Bolsa fecha em queda e dólar em alta com incertezas fiscais

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São Paulo -A Bolsa fechou em queda, oscilou entre a mínima de 130.907,42 pontos e a máxima de 133.128,36 pontos, em um dia de forte aversão ao risco com o mercado preocupado com o quadro fiscal diante da iminência da divulgação do relatório de receitas e despesas pelo governo.

A queda das ações foi generalizada. O Ibovespa teve a segunda pior semana do ano, acumulou perdas de 2,83%.

O principal índice da B3 caiu 1,54%, aos 131.065,44 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro recuou 1,37%, aos 131.865 pontos. O giro financeiro foi de R$ 33 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam mistos.

Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, disse que “com juros mais altos e preocupações fiscais, o Ibovespa caiu para a faixa dos 131 mil pontos, em um nível não visto há aproximadamente um mês. O Ibovespa caminha para fechar a semana com uma queda significativa, com apenas oito ações apresentando valorização entre 86 listadas. As dúvidas em relação às contas públicas em 2025 intensificam o clima defensivo”.

Iarussi completou que “a aversão ao risco se tornou predominante nos mercados, refletindo incertezas sobre a condução da política monetária global, especialmente após a postura cautelosa dos bancos centrais do Japão e da China [que decidiram em manter inalteradas as taxas]”.

O especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital disse que o mercado espera pela divulgação de detalhes do relatório de despesas e receitas do governo, previsto para ser apresentado pelo Ministério do Planejamento na próxima segunda-feira (23).

“Caso o relatório indique um compromisso com a responsabilidade fiscal, pode haver uma perspectiva mais otimista para o Ibovespa no final do ano”.

Bruno Komura, analista da Potenza Capital, disse que a queda da Bolsa reflete a abertura dos juros e o fiscal.

“O fator local está pesando muito na Bolsa. A curva de juros está abrindo muito e isso é uma preocupação porque pressiona a inflação e resulta mais perspectiva de aperto [monetário], o que é ruim pra Bolsa como um todo. Quanto maior a taxa de juros, maior as nossas despesas com pagamento juros e pressiona o fiscal”.

Em relação ao ingresso de estrangeiros na Bolsa em um momento de corte de juros nos Estados Unidos, Komura disse que “esse recurso está indo é pra renda fixa e pode beneficiar o câmbio. Apesar de não acreditar em melhora do fiscal, a maior parte dos investidores estava esperando que os múltiplos negociados em Bolsa melhorassem. Com o fluxo [de estrangeiros] poderia ter correção de múltiplos, sem ter necessariamente evolução nos lucros das empresas, mas esta tese está indo por “água abaixo”. Os recursos que os estrangeiros aportaram em julho e agosto, agora estão realizando lucros”.

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, disse que “a Bolsa está acompanhando o exterior, com a abertura em Nova York aqui piorou, e as treasuries estão subindo”.

De acordo com relatório da XP Research, na agenda doméstica, “o destaque fica para o Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias. O documento deve indicar que o governo está próximo de atingir o limite inferior do intervalo de tolerância da meta de resultado primário (-US$ 28,8 bilhões ou -0,25% do PIB), apesar da arrecadação abaixo do esperado de algumas medidas de elevação de receitas. A revisão do cenário macroeconômico (sobretudo o crescimento mais forte do PIB) e a inclusão de novas medidas não-tributárias como dividendos extraordinários de empresas estatais e apropriação de depósitos judiciais devem reforçar as receitas nos próximos meses. Além disso, acreditamos que o relatório bimestral de setembro apresentará um bloqueio adicional de despesas ao redor de R$ 5 bilhões, já que a revisão altista em benefícios previdenciários deve ser compensada apenas parcialmente por outros gastos”.

No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou em alta de 1,78%, cotado a R$ 5,5198. A moeda refletiu, ao longo da sessão, os ruídos fiscais domésticos persistentes. Na semana, a divisa estadunidense teve desvalorização de 0,83%.

O economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano, observa que apesar das emergentes não terem uma boa performance nesta sexta, o fiscal prejudica especialmente a divisa brasileira.

Para o economista do Portal Money You Jason Vieira, “desde que a divulgação do relatório bimestral de receitas e despesas do Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO) foi adiado para após o fechamento do mercado, corre em algumas mesas o temor de que o conteúdo possa não agradar ao mercado financeiro e analistas. Dólar rompeu todos os parâmetros técnicos de curto prazo e tem um teste mais forte, no pronto, na faixa de R$ 5.480, que se rompido, busca R$ 5.500”.

“As tensões com o fiscal no Brasil continuarão a determinar parte do rumo dos ativos, o que pode fazer com que percamos um possível rali do jumbo cut do Fed”. opina Vieira.

A economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, explica que apesar da valorização do real, gerada pelo aumento no diferencial de juros, as questões fiscais internas e a aproximação das eleições podem frear este processo.

Assim como o dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam mais um dia em alta expressiva em todos os vértices em razão das incertezas do mercado com o quadro fiscal.

Por volta das 16h30 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 11,025% de 10,990% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 12,180%, de 12,065%, o DI para janeiro de 2027 ia a 12,250%, de 11,990%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 12,305% de 12,050% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em direções opostas, à medida que a empolgação inicial com o corte de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) começa a se dissipar. No entanto, o Dow Jones conseguiu se manter acima da marca de 42 mil e fechou em outro recorde histórico.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,09%, 42.063,36 pontos
Nasdaq 100: -0,36%, 17.948,0 pontos
S&P 500: -0,19%, 5.702,55 pontos

Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Safras News