Bolsa fecha em queda e dólar em alta em dia de turbulência com Petrobras

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São Paulo- A Bolsa fechou em leve queda, na contramão de NY, conforme o mercado foi digerindo a notícia da mudança e comando da Petrobras ao longo do pregão. A recuperação da Vale e a virada do petróleo para alta também contribuíram para essa melhora do índice. As ações da Petrobras lideraram a baixa do Ibovespa.

Ontem à noite, o presidente Lula demitiu o Ceo da Petrobras, Jean Paul Prates, e indicou Magda Chambriard para comandar a estatal. A executiva precisa ser submetida ao processo interno de governança da empresa e o nome deverá ser aprovado pelo Conselho de Administração da companhia.

As ações ordinárias da Petrobras (PETR3) perderam 6,77%, cotadas a R$ 40,02 e as preferenciais (PETR4) caíram 6,04%, cotadas a R$ 38,40.

As Adrs da Petrobras negociadas em Nova York também fecharam no negativo. A PBRA (ações preferenciais) perdeu 6,74% e a PBR (ações ordinárias) caiu 6,78%.

O principal índice da B3 caiu 0,37%, aos 128.027,59 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho perdeu 0,58%, aos 128.955 pontos. O giro financeiro foi de R$ 35,5 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam alta.

Bruna Sene, analista da Nova Futura Investimentos, disse que a principal expectativa dos investidores era com a divulgação da inflação ao consumidor americana (CPI, sigla em inglês), mas o evento Petrobras tomou conta do mercado.

“O mercado gostou do CPI, lá fora a Nasdaq está atingindo a máxima histórica e a aposta na CME é de corte dos juros em setembro, mas aqui a Petrobras ofuscou o bom resultado da inflação. A ação preferencial da estatal bateu o suporte de R$ 37,50 [no pior momento do dia], mas ao longo da sessão os investidores foram digerindo a notícia de troca do comando da empresa e o Indice foi se recuperando. Outros pontos que ajudaram o Ibovespa a reduzir a queda foram a recuperação da Vale e do petróleo no mercado internacional com o recuo dos estoques da commodity [caiu 2,5 milhões para 457,0 mi de barris]. A JBS é o destaque positivo do dia com a repercussão do balanço”.

Segundo Bruna, o mercado vai ficar atento à gestão de Magda Chambriard, que vai assumir a presidência da Petrobras, após o aval do conselho de administração da empresa. O mercado vai querer saber como ficará a questão dos investimentos, dividendos e política de preços, diz Bruna.

Para os próximos dias, a analista da Nova Futura Investimentos, disse que o tom ainda será de cautela. Rodrigo Alvarenga, sócio da One Investimentos, disse que a saída de Jean Paul Prates era uma novidade para o mercado, mas quando isso se concretiza mostra a interferência do governo.

“A Magda [Magda Chambriard, que vai assumir o comando da Petrobras] é mais burocrática e defende investimento em refinaria e pode mexer com os dividendos. O lado positivo de sua indicação é que ela é técnica, se fosse o Mercadante [Aloizio Mercadante, presidente do BNDES] seria pior. Outra estatal que não sai ilesa é o Banco do Brasil, apesar de interferência ser menor”.

Em relação ao CPI que veio marginalmente abaixo das expectativas-subiu 0,3% e a previsão era de +0,4%- soa como positivo.

“O mercado estava esperando uma notícia boa sobre a inflação nos EUA e o dado trouxe alívio para o mercado, indica um possível corte de juros por lá e aqui também”, ressaltou Alvarenga.

Ariane Benedito, economista e especialista em mercado de capitais, disse que o mercado acordou precificando esse mau humor.

“Independentemente do nome [para o comando da Petrobras], qualquer movimentação advinda do governo em relação a uma estatal, o mercado entende que é negativa. A intenção de tirá-lo não é novidade. Mesmo assim, é considerado de forma política para o mercado. O nome da Magda [Magda Chambriard, que assume a presidência] está um pouco mascarado porque a interferência política pesa mais. Com o CPI melhor que o esperado [subiu 0,3% e a previsão era de +0,4%], não só o número cheio, estabilidade no núcleo, e Empire State [índice de atividade industrial] caindo mais que a expectativa [caiu 1,3 pts para -15,6 pts em maio e a previsão era para -10 pontos] podem ajudar a dissipar o mau humor ao longo do dia”.

Ariane disse que existe um perfil diferente entre a Magda e o Prates, mas o mercado deve gostar do novo comando da estatal.

“O mercado vai entender de uma forma bem positiva esse nome se avaliar melhor e de forma dissipa a questão política. Ela passou pelo governo Dilma [ex-presidente Dilma Rousseff] e Temer [ex-presidente Michel Temer]. A questão está na diferença de perfil entre um profissional e outro. Magda é mais de investimentos, reinvestimentos e outras vertentes de energia. Prates é mais conservador. O mercado vai aceitar bem e tudo deve acalmar. Vamos ver como ela vai comunicar os próximos passos”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,09%, cotado a R$ 5,1353. Mais do que a inflação nos Estados Unidos, divulgada nesta manhã, o driver do dia foi a demissão de Jean Paul Prates, da Petrobras, que será substituído por Magda Chambriard.

O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,3% em abril ante projeções de +0,4%.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “a abertura do CPI já começa a mostrar sinais de melhora, após três meses muito fortes, com melhora na margem”.

“O mercado tende a aliviar, e estamos em vias de passar o pior momento da inflação norte-americana. A dúvida, agora, é se a inflação irá convergir à meta do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). O risco de o Fed não começar a cortar os juros este ano fica reduzido”, avalia Borsoi.

O economista da Nova Futura, contudo, observa que a demissão de Prates faz com que aumente a percepção de risco do investidor, e que já existe certo ruído entre os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a dosagem de cortes na Selic (taxa básica de juros).

Segundo o sócio da Pronto! Invest Vanei Nagem, “o real era para estar melhor com os dados do CPI. O que está segurando aqui é a troca da Petrobras. O lado bom é que ela (Chambriard) é técnica, mas ficou um ranço de que pode ter interferência do governo”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em leve alta, perto da estabilidade. Os DI operaram voláteis, impactados pela demissão do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e por falas de autoridades do Banco Central (BC), que mostraram incertezas sobre política monetária local.

Por volta das 16h35 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,345%, de 10,330% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 10,565% de 10,535%, o DI para janeiro de 2027 ia a 10,875%, de 10,870%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 11,145% de 11,160 na mesma comparação.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam em alta, à medida que uma leitura fraca dos preços ao consumidor alimentou esperanças de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) possa cortar as taxas de juros mais cedo do que o esperado.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,89%, 39.908,79 pontos
Nasdaq 100: +1,40%, 16.742,39 pontos
S&P 500: +1,17%, 5.308,18 pontos

 

Com Paulo Holland, e Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência Safras News