Bolsa fecha em queda e dólar fecha estável, em sessão marcada por decisão do Fed e espera por pacote de ajuste fiscal

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São Paulo, 7 de novembro de 2024 – O Ibovespa fechou novamente em queda, à espera do corte de gastos do governo federal e dos balanços corporativos trimestrais após o fechamento do pregão.

O índice acentuou as perdas por volta de 15h, quando circulou uma informação apurada pela CNN Brasil de que haveria duas propostas de cortes de gastos em análise pelo presidente Lula, uma de até R$ 15 bilhões e outra de R$ 10 bilhões. Ambas estariam abaixo da expectativa dos investidores, de uma redução de gastos acima de R$ 30 bilhões.

Segundo nota divulgada pela Fazenda uma hora depois, “não procedem informações veiculadas nesta quinta-feira (7) sobre a suposta análise de duas medidas fiscais, uma de R$ 15 bilhões, relacionada às áreas de saúde e transporte, e outra de R$ 10 bilhões. É importante ressaltar que tal informação não corresponde ao que vem sendo debatido entre a equipe econômica, demais ministérios e a Presidência da República”, disse a Fazenda, em nota.

Os investidores também acompanharam a decisão amplamente esperada do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de cortar a taxa de juros em 0,25 ponto percentual (pp), para a faixa entre 4,50% e 4,75% ao ano, em decisão unânime.

Os traders agora digerem as informações apresentadas pelo presidente do Fed, Jerome Powell, na coletiva de imprensa após o anúncio, sobre qual serão os movimentos futuros dos juros americanos. O presidente do Fed disse que as eleições não terão impacto nas decisões da autoridade monetária no curto prazo e evitou fazer previsões à frente.

O principal índice da B3 fechou em queda de 0,50%, aos 129.681,70 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro subiu 0,28%, aos 130.865 pontos. O giro financeiro foi de R$ 18,6 bilhões. Em NY, as bolsas fecharam em alta.

As ações de maior peso do índice contribuíram positivamente, com destaque para Vale, que avançou 3,48% com a alta do minério de ferro no exterior. Os papéis da Petrobras (PETR3 +0,70% PETR4 +0,31%) também subiram às vésperas do balanço que será divulgado após pregão.

As maiores altas do dia foram da Vale (VALE3), CSN (CSNA3), Bradespar (BRAP4) e Gerdau (GGBR4), enquanto os destaques negativos foram Petz (PETZ3), com queda de 14,52%, seguida pela Totvs (TOTS3 -8,44%), Cogna (COGN3 -7,18%) e CVC (CVCB3 – 6,75%).

“A alta no minério de ferro impulsiona ações ligadas a commodity. Petz opera em queda após reportar um resultado ainda pressionada, no geral, abaixo do consenso. Totvs opera em queda, mesmo após um resultado bom, possivelmente decepcionando investidores que estavam mais otimistas”, comenta a corretora Ativa.

Em relatório sobre o Ibovespa, a XP comenta que mesmo em um contexto de deterioração macro, a Bolsa tem demonstrado resiliência, com o Ibovespa se mantendo em torno da marca dos 130 mil pontos nos últimos meses. “Ao longo do ano, o cenário macroeconômico doméstico se deteriorou, impactando negativamente os ativos brasileiros. Do ponto de vista global, o cenário se tornou mais positivo o Federal Reserve (Fed) iniciou seu ciclo de cortes de juros e a China surpreendeu os mercados com anúncios de estímulos. Porém, no Brasil, o cenário é oposto, com uma combinação de taxas de juros mais altas e ruídos fiscais levando a uma piora das expectativas do mercado em relação ao macro doméstico”, comenta.

Com isso, os ativos brasileiros vêm sofrendo. “O dólar chegou próximo a suas máximas históricas, também impulsionado pela eleição de Donald Trump, se desvalorizando em torno de 17% no acumulado do ano. Quanto aos juros locais, as taxas reais de longo prazo subiram de cerca de 5,5% para quase 7%. No entanto, o Ibovespa se mostra relativamente resiliente nesse cenário: o índice cai apenas em torno de 3% em 2024”, observa a XP.

“Nós vemos isso como resultado de quatro principais fatores. Do lado micro, o crescimento de lucros das empresas está sólido, impulsionado por um crescimento projetado do PIB em torno de 3%, e os ativos brasileiros estão baratos, com o Preço/Lucro projetado para o Ibovespa abaixo de mercados emergentes e desenvolvidos. Além disso, fortes recompras de ações e pagamentos de dividendos também contribuem para uma performance mais positiva do que o esperado para o índice. Do lado macro, os anúncios de estímulos da China surpreenderam positivamente e melhoraram o cenário global, apesar de não terem tido impactos diretos sobre os fluxos para o Brasil até o momento”, analisa a XP.

Sobre a decisão do Fed, Victor Furtado, head de alocação da W1 Capital, comenta que “a decisão foi unânime e mostra clareza na cautela em que o Fomc irá seguir nos próximos cortes, com os dados de atividade forte e uma inflaçao convergindo a meta, é possível que os EUA faça o pouso-suave e consiga ter um ritmo tranquilo de cortes até chegar em sua estabilidade.”

Para Idean Alves, planejador financeiro, “diante da demora para a apresentação de um pacote fiscal, ações do setor de bancos como Bradesco, Itaú e Santander são penalizadas hoje. Já entre as altas, temos Vale, que se favorece da alta do minério de ferro hoje. Petrobras em alta com investidores na expectativa do balanço que será divulgado mais tarde”, comentou.

O dólar comercial fechou estável, cotado a R$ 5,6757. A moeda refletiu, ao longo da sessão, as incertezas sobre fiscal doméstico e, ao final da sessão, a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de cortar em 0,25 ponto percentual a taxa básica de juros.

Segundo o analista da Potenza Capital Bruno Komura, a decisão veio em linha com as expectativas do mercado: “No geral, o crescimento da economia americana é bastante robusto. O Fed deve ser moderado nas próximas reuniões”, opina.

Komura acredita, porém, que este crescimento deve fazer com que a taxa terminal fique acima do esperado, mas que tal cenário não deve mudar o ritmo dos cortes para controlar a inflação estadunidense.

De acordo com o sócio da Top Gain Leonardo Santana, os juros altos praticados no Brasil favorecem o carry trade, aumentando o fluxo estrangeiro.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham mistas depois que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) cortou a taxa de juros em 0,25 ponto percentual (pp), para a faixa entre 4,50% e 4,75% ao ano, em decisão unânime.

Por volta das 16h50 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 11,384% de 11,362% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 13,000%, de 12,975%, o DI para janeiro de 2027 ia a 13,020%, de 13,045%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 12,940% de 12,035% na mesma comparação. O dólar opera em alta, cotado a R$ 5,6790 para venda.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos ganharam ímpeto no final da tarde e fecharam em alta, mesmo após o Dow Jones operar em queda ao longo de todo o pregão. O otimismo ocorre enquanto os traders avaliam o mais recente corte de taxa de juros por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que levou os índices às máximas do dia na sessão.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,009%, 43.729,34 pontos
Nasdaq 100: +1,51%, 19.269,5 pontos
S&P 500: +0,74%, 5.973,10 pontos

Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo (Safras News)

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