal e atenção ao corte da Selic; dólar sobe

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São Paulo -A Bolsa fechou em queda com o mercado ainda digerindo o comunicado hawkish do Comitê de Política Monetária (Copom) em que indicou mudança no ciclo de corte de juros, na decisão de quarta-feira (19), e temor de o governo não conseguir cumprir a meta de déficit zero.

A queda das ações foi generalizada, com destaque para o setor financeiro, mineração e as cíclicas. Na semana, o Indice encerrou em alta de 0,22%.

Mais cedo foi divulgado, pelo Ministério do Planejamento e Orçamento, o relatório de receitas e despesas do primeiro bimestre de 2024. O governo projeta déficit no resultado primário do Governo Central de R$ 9,3 bilhões ou 0,1% do PIB e bloqueio de R$ 2,9 de despesas orçamentárias.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em coletiva à imprensa mais cedo, comemorou o resultado bimestral, mas disse que vai seguir acompanhando com mesmo rigor a evolução no ano.

A Vale (VALE3) caiu 1,15%. Itaú (ITUB4) perdeu 1,48% e Bradesco (BBDC4) recuou 1,27%. O Grupo Casas Bahia (BHIA3) e Marfrig (MRFG3) baixaram 12,93%e 6,60% e lideraram a queda do Ibovespa.

O destaque positivo ficou para Embraer (EMBR3) refletindo a elevação do preço-alvo pelo JP Morgan para R$ 51,00. A ação subiu 7,92%, a R$ 33,35. A Petrobras (PETR 3 e PETR4) fechou em alta de 0,79% e 0,98%.

O principal índice da B3 caiu 0,88%, aos 127.027,10 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril recuou 0,89%, aos 127.750 pontos. O giro foi de R$ 17,7 bilhões. Nos Estados Unidos, os índices fecharam mistos.

Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, disse que a Bolsa sofre após o comunicado do Copom e contingenciamento do governo no orçamento

“O Copom tirou o plural de “próximos cortes” da Selic para só mais um de 0,50pp e o bloqueio do governo de quase R$ 3 bilhões no orçamento voltou a acender a luz amarela em relação ao fiscal e deixou o mercado desconfortável; [setor] financeiro sofre um pouco mais por conta da questão fiscal que poderia impactar causa o crédito. Nem a melhora das commodities conseguiu fazer as empresas ligadas a elas subirem. A Marfrig cai forte por conta da notícia de que a National Beef Company, empresa que pertence à Marfrig, suspendeu a produção na fábrica do Kansas depois de um incêndio; as empresas varejistas também sofrem hoje”.

Bruno Komura, analista da Potenza Investimentos, disse que a Bolsa cai refletindo a piora do fiscal, depois do comunicado do Copom mais duro.

“Pode ser que a gente tenha uma continuidade deterioração com a queda do presidente [Lula] nas pesquisas porque podemos ver anúncios de aumento de gastos. No relatório de receitas e despesas, o principal problema é a expectativa do resultado primário [projeção total de 2024 passou para R$ 9,3 bilhões, de R$ 9,1bi]. A gente não deve ter ajuste na meta nos próximos meses, talvez fique para o segundo semestre”.

Gustavo Bertotti, economista da Messem Investimentos, disse que vários de fatores impactam negativamente na Bolsa, principalmente o fiscal.

“A nossa curva de juros, que acompanha as treasuries, está caindo, mesmo assim não ajuda os ativos cíclicos da bolsa a performarem bem. Vemos uma queda generalizada das ações. Aqui temos uma cautela com as questões fiscais. No ano passado, o fiscal não fez preço na bolsa, mas agora começa a fazer muito em cima do que o Haddad prometeu em relação ao déficit zero. O mercado quer saber como o governo vai fazer isso [para atingir a meta]. Outros pontos que impactam são ruídos políticos em cima das empresas estatais, como Petrobras, que hoje recupera um pouco; peso do comunicado do Bacen mais hawkish. Campos Neto fala da importância de ancorar a expectativa de inflação e a saída do investidor estrangeiro da Bolsa”.

O dólar fechou em alta de 0,37%, cotado a R$ 4,9980. A moeda refletiu, ao longo da sessão, o início do corte dos juros na Suíça, que diminuiu as taxas de1,75% para 1,5%, e a sinalização de que o Banco da Inglaterra (BoE) pode começar a cortar os juros. Na semana, o a moeda teve valorização de 0,01%.

Para o sócio da Pronto! Invest Vanei Nagem, a queda dos juros na Suíça não era esperada: “Se houver uma queda generalizada na Europa, vai acontecer uma correria pelo dólar. Os juros dos Estados Unidos estão mais atrativos”, explica.

Nagem ainda pontua que este movimento de cortes de juros na Europa pode fazer com que a Selic (taxa básica de juros) terminal fique acima do previsto, chegando até em 10%.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) seguem em queda acompanhando o movimento dos títulos do Tesouro norte-americano, os Treasuries.

O DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 9,910%, de 9,940% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 9,855% de 9,865%, o DI para janeiro de 2027 ia a 10,105%, de 10,105%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 10,400% de 10,395% na mesma comparação.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam mistos nesta sexta-feira. O índice Dow Jones caiu hoje, mas rumou para a melhor semana do ano, após sessões consecutivas de recordes.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,77%, 39.479,90 pontos
Nasdaq 100: +0,16%, 16.4280 pontos
S&P 500: +0,14%, 5.234,18 pontos

Confira abaixo a variação dos índices de ações na semana:

Dow Jones: +1,03%, 39,512.13 pontos
Nasdaq 100: +1,25%, 16,369.41 pontos
S&P 500: +0,89%, 5,224.62 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e  Erika Kamikava/ Agência CMA