Bolsa fecha em queda, destoa do exterior, com peso de Vale e incertezas domésticas; dólar sobe

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São Paulo – A Bolsa fechou em queda, após uma sessão bastante volátil, e destoou do exterior, puxada pelo peso de Vale e setor de mineração e siderurgia e a preocupação com o cenário doméstico, principalmente o risco fiscal. A expectativa para a melhora do mercado fica para os dados do payroll, na sexta-feira (7).

Ontem e hoje saíram o relatório Jolts [abertura de 8,059 milhões de vagas contra previsão do mercado de 8,4 milhões] e ADP [criação de vagas do setor privado em maio-152 mil vagas contra previsão de 173 mil], ambos mostraram desaceleração do mercado de trabalho. Com isso, as apostas aumentaram para dois cortes de juros este ano nos Estados Unidos.

As ações da Vale (VALE3) caíram 1,42%. Entre as maiores altas do Ibovespa, ficou Magazine Luiza (MGLU3) os ganhos de 4,63%, após vários pregões em queda.,

O principal índice da B3 caiu 0,32%, aos 121.407,33 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho recuou 0,46%, aos 121.500 pontos. O giro financeiro foi de R$ 19,5 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam no positivo.

Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha investimentos, disse que a Bolsa caminha para fechar em queda com o cenário interno pesando no mercado

“O índice até esboçou ao longo do dia um movimento positivo [levemente], porém o mercado está descontente com a andar da política econômica brasileira e ruído fiscal, ainda que dados de trabalho nos EUA mais fracos animaram [o mercado] lá fora no contexto que a economia está desacelerando e pode iniciar o corte de juros em setembro. Aqui a gente não conseguiu se manter e vem perdendo terreno e nenhum setor acaba sobrevivendo. A Vale amarga mais um dia de queda com o minério de ferro. O que tem pesado bastante também é a MP do PIS/Cofins para compensar a desoneração da folha [afeta as empresas que estão na desoneração da folha], aqui continua a briga política entre o executivo e legislativo e isso tudo afugenta investidores local e externo”.

Thiago Pedroso, responsável pela área de renda variável da Criteria, disse que está operando em leve baixa com commodities pesando e o mercado espera pelo payroll.

“Aqui vemos a bolsa meio apática. O principal motivo é queda no preço de commodities, Vale e outras empresas do setor caem. Os dados do mercado de trabalho [relatório Jolts e ADP] esta semana mostraram desaceleração, que é positivo. Os Estados Unidos precisam entrar em um afrouxamento de queda de juros e isso seria positivo para os emergentes. O mercado aguarda ansiosamente o payroll, na sexta-feira (07), que é o dado mais importante. Ele deve fazer muito preço, e se vier abaixo do esperado puxaria nossos índices locais. Corroborando a tese que o mercado americano poderia começar a olhar o ciclo de afrouxamento monetário, o Canadá cortou juros hoje e amanhã (6) tem reunião do BCE e deve ser o primeiro corte na Europa também”.

Na visão de Leonardo Santana, sócio da Top Gain, apesar do mercado americano “voar, a nossa Bolsa não consegue engatar uma alta e não é de hoje. Os investidores locais não estão interessados em comprar. O índice chegou em uma região de alvo de 121 mil pontos, 122 mil pontos, região de suporte e acho que não passa pra baixo dos 120 mil antes de dar uma subidinha até os 125 mil pts. O que pode mudar é o payroll, espero que venha bom e [o Ibovespa] pode recuperar, se não vier é complicado”.

Vicente Matheus Zuffo, fundador e CIO da Chess Capital, disse que a bolsa está “totalmente largada e os investidores não se animam a comprar por conta do cenário doméstico. A situação fiscal ruim dominou o mercado”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,20%, cotado a R$ 5,2965. A moeda refletiu, ao longo da sessão, os indicadores norte-americanos divulgados pela manhã, além dos rumores fiscais internos que voltaram a ganhar força.

O relatório ADP apontou a criação de 152 mil vagas no setor privado, em maio, excluindo o setor rural. As projeções esperavam a criação de 173 mil vagas.

Já o índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) de Serviços foi a 54,8 pontos, em maio.

O índice do Instituto de Gerência e Oferta (ISM, na sigla em inglês) sobre a atividade do setor de serviços dos Estados Unidos subiu para 53,8 pontos em maio. A projeção era de 50,5.

Segundo a economista do Ouribank Cristiane Quartaroli, “estamos num ambiente incerto, vemos muita pressão no câmbio nos últimos dias por contado risco fiscal, e também pela dúvida sobre o mandato do Banco Central (BC), em 2024. Os operadores estão protegendo suas posições por conta do Brasil”.

Para o economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano, “os dados bons (dos Estados Unidos) seriam uma dinâmica positiva para o real. Apesar disso, não temos visto o real performar bem. O minério de ferro tem caído e existe aversão ao risco. No curtíssimo prazo, está difícil o dólar atingir o preço justo, entre R$ 5 e R$ 5,10”.

Serrano entende que o cenário está “poluído”, e que a divisa brasileira está descolada do quadro global, e que para isso mudar é preciso uma confluência de fatores positivos, de informações positivas.

As taxas dos Contratos Interfinanceiros (DIs) fecham em alta refletindo a preocupação com o fiscal doméstico .

Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, disse que a ponta longa [da curva de juros] cai e curta está levemente positiva.

Por volta das 16h45 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,440%, de 10,455% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 10,900% de 10,870%, o DI para janeiro de 2027 ia a 11,206%, de 11,215%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 11,492% de 11,495 na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo positivo, com a Nvidia liderando as principais ações de tecnologia e dados levemente fracos do mercado de trabalho dando aos investidores esperança de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) possa reduzir as taxas de juros ainda este ano.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,20%, 38.787,17 pontos
Nasdaq 100: +1,96%, 17.187,90 pontos
S&P 500: +1,18%, 5.354,04 pontos

Com Paulo Holland, e Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência Safras News