Bolsa fecha em queda e dólar em alta com receio de recessão nos Estados Unidos

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São Paulo -A Bolsa fechou em queda acompanhando o mau humor no exterior com o receio de uma recessão nos Estados Unidos, após os dados mais fracos do mercado de trabalho, payroll (sigla em inglês) em agosto.

O enfraquecimento da economia levou à queda das ações ligadas às commodities, como Petrobras e Vale-com peso na composição do índice- e as apostas cresceram para o corte de 0,50 ponto porcentual (pp) dos juros americanos na reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) nos dias 17 e 18. Na semana, o Ibovespa caiu 1,05%.

As ações da Vale (VALE3) caíram 1,25%; Petrobras (PETR3 e PETR4) perdeu 1,83% e 1,95%.

Mais cedo, o payroll mostrou que foram criadas 142 mil vagas de trabalho nos Estados Unidos em agosto, abaixo das expectativas do mercado de 160 mil, e a taxa de desemprego ficou em 4,2% no mês, dentro do esperado. O dado de julho foi revisado pra baixo de 114 mil para 89 mil.

O principal índice da B3 caiu 1,41%, aos 134.572,45 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro recuou 1,72%, aos 135.860 pontos. O giro financeiro foi de R$ 17,8 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em queda.

Caio Tonet, diretor de operações da W1 Capital, disse que a Bolsa segue lá fora com o crescimento das apostas para corte dos juros americanos em 0,50 ponto porcentual (pp), após o payroll vir abaixo do esperado.

“A economia americana está mais lenta que o mercado precificava e isso gera preocupação, consequentemente, os investidores zeraram posição. Tudo por conta dos dados de emprego nos Estados Unidos e volta o temor do mercado com a possibilidade de um hard landing, mas não acreditamos. Com a economia mais fraca, a demanda por commodity diminui e impacta Vale e Petrobras, levando o índicie pra baixo”.

Rubens Cittadin, operador de renda variável da Manchester, disse que mercado digere os dados do mercado de trabalho e fica de olho nos passos do Fed.

“O payroll não veio tão abaixo do esperado como o julho [revisado pra 89 mil vagas], mas o mercado tenta identificar qual o trade-off [decisão] que o banco central americano irá tomar [na próxima reunião] diante de um dado que pode indicar uma recessão; o Fed tem que agir rapidamente. As apostas para um corte de juros de 0,50 pp estão aumentando e a bolsa reage de forma pessimista. Além disso, a Vale, Petrobras e bancos contribuem para a queda do índice”.

Cittadin comentou que o Morgan Stanley disse que o Fed deve cortar juros em um tom de preocupação mais com recessão que inflação.

Nicolas Farto, sócio e head de renda variável da Vértiq Invest, disse que o mercado vai digerir ao longo do dia os dados, aguarda falas de dirigentes do Fed e a preocupação é com a recessão.

“O dado veio abaixo do esperado, mais não tão abaixo. Se viesse abaixo dos 100 mil a surpresa seria grande. Com esse número já é motivo para o banco central fazer um corte mais agressivo. A taxa de desemprego ficou em linha e houve queda nos ganhos salariais, que aponta pro lado da produtividade. O mercado deu uma segurada e teve volta nos movimentos da bolsa. Não acho que vai ser dia de grandes mudanças no Ibovespa”.

Mas Farto explicou que o temor do mercado é se o banco central dos Estados Unidos cortar juros e tiver uma recessão.

“Se os indicadores mostrarem que a economia americana está se deteriorando mais rápido que se esperava, isso pode disparar o receio de um movimento mais de queda das bolsas. Muita gente está tentando antever logo a possibilidade de uma desaceleração mais crítica da economia americana para tentar se proteger de uma eventual queda das bolsas. Cortar juros pode fazer bem para bolsas, mas vai depender como vai se comportar o nível de atividade. Tem que ser uma desaceleração controlada. Ontem o PMI composto ajudou um pouco a não piorar essas projeções”.

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, disse que o payroll veio abaixo do esperado na criação de vagas, principalmente na revisão muito pra abaixo no mês anterior.

“O dado não bota nenhuma pedra sobre a decisão [de juros] dia 18 [reunião do Copom] se é 0,25pp ou 0,50pp de corte. A decisão vai ficar para a inflação para onde o mercado vai. No desemprego veio como projetado, na faixa de salários revisaram de 0,2% para -0,1% no mês anterior. Em agosto foi para 0,7% de expectativa de 0,3% muito em cima da base anterior que foi revisada pra baixo. O crescimento anual veio mais forte (+3,8%), mas nada que preocupe absurdamente. A taxa de desemprego de 4,2% é bem estimulativo”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,35%, cotado a R$ 5,5914. A moeda refletiu, ao longo da sessão, o temor de que os Estados Unidos entrem recessão, após o payroll. A fala do diretor do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Christopher Waller, também contribuiu com o movimento de aversão global ao risco. Na semana, a moeda teve desvalorização de 0,73%.

O indicador apontou a criação de 142 mil vagas de trabalho em agosto, abaixo das projeções de 160 mil. Já a taxa de desemprego caiu a 4,2%, em linha com as estimativas. As vagas criadas em julho foram revisadas de 114 mil para 89 mil.

Waller disse, no começo da tarde. que “a hora chegou/’, referindo-se ao início do ciclo de cortes dos juros na reunião deste mês.

Segundo o economista do portal Money You Jason Vieira, o clima hoje é de cautela e aversão ao risco, mas olha o movimento com certa desconfiança: “Entende-se que um mercado não está ‘bem das ideias’ quando preconiza ao mesmo tempo corte de juros e dólar em alta”.

De acordo com o head de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, o resultado do payroll aumentou o temor de recessão e de um corte de 0,50 ponto percentual (pp).

Já o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi entende que, diferente do que o mercado imaginava, o resultado de hoje não foi suficiente para cravar a intensidade inicial do corte dos juros nos Estados Unidos, que está entre 0,25 pp e 0,50 pp.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em alta em meio aos dados do mercado de trabalho nos Estados Unidos, abaixo do esperado, o que gerou uma preocupação com a economia do país.

Por volta das 16h24 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,915% de 10,905% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 11,730%, de 11,665%, o DI para janeiro de 2027 ia a 11,695%, de 11,650%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 11,740% de 11,720% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda expressiva, enquanto os investidores analisavam o payroll de agosto, que forneceu pistas sobre o tamanho do corte de juros esperado para este mês e a resiliência da economia dos Estados Unidos.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,01%, 40.345,41 pontos
Nasdaq 100: -2,55%, 16.690,8 pontos
S&P 500: -1,72%, 5.508,42 pontos

 

Com Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Agência Safras News