Bolsa fecha em queda e dólar sobe por exterior, fiscal e política

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São Paulo – Pelo segundo dia consecutivo, a Bolsa fechou em queda e o motivo veio do exterior com o recuo do minério de ferro na China devido à redução da produção do aço no país. As empresas ligadas às commodities despencaram aqui e no mundo. O principal índice da B3 caiu 1,10%, aos 113.794,28 pontos. O volume financeiro foi de R$ 30,7 bilhões.
O minério de ferro caiu 8,09% no porto chinês de Qingdao, e 3,2% na bolsa de Dailan, também na China, diante da redução na produção do aço no país e sua política de regulação. O reflexo do recuo do minério impactou todas as ações ligadas às commodities no mundo. Os papéis da Anglo America desvalorizaram 4,57%, Rio Tinto perderam 4% e Glencore baixaram 2,17%. As ações Vale (VALE3), que têm um peso de 14,47% no índice, caíram 4,15% e as siderúrgicas Usiminas (USIM 5) e CSN (CSNA3) recuaram 5,40% e 6,17% respectivamente.
Para Marcelo Faria, head de renda variável da Porto Seguro Investimentos, o cenário externo está pesando no pregão de hoje, com o recuo das commodities – minério, cobre e petróleo. “A queda de hoje é 100% vindo no exterior. Os dados de China não estão vindo fortes e não há uma sinalização clara de uma medida estimulante e isso tem prejudicado o mercado, além da historia da Evergrande”, comentou.
Faria ressaltou que as chamadas “small caps” [empresas domésticas com menor participação em termos de volume negociado] estão “com melhor performance hoje” que as big caps ” isso me leva a crer que existe um fluxo de saída mais típico de estrangeiro em função do cenário externo, ou seja, os papéis mais procurados por estrangeiros estão em queda”.
Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos, atribuiu a queda na Bolsa às commodities. “As commodities estão pesando muito no mercado. A China está preocupando os investidores. A segunda maior construtora do país -Evergrande-está endividada e isso mexe tanto com o minério de ferro como com o aço, e como o país asiático é uma potência impacta o Brasil, os emergentes e o mundo como um todo”.
Mastromonico comentou que “há uma visão  que a Vale está barata, mas o mercado se desespera bastante com essa queda de 8% no minério de ferro”. O operador de renda variável da B.Side Investimentos também citou que os ruídos internos em relação aos precatórios e Imposto de Renda (IR) prejudicam muito o mercado. “O Senado parece que não vai aprovar a reforma do IR e  isso causa muita instabilidade. Nunca um governo teve de pagar precatórios tão altos como esses, o Judiciário colocou uma ‘bomba’ no colo do governo”.
Na véspera, em um evento o ministro da Economia, Paulo Guedes, pediu ajuda do Legislativo e Judiciário para resolver o problema com os precatórios. Mais tarde, em uma entrevista à radio Jovem Pan, o ministro novamente pressionou o Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o tema.
Vale lembrar que os precatórios são decisivos para o futuro do novo Bolsa Família e a intenção do governo é proporcionar o reajuste do pagamento visando as eleições do próximo ano. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) afirmou que a solução dos precatórios sairá de negociações no Congresso. Hoje, Lira voltou a dizer que as declarações do presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, na Câmara, sobre os preços dos combustíveis não foram convincentes. As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) tiveram forte queda de mais de 2%, mas melhoraram a perda.
Pela manhã foram divulgados os pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos, Mas não tiveram reflexo nos negócios por aqui. O número de auxílio desemprego subiu para 332 mil na semana encerrada no dia 11 de setembro. O mercado previa 320 mil solicitações. As vendas no varejo subiram 0,7% em agosto na comparação com julho, acima das expectativas do mercado, que previa queda de 0,8%.
O dólar fechou em R$ 5,2660, com alta de 0,67%. Esta elevação deve-se ao temor de uma desaceleração mais forte na China e aos índices positivos dos Estados Unidos. No âmbito interno, as já habituais incertezas fiscais continuam preocupando o mercado e enfraquecendo o real.
Para o economista da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “os números ruins do varejo chinês, somados à notícia de que a Evergrande gigante incorporadora chinesa – está em moratória, apontam a desaceleração da China”.
Em contrapartida, os indicadores nos Estados Unidos são animadores: “As vendas no varejo foram muito fortes, apesar da variante Delta. Isso é um indicativo de que talvez o FED antecipe o tapering (remoção de estímulos)”, pontua Borsoi.
Já no cenário interno, as preocupações fiscais – como os precatórios – começam a fazer par para o ressurgimento de um ambiente político conturbado: “A carta do Bolsonaro começa a perder força, como foi visto na devolução da MP das fake news pelo (presidente do Senado, Rodrigo) Pacheco e na convocação da ex-mulher de Bolsonaro, Ana Cristina Valle, para depor na CPI da Covid”, enfatiza Borsoi.
Segundo o economista da Renascença Corretora, Daniel Queiroz, “as preocupações fiscais têm deixado o mercado receoso, e isso não traz alívio há algum tempo. A leitura do mercado é que faltam ações efetivas. A paciência está se esgotando”, enfatiza.
De acordo com o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, “o aumento do varejo nos Estados Unidos é algo mais pontual (+0,7 em agosto ante julho, enquanto as expectativas eram de -0,8%) – assim como a queda do preço do minério de ferro – sem grandes impactos no câmbio”.
Por outro lado, Weigt vê um real bem resiliente, com pequenas oscilações nas últimas semanas, com exceção dos dias 8 e 9 de setembro, datas que envolveram os impactos do discurso do presidente no Dia da Independência e a carta do chefe do executivo, respectivamente.
“O fundamento é de um real ainda bastante desvalorizado, mas este movimento de taxas de juros é benéfico para a moeda brasileira”, fala Weigt, referindo-se à Selic (taxa básica de juros), que deve sofrer aumento de 100 pontos percentuais na próxima semana.
Apesar disso, a parte fiscal ainda continua sendo o maior entrave ao real: “A questão fiscal continua sem direção, cada hora surge uma proposta”, pontua o Weigt. Ele ainda ressalta que, resolvendo estas celeumas, o dólar tende a cair com mais força até o final de 2021.
Após enfrentar uma sessão de forte volatilidade, as taxas dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) encerraram mistos, com os vencimentos mais curtos em alta ajustando para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da próxima semana e com os vencimentos médios e longos na estabilidade, diante das incertezas dos investidores com questões como reformas, política, crise hídrica, a parte fiscal do Brasil e retomada da economia global.
Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 7,035%, de 7,025% no ajuste de ontem; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 8,975%, de 8,94%; o DI para janeiro de 2025 ia a 10,13%, de 10,13% antes e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,55%, de 10,55%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo misto enquanto os investidores digeriam os últimos dados econômicos do país.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos por volta de 17h32 (de Brasília):
Dow Jones: -0,18%, 34.751,32 pontos
Nasdaq Composto: +0,13%, 15.181,9 pontos
S&P 500: -0,15%, 4.473,75 pontos