Bolsa fecha em queda e dólar em alta sob impacto da indicação de Gleisi para articulação política do governo

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Mercado Gráfico Percentual
Foto: Svilen Milev / freeimages.com

São Paulo -A Bolsa fechou em forte queda em resposta à nomeação de Gleisi Hoffmann para assumir a articulação política do governo Lula. O temor do mercado é que sua posição contra o ajuste fiscal pode comprometer a agenda econômica.

Somado a isso, os investidores também buscaram por proteção uma vez que o mercado ficará fechado em razão do carnaval. Das 87 ações que compõem a carteira teórica do índice, apenas oito subiram. Na semana, o Ibovespa recuou 3,40%, e no mês acumulou perdas de 2,64%.

A B3, bolsa de valores brasileiras, ficará fechada na segunda-feira (3) e terça-feira (4) de carnaval, e só voltará a funcionar na Quarta-Feira de Cinzas, após 13 h, com pré-abertura às 12h45.

Gleisi assume o cargo no lugar de Alexandre Padilha, indicado para o Ministério da Saúde com a saída de Nísia Trindade.

O principal índice da B3 caiu 1,60%, aos 122.799,09 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril perdeu 1,49%, aos 124.640 pontos. O giro financeiro foi de R$ 35,9 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em alta.

Alexsandro Nishimura, diretor da Nomos, disse que o pré-carnaval e os fatores internos puxaram a bolsa pra baixo.

“O Ibovespa refletiu a cautela dos investidores diante da proximidade do feriado prolongado pelo Carnaval, mas se intensificou após a divulgação da nomeação de Gleisi Hoffmann para assumir a articulação política do governo. Gera preocupação no mercado pois há uma percepção de que a deputada federal compõe uma ala mais radical do partido, além de ter sido voz ativa contra medidas de ajuste fiscal, o que pode dificultar a agenda econômica”.

Rafael Passos, analista e sócio da Ajax Management, disse que o nome da Gleisi Hoffmann para articulação política é mal-vista pelo mercado.

“A indicação é ruim porque é mais um ministério que fica preso no PT, e seguir esse direcionamento tem se mostrado errado. Com a queda da popularidade do Lula, se esperava a entrada de outros partidos da base aliada [no governo]. Se acontecesse, a agenda que ele defende poderia ser um pouco desidratada ou teria um melhor direcionamento. A reforma ministerial seria uma das saídas, abrindo para base que não fosse o PT, mais para o centro poderia ter um viés mais positivo político, e consequentemente um direcionamento mais diferente para o econômico”.

Gustavo Jesus, sócio da RGW Investimentos, disse que o nome de Gleisi Hoffmann para articulação política é “bem ruim por ela faz parte dessa área mais radical e retrógrada do PT, e sem muita afinidade ou compromisso com ajuste fiscal. Ela é sempre crítica ao ajuste fiscal. Essa vaga de articulação política demanda de muita capacidade de comunicação e articulação. É necessário formar consensos, convencer e esse não é muito estilo da Gleisi. O estilo dela é mais combativo e isso me deixa com várias dúvidas”.

Julio Hegedus Netto, da Confiance Tec, disse que “Gleisi na secretaria de governo não tem uma leitura boa do mercado. Os movimentos deste governo são sempre meio erráticos e a central de boatos segue a toda”.

Mais cedo, Rubens Cittadin, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que as commodities pressionam o índice e tem cautela pré-feriado.

“A Vale e Petrobras estão pesando no Ibovespa, acompanhando a cotação do minério de ferro e o petróleo. Além disso, a Marfrig devolve a alta de ontem [em razão do balanço]. O mercado também fica cauteloso com o pré-feriado. Ninguém vai querer dormir vendido ou comprado”.

Em relação ao PCE americano não fez preço hoje, disse Cittadin, mas continua o alerta com a inflação.

“Com as tarifas do Trump [que entram em vigor no dia 4 de março para China, México e Canadá], virá mais inflação e isso será refletido em abril [com o PCE de março]. Isso tudo drena a liquidez mundial e traz um cenário mais pessimista pra Brasil, com menos estrangeiro aqui e juros mais altos pra não depreciar o câmbio”.

O operador de renda variável da Manchester Investimentos disse que no pós-carnaval, o Congresso volta e o mercado vai seguir olhando para os balanços do quatro trimestre de 2024 e questões fiscais.

No mercado de câmbio, o dólar fechou em alta de 1,47%, cotado a R$ 5,9153. O movimento teve reflexo imediato do convite que o presidente Lula fez à deputada e presidente do PT, Gleisi Hoffmann, para assumir a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República. Na semana e no mês, a divisa estadunidense fechou em alta de 3,25% e 1,37%, respectivamente.

“Dada toda a pressão do Congresso, vemos que é necessário fazer reforma ministerial. Esta reforma deve acomodar de forma mais fiel a composição atual do Congresso, o que em tese daria mais governabilidade. Mas o que temos visto recentemente é que os anúncios foram feitos a conta gotas – mas após o Carnaval devemos ter muito mais mudanças – e nomeações como a Gleisi não são bem vistas pelo mercado porque não está linha com a ideia de criar um bom relacionamento”, opinou o analista da Potenza Capital Bruno Komura.

“A Gleisi é uma pessoa importante do PT, mas acaba tendo um discurso e postura que atende apenas ao núcleo mais a esquerda. O momento é de moderação, mesmo com a queda de popularidade e achamos difícil disso acontecer com essas medidas”, prosseguiu Komura.

Para o economista-chefe da Nova Furtura Investimentos, Nicolas Borsoi, o PCE teve pouco impacto: “O mercado está sem grandes convicções. Estamos passando por uma onda de ajustes muito violentos. Existe muita incerteza tanto aqui quanto lá fora”.

Mais cedo, foi divulgado que o índice de preços para os gastos pessoais (PCE) avançou 0,3% em janeiro e 2,5% em base anual.

Borsoi entende que a divisa estadunidense ainda busca por um ponto de equilíbrio, que atualmente gira em torno de R$ 5,90.

Da mesma forma que o dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em alta. O driver do dia foi a indicação de Gleisi Hoffmann para ocupar a pasta de Relações Institucionais. Além disso, o mercado também tem uma postura cautela com o carnaval.

Por volta das 16h38 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,965% de 14,810% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 15,0252%, de 14,825%, o DI para janeiro de 2028 ia a 14,975%, de 14,740%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 15,040% de 14,810% na mesma comparação.

No exterior, os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão desta sexta-feira em alta, revertendo as perdas registradas ao longo do dia, apesar das tensões geopolíticas exacerbadas por um confronto entre o presidente Donald Trump e seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, na Casa Branca.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +1,39%, 43.840,91 pontos
Nasdaq 100: +1,63%, 18.847,3 pontos
S&P 500: +1,58%, 5.954,50 pontos

 

Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Agência Safras News