Bolsa fecha em queda de 2,03% e na semana recua 1,12% com foco no Fed; dólar tem leve perda

821

São Paulo- A Bolsa interrompe sequência de quatro altas e encerra a sessão em queda de 2,03% com os investidores preocupados com a postura do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano), após falas de dirigentes da instituição indicarem que para a inflação atingir os 2% ao ano (aa) é necessário seguir aumentando os juros. Na semana, o Ibovespa acumula queda de 1,12%.

A aposta é de que na reunião de setembro, a elevação seja de 0,75 ponto percentual (pp). Mas as atenções para a próxima semana se voltarão à participação do presidente do Fed, Jerome Powell, no simpósio de Jackson Hole, na sexta-feira (26) em que o mercado buscará pistas sobre os próximos passos do banco central dos Estados Unidos.

Hoje a queda no índice foi generalizada, os destaques ficaram para as companhias aéreas. A Azul (AZUL4) liderou a perda, com 7,62% e em seguida Gol (GOLL4) com recuo de 7,29%. As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) despencaram 4,07% e 5,05%. após várias sessões em alta.

O principal índice da B3 caiu 2,03%, aos 111.496,21 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro perdeu 2,46%, aos 113.210 pontos. O giro financeiro foi de R$ 27,9 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Cassiano Konig, sócio da GT Capital, disse que a Bolsa devolve os ganhos da semana e segue o exterior refletindo as falas dos representantes do Fed, que “frisaram que [a autoridade monetária] deve continuar elevando os juros até a inflação voltar ao patamar de 2% ao ano, algo que não tinha ficado claro na ata [da última reunião divulgada na quarta-feira (17)]”.

Ainda por aqui, hoje dia de vencimento de opções sobre as ações e segundo um analista que não quis se identificar disse que as calls (compras) de Petrobras devem ser a grande vencedora do exercício com a valorização das ações nos últimos 30 dias. Apesar da queda das ações, no mês sobe mais de 14% e em um mês mais de 33%.

A fonte que não quis se identificar disse que falas de dirigentes do Fed acabam trazendo pessimismo ao mercado. “Barkin [Thomas Barkin, presidente do Fed de Richmond] disse o banco central norte-americano vai usar tudo que tem para trazer a inflação para 2% e isso gerou mau humor no mercado, além de mais discursos de membros ontem”.

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de St. Louis, James Bullard, disse, na véspera, que não acredita que a inflação nos Estados Unidos tenha chegado no pico e sustenta uma elevação de 0,75 ponto percentual (pp) para os juros.

Mais cedo, segundo Armstrong Hashimoto, sócio e operador de renda variável da Venice Investimentos, esse mau humor soma vários fatores como a preocupação com os juros nos Estados Unidos, desaceleração da economia chinesa, inflação na Europa e queda das commodities.

“Após a ata do Fed dúbia, as falas de alguns dirigentes do banco central norte-americano têm pesado mais do lado hawkish, fortalecendo as apostas para mais 0,75 ponto percentual (pp) na próxima reunião [20 e 21 de setembro], dados de inflação na Alemanha vieram abaixo das expectativas-subiu 5,3% na comparação mensal e em base anual avançou 37,2%-, onda de calor na China que pode dificultar a recuperação da economia e queda do petróleo e minério de ferro que impacta no Ibovespa”.

No campo doméstico, a política também é destaque por conta do início da campanha eleitoral, disse Hashimoto.

O dólar comercial fechou próximo da estabilidade, em queda de 0,05%, cotado a R$ 5,1680. O mercado busca pistas sobre os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), e se a política contracionista da instituição está surtindo o efeito necessário no controle da inflação. Na semana, o dólar teve valorização de 1,84%.

De acordo com o head de tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, “o discurso do Fed não bate com as expectativas do mercado, que espera cortes de juros já no começo de 2023. O Fed tende a ser mais duro no discurso da próxima semana, no simpósio de Jackson Hole”.

Segundo o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “o grande erro é que o mercado se precipitou, e o cenário demora um pouco para chegar a um alívio”. O economista explica que o Fed pode apresentar alguma novidade no simpósio em Jackson Hole.

Borsoi entende que a alta das commodities energéticas também impacta negativamente o processo de desinflação global, e ainda diz que o real continua com os fundamentos bons, mas que a moeda brasileira está inserida no processo de valorização global do dólar.

Para o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, “o dólar está acompanhando o tom pessimista do mercado, e ontem alguns diretores do Fed reforçaram que irão lutar contra a inflação”.

O presidente do Fed de Saint Louis, James Bullard, defende um aumento de 0,75 ponto percentual (pp) já na próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), em setembro. Komura, contudo, acho que a alta deve ser de 0,50 pp, mas alerta: “Quando olhamos os dados de inflação, concordamos com os analistas que entendem que o Fed precisa ser mais duro. A barreira não é a inflação de bens, mas a de serviços”, explica.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta com risco fiscal no radar e pressão inflacionária.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,730% de 13,715% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,160%, de 12,970%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,130%, de 11,875% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,835% de 11,415%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam em queda, com a Nasdaq caindo 2%, à medida que os investidores continuam a monitorar quais ações o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) deverá tomar em sua próxima reunião de política monetária.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,86%, 33.706,74 pontos
Nasdaq 100: -2,01%, 12.705,2 pontos
S&P 500: -1,28%, 4.228,48 pontos

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA