Bolsa fecha em queda e dólar sobe com fala de Lula sobre teto de gastos e indicação de Mantega

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São Paulo -A Bolsa fechou mais um pregão em queda com os sustos vindos de Brasília em meio a falas do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva sobre ampliar teto de gastos e a confirmação do nome do ex-ministro da Fazenda em gestões petistas, Guido Mantega, para a área do planejamento, orçamento e gestão do governo de transição de governo Lula.

Somado a isso, o setor bancário, a Petrobras (PETR3 e PETR4) e os papéis ligados aos juros futuros sofreram na sessão desta quinta-feira. Os bancos foram puxados pelos recentes balanços do setor, após o Bradesco e Santander divulgarem resultados que desagradaram o mercado.

Os investidores esperam pelo desempenho do Itaú (ITUB4), após o encerramento dos negócios, e aguardam pela provisão dos devedores. As ações do Itaú (ITUB4) caíram 1,88%. Segundo um analista, o mercado de consumo está sofrendo com o aumento do custo do dinheiro e “os bancos vão se tornar mais seletivo para emprestar dinheiro e isso pode impactar na Black Friday”.

O principal índice da B3 caiu 3,34%, aos 109.775,46 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro perdeu 3,42%, aos 110.940 pontos. O giro financeiro foi de R$ 54,3 bilhões. Em NY, os índices fecharam em alta.

Para Rodrigo Cohen , analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos, a queda da Bolsa foi motivada pelo receio dos investidores em relação à política fiscal do governo eleito. “Lula tem feito discursos para os pobres e o mercado não gosta porque esbarra no furo do teto de gastos reforçou que é contrário às privatizações e voltou a criticar os dividendos recém anunciados pela Petrobras, o que faz o mercado temer influência política”. As ações da Petrobras (PETR3 PETR4) caíram 1,43% e 3,15%.

Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos, disse que o humor do mercado azedou com a confirmação do nome de Guido Mantega par ao Planejamento. “A volta de Mantega remete à época de deliberação de gastos desenfreados e assusta o mercado. Temos de lembrar que quando era ministro o cenário externo era outro, a nosso favor, agora está contra todos”.

Simone também criticou as falas, mais cedo, do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. “O discurso de Lula foi muito confuso, não imaginei que fosse adotar um tom de sindicalista e isso assusta o mercado. Eu sou a favor da política de transferência de renda, mas tem de achar soluções interessantes e não fazer um discurso inflamado”.

Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos, disse que a Bolsa cai forte com os investidores temerosos com “o menor controle das contas públicas no governo do presidente eleito Lula [Luiz Inácio Lula da Silva]; somado a isso, o setor financeiro também ajuda a puxar o índice para baixo repercutindo a inadimplência no crédito e pela Petrobras com receio de uma intervenção do próximo governo em seus preços”.

Leão acrescentou que a Vale e exportadoras estão “evitando que o índice caía mais”. Vale (VALE3) subiu 1,90% e se destacou entre as maiores altas do índice.

Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital, disse que o mercado está refletindo as incertezas em relação ao novo governo. “O cheque em branco que o povo assinou para o governo está sendo cobrado pelo mercado mesmo lá fora performando bem”.

Silva comentou que o destaque de baixa fica para a Petrobras e para as ações ligadas à curva de juros. “Os juros abrem bem na sessão de hoje e impactam esses papéis como as varejistas, concessionárias”. Os papéis das Americanas (AMER3) e Magazine Luiza (MGALU3) perderam respectivamente 9,50% e 11,18%.

Mais cedo, Nicolas Farto, especialista em renda variável da Renova Invest, disse que esta queda é um mix de fatores. “Cautela da equipe econômica do novo governo, com nomes pró-mercado e outros mais heterodoxos; inflação acima do esperado por aqui; à espera da inflação dos EUA que ainda deve seguir pressionando e queda das commodities impactando forte nas ações de peso do índice.

Mais cedo, um analista de um grande banco que não quis se identificar disse que o movimento do mercado nesta manhã reflete a PEC da Transição e “a preocupação com retirada do teto de gastos e o temor que isso seja de forma permanente”. Mais cedo, nos Estados Unidos, foi divulgado o índice de preços ao consumidor (CPI, sigla em inglês) aumentou 0,4% em outubro em relação ao mês anterior e avançou 7,7% em base anual. O resultado veio melhor que o esperado.

O dólar comercial fechou em alta de 4,08%, cotado a R$ 5,3960. O mercado precificou um eventual descontrole fiscal no ano vindouro, o que criou um clima de fortíssima aversão ao risco.

Segundo o head de renda variável da Valor Investimentos, Romero de Oliveira, “os juros americanos deveriam favorecer as moedas emergentes, como o real, mas as declarações de Lula (PT) fazem com que os investidores tenham certa cautela. E isso reflete no dólar, com a percepção de risco Brasil aumentando”.

Se as falas do petista aceleraram o ritmo de queda do real, o anúncio do nome do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega como membro de grupo temático na equipe de transição do governo fez com que o dólar atingisse as máximas do dia, chegando a R$ 5,4000, e passasse dos 4%: “O mercado vai ter uma memória em relação às pastas que ele (Mantega) tocou. Isso reforça o ambiente de desequilíbrio fiscal”, opina Oliveira.

O movimento altista ganhou força após as falas de Lula, chegando a passar dos 3%. O futuro presidente abordou temas como a revisão de alguns pontos da reforma trabalhista, negou que a Petrobras será “fatiada” e pediu que os manifestantes “voltem para casa e não sejam violentos com quem pensa diferente”.

De acordo com a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “o CPI bem recebido pelo mercado. A sinalização do CPI é muito importante para um aumento de 0,5 ponto percentual (pp) na reunião de dezembro do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). Mas ainda tenho cautela, já que não é suficiente para garantir qual vai ser o patamar terminal dos juros nos Estados Unidos”.

O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) foi de 0,4% em outubro ante setembro, abaixo das projeções (0,6%), e na base anual a alta foi de 7,7% ante projeção de 7,9%.

Abdelamalack, contudo, acredita que o driver é majoritariamente doméstico: “Ficamos de olho em como será a tramitação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de Transição. A discussão das contas públicas gera cautela no mercado, e deve ser o primeiro teste de stress para o próximo governo. Enquanto não houver clareza com o gasto extra-teto, o mercado vai ficar estressado”, avalia.

Para o analista da Ouro Preto Investimentos Bruno Komura, “o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) veio ruim, mas o Lula colocar todos os benefícios sociais fora do teto é péssimo para o fiscal”. A inflação de outubro ante setembro foi de +0,56%, acima das expectativas do mercado (0,46%).

Komura entende que o cenário pode se deteriorar com a inflação dos Estados Unidos de outubro, e que caso o resultado venha ruim, reforça a continuidade do ciclo de aperto monetário mais hawkish (duro, propenso ao aumento dos juros) do Fed.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em forte alta, com preocupações fiscais no radar. O mercado teme que o governo eleito possa promover uma forte ampliação de gastos no início do mandato.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,716% de 13,668% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,630%, de 13,050%, o DI para janeiro de 2025 ia a 13,050%, de 12,020% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,980% de 11,900%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam em forte alta, com a Nasdaq subindo mais de 7% e o S&P com alta acima de 5%, com os investidores otimistas que a inflação do país tenha chegado ao seu pico após a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de outubro.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +3,70%, 33.715,37 pontos
Nasdaq 100: +7,35%, 11.114,1 pontos
S&P 500: +5,54%, 3.956,37 pontos

 

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA