Bolsa fecha em queda e dólar em alta com recuo das commodities e incertezas fiscais

163

São Paulo -A Bolsa fechou em queda expressiva, não conseguiu manter a região dos 127 mil pontos impactada pelos pesos-pesados, Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3 e PETR4) em meio à cautela do mercado com a China.

O setor de siderurgia e mineração foi bastante penalizado. Pouquíssimas ações subiram.

O quadro fiscal doméstico segue preocupando o mercado. O Ibovespa oscilou entre a mínima de 126.530,02 pontos e a máxima de 127.859,63 pontos.

O ponto positivo é a entrada de investidores estrangeiros na B3 no mês de julho. Até o dia 19, o saldo está positivo em R$ 6,55 bilhões.

Os papéis das ações ligadas à economia doméstica sofreram com a abertura na curva de juros. Indice Small Caps recuou mais que o Ibovespa, – 1,64%. Lojas Renner (LREN3) recuou 2,73% e MRV (MRVE3) registrou queda de 2,20%.

As ações da Vale (VALE3) caíram 1,34%. Petrobras (PETR3 PETR4) recuou 1,41% e 1,29% acompanhando o petróleo e com a leitura mais pessimista em relação à China.

“A terceira queda consecutiva do petróleo se deu por um quadro econômico incerto da China e negociações do cessar-fogo no Oriente Médio”, disse Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

O destaque positivo ficou para Embraer (EMBR3) -subiu 8,47%. “As ações se recuperaram da forte queda de ontem, quando foi influenciada por algumas avaliações de frustração com negociações em uma feira de aviação na Inglaterra, sob a justificativa de expectativa de pedidos para aviação comercial. Hoje o mal-estar parece ter se desfeito, após anúncio de vendas para o Paraguai de aeronaves militares, mas também pode estar relacionado a uma recuperação de algum exagero na reação de ontem”, disse Nishimura.

O principal índice da B3 recuou 0,99%, aos 126.589,84 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto perdeu 1,21%, aos 127.235 pontos. O giro financeiro foi de R$ 18,9 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em queda.

Marcelo Boragini, sócio e especialista em renda variável da Davos Investimentos, disse que a Bolsa cai com commodities, principalmente as metálicas, e as incertezas com o fiscal local.

“Com a agenda esvaziada, a Bolsa opera descolada do exterior e o mercado tem dúvidas sobre a demanda da China, após o bc [banco central] chinês, reduzir em 10 pontos-base os juros [divulgado no domingo à noite], o que é insuficiente para estimular a economia. Essa leitura mais negativa de China derrubou as commodities, o minério de ferro e o petróleo, e isso impacta o setor metálico na B3. Outro ponto é que o mercado demostra desconforto com o fiscal. Por aqui, o destaque positivo fica para Embraer em um movimento de ajuste técnico porque ontem o ativo teve uma queda forte. A expectativa fica para sexta-feira (26) com a divulgação do PCE”.

Felipe Moura, analista da Finacap, disse que a pressão de Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3 e PETR4) puxa Bolsa pra baixo, mas ainda o cenário é positivo.

“As commodities pesam, mas também é esperado uma realização de lucros. Vejo que o Ibovespa ainda está dentro do cenário de alta. O mercado está esmiuçando o contingenciamento e bloqueio de gastos [anunciados na semana passada pelo governo], foram mensagens positivas, estamos em uma toada boa”.

Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital, disse que Vale puxa o Indice pra baixo e as ações sensíveis a juros refletem os DIs.

“O Ibovespa está operando em torno dos 127 mil pts, impulsionado principalmente pela Vale com queda de mais de 1%. Com o avanço da curva de juros, vemos os setores de varejo e construção civil sendo mais impactados embora ainda não tenhamos visto correções muito fortes”.

O dólar comercial fechou a R$ 5,5877 para venda, com valorização de 0,33%. Às 17h05min, o dólar futuro para agosto tinha alta de 0,37% a R$ 5.597.000. A forte queda das commodities – minério de ferro e petróleo – e o ceticismo em relação ao corte de gastos pelo governo preocupou o mercado e sustentou a moeda americana.

O comportamento no exterior completou o quadro de desvalorização do real. O Dollar Index, que mede o desempenho da moeda americana em relação a uma cesta de moedas estrangeiras, tinha alta de 0,14% a 104,46 pontos.

Marcelo Boragini, sócio e especialista em renda variável da Davos Investimentos, disse que o dólar opera em alta puxado pelas commodities e o fiscal doméstico fica no radar.

“A divisa se fortalece com a queda das commodities, influenciada pela cautela em relação à demanda da China, que enfrenta um cenário econômico desafiador. O minério de ferro registrou queda na faixa de 3% e o petróleo cai. O corte de 10 pontos-base nos juros chineses [anunciado na noite de domingo aqui] é considerado insuficiente para estimular a economia. No cenário doméstico, o lado fiscal continua preocupando o mercado após a divulgação do relatório bimestral de contas pelo governo brasileiro ontem. No início do dia, houve fluxo positivo no câmbio devido à atuação dos exportadores e com realização e desmonte parcial de posições compradas no mercado futuro”.

Relatório da Ajax Asset avaliou que o relatório bimestral de despesas e receitas, divulgado ontem, pelo ministério do Planejamento e Orçamento, trouxe um reconhecimento tardio do aumento acima da realidade do lado da arrecadação, ainda insuficiente para atingimento da meta fiscal, olhando o ocorrido até maio.

“Vale notar: Governo tem focado nesse quesito de crescimento de arrecadação, mas não ataca o problema central que é o crescimento dos gastos. Assim, o contingenciamento necessário é mais perto de R$ 40 bilhões para esse ano, além de ser necessário maior transparência do Orçamento de 2025. Conforme temos comentado, é necessário medidas mais críveis para resolver os problemas estruturais do país”, concluiu o documento.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em alta, em movimento oposto aos títulos do Tesouro americano de 10 anos (Treasuries) em dia de agenda vazia de indicadores aqui e no exterior. Questão fiscal segue no radar.

Por volta das 16h35 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,670%, de 10,690% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 11,495%, de 11,380%, o DI para janeiro de 2027 ia a 11,765%, de 11,615%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 11,965% de 11,800% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar comercial operava em alta, cotado a R$ 5,5912 para a venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo negativo, enquanto os investidores avaliavam os primeiros relatórios em um dia importante de balanços das empresas, com os resultados de Alphabet e Tesla em foco após o fechamento do mercado.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,15%, 40.358,09 pontos
Nasdaq 100: -0,06%, 17.997,35 pontos
S&P 500: -0,16%, 5.555,74 pontos

 

Com Dylan Della Pasqua, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência Safras News