Bolsa fecha em queda e dólar sobe no último pregão do mês

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São Paulo – A Bolsa encerrou a última sessão de setembro com queda de 0,11%, aos 110.979,10 pontos, acompanhando o mau humor do mercado externo, no mês apontou retração de 6,57% e no ano acumulado perda de 6,75%.
Nem mesmo os dados econômicos mais favoráveis internamente com o Relatório Trimestral de Emprego (RIT) e o resultado da Pesquisa de Amostra de Domicílio Contínua (Pnad) -apontou queda a 13,7% no trimestre encerrado em julho-ajudaram a manter o otimismo da primeira metade do pregão, que chegou a subir mais de 1%.
Os investidores ficaram com as atenções voltadas para os Estados Unidos à espera de definições sobre o teto da dívida do país para evitar um o ‘shutdown” (paralisação da máquina pública).  A Câmara dos Deputados do país aprovou o projeto de lei que impede a suspensão das atividades do governo federal no fnal desta semana e assegurou o funcionamento até 3 de dezembro.
Para Rodrigo Natali, diretor de estratégia da Inversa, as exportadoras estão perfomando melhor que as small caps [empresas domésticas com menor participação em termos de volume negociado] com o movimento o dólar. “Acredito em uma apreciação do dólar por razões internas e externas e um deslocando de posições para as exportadoras”.
O diretor de estratégia da Inversa acredita que o movimento da Bolsa está atrelado ao externo. “No início do pregão lá fora tinha alta expressiva, depois virou e refletiu aqui, apesar de que o Ibovespa poderia ter tido piorado ainda mais, mas não aconteceu.” Natali comentou sobre o leilão de swap de 10 mil contratos realizado há pouco pelo Banco Central. “Quando foi anunciado o dólar estava a R$ 5,48 e na hora caiu, há tempos que o BC não faz um leilão desse porte no próprio dia e no final da tarde, período com menos liquidez. Parece que o objetivo é derrubar a cotação”.
Mais cedo, a fala do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano, Jerome Powell, na Câmara, reforçando que usará todas as ferramentas possíveis para poder alcançar o objetivo, o Ibovespa chegou a cair por um tempo, mas voltou a subir.
Para o analista José Costa Gonçalves, da Codepe Corretora, o motivo da virada foi a fala de Powell. “O presidente do Fed quando diz que pode utilizar todas as ferramentas possíveis pode ser o aumento de juros”.
No Relatório de Inflação, o Banco Central subiu a estimativa de crescimento para o Produto Interno Bruto (PBI) em 2021 de 4,6% para 4,7% e elevou previsão para a inflação deste ano em 2,7 pontos porcentuais (pp), para 8,5%. A previsão está 3,25 pp acima do teto da meta esperada para 202.
O presidente do Banco Central disse que a taxa básica de juros (Selic), hoje em 6,25% ao ano (aa), deve caminhar para “significamente contracionista” se referindo ao nível da taxa do atual ciclo de aperto monetário.
Para Flávio de Oliveira, head de renda variável da Zahl, os dados econômicos internos mais favoráveis somados ao alívio no exterior e a Bolsa brasileira barata levam à alta do Ibovespa, embora deva fechar o mês de setembro no negativo. “A Bolsa está negociando em patamares razoavelmente baixos levando em conta os múltiplos e o preço sobre o lucro (PL) da Bolsa. Trabalhamos com um cenário mais altista e acreditamos que muita coisa se deteriorou desde o dia 7 de setembro, as reformas por aqui podem não acontecer na forma que se esperava, mas vê que os precatórios vão ser resolvidos porque não vai ter dinheiro para as emendas parlamentares, por exemplo”.
Powell reiterou em seu discurso hoje na Câmara que a economia está longe do pleno emprego e que a inflação deve permanecer alta por algum tempo antes de melhorarem e o mercado espera mais sinalizações sobre o tapering. “O mercado tem receio dessa retirada de estímulos da economia dos Estados Unidos e quando isso acontecer pode gerar volatilidade. Já tivemos remoções anteriores e com elevação de juros e os investidores não digeriram bem. O mercado está demandante de retirada de estímulos”, afirmou Oliveira.
O head de renda variável da Zahl Investimentos ressaltou que está com as atenções voltadas para a China, juros norte-americanos e as reformas por aqui. “Estamos de olho na evolução de China e o impacto no questão do PIB do país, a política de  juros norte-americana e as reformas estruturais no Brasil.
O dólar encerrou a sessão em alta de 0,34%, cotado a R$ 5,4490 para venda. Em dia de fechamento da Ptax (taxa na qual serão baseados os contratos do próximo mês), além do risco inflacionário doméstico que não se dissipa, a moeda norte-americana ganha força ante o real. Em setembro, o dólar valorizou 5,6%, enquanto, no trimestre, avançou 9,59%.
“O dólar subiu mais de 5% este mês, e vai se fortalecendo tanto aqui quanto lá fora. Ele ganha das moedas emergentes e dos seus pares (DXY)”, pontua o analista de riscos da Ajax Capital, Rafael Passos. Por ser fechamento de mês, o analista também vê hoje como uma data atípica para o câmbio.
Passos acredita que vem ocorrendo uma diminuição no ritmo: “Economias desenvolvidas já mostram uma desaceleração, o que não é necessariamente ruim. Tudo depende de quanto tempo isso irá durar. A China, em especial, acendeu a luz amarela”, contextualiza.
Além das questões externas, o cenário doméstico continua sendo um empecilho para o fortalecimento do real: “O dólar acompanha o estresse do risco inflacionário. A ata do Copom manteve a previsão de 1 ponto percentual para as próximas reuniões, mas o mercado pensa que esta elevação deveria ser maior”, opina passos.
Na opinião do analista, “o mercado está muito cético em relação à inflação. O ponto é se o Banco Central (BC) vai continuar neste ritmo. É muito difícil prever um horizonte de médio prazo”.
De acordo com a equipe da Ouro Preto, “ainda tem um espaço para respiro, por mais que os números dos Estados Unidos tenham vindo abaixo do esperado”. Segundo a empresa, isso não altera o início do tapering (remoção de estímulos) para novembro, em linha com as declarações dos dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).
Os problemas domésticos, contudo, continuam afetando o câmbio mais fortemente do que o mercado: “Continuamos com as questões nos precatórios e reforma do imposto de renda. Vemos muita conversa e as coisas não andam. Isso afasta os investidores estrangeiros, que fogem do risco”, avalia a Ouro Preto.
As taxas dos contratos futuros do Depósito Interfinanceiro (DI) fecharam em alta com incertezas fiscais.
O DI para janeiro de 2022 fechou com taxa de 7,200%, de 7,180% no ajuste de ontem; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 9,200%, de 9,120%; o DI para janeiro de 2025 ia a 10,280%, de 10,210% antes e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,690%, de 10,570%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam em baixa, acentuando o movimento de queda após a Câmara dos Representantes chancelar um projeto do Senado que garante o funcionamento do governo federal até dezembro, mas não resolve a questão do limite da dívida – principal preocupação dos investidores.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: -1,59%, 33.843,92 pontos
Nasdaq Composto: -0,44%, 14.448,60 pontos
S&P 500: -1,19%, 4.307,54 pontos