São Paulo- Em mais uma sessão de aversão ao risco, a Bolsa fechou em queda em dia da divulgação da ata do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) considerada mais dura por alguns analistas e sem novidades por outra parte do mercado, uma vez que na véspera dirigentes da instituição sinalizaram um aperto na política monetária.
No documento, a autoridade monetária sinalizou a redução do balanço patrimonial em US$ 95 bilhões e indicou aumento na taxa de juros em 0,50 ponto porcentual (pp) nas próximas reuniões para combater a inflação.
Por aqui, as smalls caps-empresas domésticas com menor representatividade em termos de volume- foram destaque de baixa devido à rápida valorização nos últimos 30 dias “e os investidores buscam as blue chips, principalmente as commodities.”, disse uma fonte. Enquanto a CVC(CVCB3) e Banco Inter (BIDI11) lideraram a queda de 9,25% e 8,69%; a Vale (VALE3) fechou em alta de 1,51%.
O principal índice da B3 caiu 0,55%, aos 118.227,75 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril perdeu 0,72%, aos 118.340 pontos. O volume financeiro foi de R$ 30,7 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.
Romero Oliveira, head de renda variável da Valor Investimentos, disse que o mercado ficou surpreso porque o tom da ata do Fed foi mais hawish. “O mercado respondeu bem rápido com o recuo da Bolsa, alta do dólar e, principalmente, as small caps caíram bem”.
Oliveira comentou que a perspectiva de alta dos juros foi mais dura e que “o recado foi passado porque estão preparados para tomar as medidas mais fortes caso os indicadores de inflação continuem surpreendendo negativamente. A guerra da Ucrânia piorou as perspectivas e deixou o mercado mais incerto”.
Apesar de a Bolsa ter desacelerado a queda, “o mercado vai continuar repercutindo a ata e os próximos dados de inflação vão ser importantes para o mercado entender qual a medida que o Fed vai tomar”.
Cristiane Fensterseifer, analista da Empiricus, disse que a Bolsa mantém o movimento negativo do final do pregão de ontem com uma deterioração forte na expectativa da ata do Fed. “O documento deve vir mais duro que o esperado anteriormente após alguns dirigentes afirmando que uma alta de 0,50 ponto porcentual [nos juros] era uma possibilidade, que o mercado de trabalho está apertado e que é importante trazer a inflação pra níveis mais aceitáveis”.
Cristiane destacou o comentário da vice-presidente do Fed que foi “uma virada de chave para o mercado esperar uma ata mais dura”. Ela costuma adotar um perfil mais dovish em relação à política monetária e ontem o tom foi mais austero. Com esse cenário, os rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americanos permanecem em alta impactando as bolsas.
A analista da Empiricus comentou que como pano de fundo está o agravamento da guerra da Ucrânia. “Na semana passada, as notícias caminhavam para um fim do conflito e agora existe uma piora da situação. Com as novas sanções pressiona mais a inflação nos Estados Unidos e também ajuda a elevar a posição mais dura do Fed”.
No radar dos investidores está o avanço de casos de covid na China atrapalhando a economia. “Até poderia arrefecer a questão da inflação do Fed com a China parando, mas o mercado entende que os lockdowns são pontuais e impactam a cadeia de suprimentos, o que não abranda os preços das commodities e coloca mais um item de risco para os investidores”.
O dólar comercial fechou em R$ 4,7150, com alta de 1,15%. A moeda subiu durante toda a sessão e ganhou ainda mais força após a divulgação da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), que confirmou que o próximo aumento dos juros será de 0,5%, além de reforçar a preocupação com a inflação global.
Segundo o sócio fundador da Pronto! Invest, Vanei Nagem, “a ata da reunião confirmou o que já esperavam, além da escalada global da inflação”. Nagem acredita que a recessão nos Estados Unidos já é uma realidade, e que isso certamente deve ter reflexos no Brasil.
A situação na China, que divulgou o crescimento do setor de serviços em 42 pontos contra 50,2 pontos registrados em fevereiro, também preocupa, frisa Nagem, já que impacta diretamente não apenas no real mas também em seus pares emergentes ligados às commodities.
A continuidade do conflito na Ucrânia não apenas também contribui com a inflação global, principalmente no petróleo, e aumenta a aversão ao risco, analisa Nagem.
De acordo com o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, “este movimento de correção ocorre em virtude do aperto monetário nos Estados Unidos gerar uma recessão, um ‘pouso forçado’. Existe cautela com a ata do Fomc”. Rostagno também pontuou que os dados sobre a atividade chinesa reforçam o “mau humor” com as moedas ligadas às commodities.
Por mais que o conflito na Ucrânia continue reforçando a entrada de capital estrangeiro no Brasil, Rostagno é enfático: “Começamos a ver os primeiros sinais de que o real pode ter dificuldades para atingir novas máximas”, observa.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta após ata do FED sem novidades.
O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 12,750% de 12,715% % no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,100%, de 12,000%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,440%, de 11,335% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,205% de 11,085%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam em queda após o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sinalizar a redução de seu balanço em US$ 95 bilhões e juros maiores para combater a inflação, o que levanta temores sobre uma desaceleração na economia.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,42%, 34.496,51 pontos
Nasdaq 100: -2,22%, 13.888,8 pontos
S&P 500: -0,97%, 4.481,15 pontos