Bolsa fecha em queda e dólar em alta com percepção de riscos na economia americana

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São Paulo -O Ibovespa fechou em terreno negativo pelo terceiro pregão seguido, mais moderado que os índices em Nova York, com a percepção de recessão nos Estados Unidos no radar.

A Bolsa chegou a oscilar entre a mínima de 123.073,16 pontos e a máxima de 125.850,51 pontos. Em dia de mercado avesso ao risco, a grande maioria das ações caiu e o destaque positivo ficou para o Bradesco (BBDC3 e BBDC4), que reportou resultado no segundo trimestre de 2024 melhor que as expectativas.

As ações do Bradesco (BBDC3 e BBDC4) subiam 8,29 e 7,58%.

O principal índice da B3 caiu 0,46%, aos 125.269,54 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto recuou 1,00%, aos 125.515 pontos. O giro financeiro foi de R$ 25,3 bilhões. Os índices norte-americanos despencaram.

Vicente Matheus Zuffo, fundador e CIO da Chess Capital, disse que “a bolsa brasileira deveria ser mais sensível a juros e commodities do que à bolsa americana; nossos juros estão estáveis e as commodities não sofreram tanto quanto as bolsas nos EUA-queda foi no setor de tech; a alta do Bradesco ajudou marginalmente”.

Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, disse que queda a Bolsa acompanha a aversão ao risco global.

“Esse pessimismo é por causa do payroll fraco na sexta-feira (02) , e o cenário se aprofundou na sessão de hoje com o temor de recessão nos Estados Unidos, mas o movimento é um pouco exagerado. A queda das commodities e o ISM de manufatura americano indicando forte contração criam uma narrativa para sustentar esse mau humor. As ações do setor de tecnologia, companhias aéreas com custo em dólar sofrem. Daqui pra frente, o mercado fica dependente de mais dados americanos-CPI, PMI nas próximas semanas e atento ao simpósio de Jackson Hole [evento dos bcs no final do mês]”.

Para a analista da Empiricius, o resultado do 2T24 do Bradesco veio bom, acima das expectativas com a realeceração da carteira de crédito [expandida cresce 5% a R$ 912 bi] e a maior parte surpresa vem da queda da inadimplência. A expectativa é boa para os bancos privados”.

Ubirajara Silva, gestor de renda variável da independente, disse que em relação aos balanços, o resultado do Bradesco “veio um pouco melhor que esperado, com a carteira de crédito interessante, índice de inadimplência caiu, mas com o pessimismo no mercado não ajuda”.

O lucro líquido recorrente do Bradesco no 2T24 foi de R$ 4,716 bilhões, alta de 4,4% ante o mesmo período de 2023. Na comparação com o primeiro trimestre deste ano (1T24), o crescimento foi de 12%.

Silva afirmou que o nervosismo do mercado na sessão de hoje se estende ao movimento de quinta-feira e sexta-feira da semana passada.

“O grande drive é o iene, com o carry trade. A moeda japonesa se desvalorizando gera esse movimento e atrapalha os ativos de risco [aqui e no mundo]. O fato de o banco central japonês ter dado dinheiro barato por muito tempo para o mercado e a preocupação com a economia americana, após payroll fraco e se vai ter sof landing ou hard landing, fizeram o mercado ficar tenso. A performance melhor do Ibovespa-não cai como nos EUA- deve ao fato de os investidores estarem under/short no Brasil e soft em outros ativos. Acho esse movimento global exagerado. Não tem trigger para melhorar o mercado”.

O dólar comercial fechou a R$ 5,7397 para venda, com valorização de 0,53%. Às 17h30, o dólar futuro para setembro tinha alta de 0,02% a R$ 5.746,500. O Dollar Index, que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de unidades, tinha baixa de 0,49% a 102,70 pontos. A moeda foi sustentada pelo mau humor externo, mas reduziu a valorização ao longo da sessão.

Após o pânico causado na abertura dos negócios com medo de uma recessão nos Estados Unidos em que a divisa chegou a bater R$ 5,86, na máxima do dia, o mercado retornou ao poucos a patamares de perdas menos acentuadas. A alta do início do dia foi considerada uma reação exagerada por parte do mercado.

Vanei Nagem, sócio da Pronto! Invest, disse que “essa alta do dólar não tem fundamento, é exagerada. Segue seus pares. Quando tiver uma análise verdadeira [se referindo ao cenário global], o dólar vai começar a cair. O patamar correto, é um dólar a R$ 5,30 e não bater R$ 5,86. O Fed vai começar baixar juros, ele não errou na condição da política monetária; por aqui, a economia está bem e o Brasil não está quebrado, além disso somos um país de commodities, não tem motivo para vermos esse dólar nessa faixa. Ressalto a grande posição do Banco Central em não interferir no câmbio”.

Para o analista Bruno Komura, da Potenza Capital, “o mercado mudou muito rápido essa narrativa.Essa mudança de percepção de dados geralmente não varia tanto assim. Qualquer dado mais insatisfatório está sendo interpretado dessa forma [temor de recessão nos EUA]. O mundo está bastante volátil e os mercados têm precificado o risco de recessão”.

Cristiane Quartaroli, economista-chefe da Ouribank, disse que o ambiente externo fez a taxa de câmbio fez o dólar disparar. Os temores de recessão nos EUA e questões geopolítica foram responsáveis pela pressão na moeda em grande parte do dia, e isso ainda segue no radar. Os PMI americanos um pouco mais positivos pra questão da atividade econômica acabaram trazendo um certo alívio. [a divisa] parou de subir um pouco, mas voltou a acelerar. A gente continua com [um ] nível bastante elevado [da moeda], o que quer dizer, que ainda temos um cenário de bastante aversão ao risco, e isso deve perdurar.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em queda, após passarem o dia em alta refletindo possibilidade de recessão nos Estados Unidos, e firme alta do dólar – o que pode gerar pressão inflacionária.

Por volta das 16h40 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,575% de 10,560% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 11,195%, de 11,255%, o DI para janeiro de 2027 ia a 11,400%, de 11,465%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 11,560% de 11,550% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão com forte queda, registrando o pior início de mês desde 2002, à medida que aumentam as preocupações sobre a saúde da economia dos Estados Unidos.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -2,60%, 39.704,06 pontos
Nasdaq 100: -3,43%, 16.200,08 pontos
S&P 500: -2,99%, 5.186,48 pontos

 

Com Dylan Della Pasqua, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência Safras News