Bolsa fecha em queda de 0,92% com melhora no exterior; dólar sobre

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São Paulo – Depois de chegar a cair mais de 2% e atingir o patamar dos 106 mil pontos em dia de forte aversão ao risco global, a Bolsa encerrou o pregão nesta segunda-feira em queda de 0,92% com a melhora nas bolsas em Nova York. O estresse no pregão de hoje foi devido à tensão geopolítica entre Rússia e Ucrânia. Os investidores também ficam no aguardo para a decisão de política monetária dos Estados Unidos na quarta-feira (26).
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, está reunido com líderes europeus, por meio de videoconferência, para discutir o conflito entre Rússia e Ucrânia. A Rússia é um dos países produtores de petróleo e também gás natural utilizados por países europeus.
Por aqui, os investidores monitoraram o orçamento de 2022, que foi sancionado na sexta-feira pelo presidente Jair Bolsonaro, e que deve comprometer o fiscal.
O principal índice da B3 perdeu 0,92%, aos 107.937,11 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro caiu 0,78%, aos 108.690 pontos. No interdiário, a mínima atingiu 106.624,28 pontos. O giro financeiro foi de R$ 30,2 bilhões. após forte recuo, as bolsas em Nova York fecharam em alta.
Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, comentou que a Bolsa acompanha o movimento negativo do exterior e o mercado azedou no início da tarde “com o presidente Biden convocando uma reunião com líderes europeus para discutir a tensão na Ucrânia”.
Com o aumento da aversão ao risco, os investidores buscam por ativos mais seguros e os rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano caiam. O setor de destaque na nossa Bolsa é o varejo alimentício, como Pão de Açúcar (PCAR3) subiu 7,43%.
Crespi destacou que “o recuo das commodities acaba pesando contra a nossa Bolsa”. Os papéis da Petrobras (PETR3 e PETR4) caíram durante todo o pregão e reverteram o movimento para alta de 0,17% e 0,56% e as ações da Vale (VALE3) perderam 1,22%.
As ações das varejistas voltaram a ser penalizadas. Magazine Luiza (MGLU3), Americanas S.A (AMER3) e Via (VIIA3) caíram respectivamente 7,39%; 2,00% e 2,98%.
Leonardo de Santana, analista da Top Gain, afirmou que a Bolsa está acompanhando o mercado internacional com os desdobramentos da tensão entre Ucrânia e Rússia. “Biden está considerando enviar militares e navios de guerra para os aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e o mercado fica apreensivo. Teremos uma semana preocupante com o cenário externo e que impactará por aqui”.
No âmbito doméstico, segundo o analista da Top Gain, “temos a preocupação com os riscos fiscais com a sanção do presidente Jair Bolsonaro de uma verba de R$ 1,7 bilhão para o reajuste de servidores públicos, o que deve manter o estresse entre os demais servidores e fica no radar do mercado a negociação para baixar os preços dos combustíveis”.
O mercado também fica atento à reunião do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano), em que “a taxa de juros deve manter-se inalterada, mas com perspectiva de elevação para março e acompanhar como ficará a diminuição de incentivos à economia”.
O dólar comercial fechou em R$ 5,5060, com alta de 0,93%. A moeda norte-americana foi pressionada durante toda a sessão pela expectativa de anúncio do aumento dos juros nos Estados Unidos, assim como pela tensão na Ucrânia e pelos ruídos fiscais domésticos.
Segundo o analista CNPI da Nova Futura Investimentos, Matheus Jaconelli, “os investidores estão fugindo do risco, tanto lá fora quanto aqui. As tensões na Ucrânia podem afetar tanto a Europa quanto os Estados Unidos, refletindo em commodities com o trigo e o gás natural”. O analista destaca, porém, que este aumento seria pior para o Velho Continente, que sofreria uma alta inflacionária.
As atenções também estão voltadas para o outro lado do Atlântico: “Além das quatro altas nos juros, muitos esperam um discurso mais duro do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano)”, projeta Jaconelli.
Já no âmbito doméstico, Jaconelli acredita que o mercado enxerga caráter populista tanto no corte do orçamento de R$ 3,1 bilhões – que afetou áreas como ciência, educação e tecnologia – quanto na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Combustíveis.
Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “o movimento de hoje é de aversão global ao risco. O mercado vem se ajustando para quatro aumentos dos juros e aguarda a reunião do Fed, nesta quarta”.
Abdelmalack também acredita que o conflito na Ucrânia começa a preocupar: “O mercado está parcimonioso com este conflito geopolítico, em compasso de espera. No primeiro momento, isso pode afetar o preço do petróleo e fortalecer o dólar, que é um porto seguro”, avalia.
Já no cenário doméstico, a economista enfatiza que o mercado está observando como será a distribuição do orçamento: “Existe uma incerteza de como isso será feito, ainda mais em um ano eleitoral”, contextualiza Abdelmalack.
De acordo com boletim da Ajax Investimentos, “a expectativa de um anúncio, nesta quarta, do início da normalização dos juros por parte do Fed, além do maior risco geopolítico, impactam negativamente nos ativos de risco. Assim ativos locais devem acompanhar exterior”.
O boletim da Ajax ainda ressalta que apesar da suspensão do aumento salarial para os policiais – após pressão de outros setores do funcionalismo público que também reivindicaram aumento nos salários -, o presidente deixou claro que o reajuste não foi cancelado, apenas suspenso momentaneamente.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda nesta segunda-feira (24), acompanhando as curvas lá fora.
O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 11,810% de 11,950% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 11,400%, de 11,580%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,095%, de 11,255% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,200% de 11,335%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar com vencimento para janeiro operava em alta, cotado a R$ 5,5050 para venda.
Os principais índices de mercados de ações norte-americano fecharam a sessão em campo positivo mesmo após o Dow Jones cair mais de 1000 pontos e o Nasdaq recuar perto dos 5%, durante o dia. A recuperação aconteceu à medida que os investidores passaram a apostar nas ações de tecnologia, que estavam em baixa expressiva.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices futuros de ações
dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: +0,29%, 34.364,50 pontos
Nasdaq 100: +0,63%, 13.855,1 pontos
S&P 500: +0,27%, 4.410,13 pontos