Bolsa fecha em queda e dólar sobe por frustação com Copom e possível extensão do benefício

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São Paulo – A Bolsa teve uma sessão muito volátil e fechou em queda com investidores apreensivos com a possibilidade de prorrogação do auxílio emergencial pelo governo até dezembro, incertezas em relação à aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos precatórios e insatisfação do mercado com a elevação de apenas 1,5 ponto porcentual (pp) na taxa de juros básica do País (Selic) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na véspera.
Somado a isso, o fator positivo foi a divulgação de bons balanços corporativos, como da Ambev, e a expectativa de resultado muito bom de Petrobras e Vale, após o fechamento do mercado.
O principal índice da B3 caiu 0,61%, aos 105.704,96 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro recuou 2,41%, aos 105.335 pontos. O volume financeiro foi de R$ 29,3 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.
Mais cedo, a Ambev divulgou o balanço e o lucro líquido foi de R$ 3,713 bilhões no terceiro trimestre, crescimento de 57,4%. Os papéis da AMBEV (ABEV3) subiram mais de 9%, destaque de alta no Ibovespa.
Os papéis de bancos caíram na sessão de hoje, apesar da elevação da taxa Selic que favorece o setor. Vale lembrar que as instituições financeiras começaram a divulgar seus balanços do terceiro trimestre, ontem foi o Santander e na semana que vem será a vez de Itaú e Bradesco.
A expectativa, segundo o analista CNPI e professor da Fipecafi Projetos, Fábio Sobreira, é de que “os grandes bancos devem perder parte de suas receitas com tarifas bancárias, as quais representaram cerca de 7,5% das receitas totais no primeiro semestre do ano, influenciando diretamente suas margens, que hoje giram em torno de 14%”.
Para Viviane Vieira, operadora de renda variável da B.Side Investimentos, a Bolsa está muito volátil devido ao cenário de incertezas com a PEC dos precatórios e o Auxílio Brasil. “O mercado entende que é muito difícil comprar Brasil e ficar alocado diante de ambiente de indefinições”.
A operadora de renda variável da B.Side Investimentos comentou que o mercado não gostou da decisão do Copom de elevar a taxa de juros em 1,5 ponto porcentual. “Deveríamos ter juros um pouco mais altos para acalmar o mercado, mas por outro lado a taxa mais alta acaba prejudicando as empresas e o crédito fica mais caro. O Banco Central tem um impasse e a solução vista pelo mercado é por meio do teto de gastos”.
Por outro lado, Viviane afirma que os balanços podem contribuir para um bom desempenho da Bolsa e acredita que os resultados das empresas venham bem positivos. “Alguns papéis vão conseguir ter uma performance melhor como Petrobras e bancos, mas o varejo continuar sofrendo”. E acrescentou que “temos de olhar as vendas de fim de ano para ver como essas ações varejistas vão performar”.
João Abdouni, especialista de investimentos ações da Inversa Publicações, afirmou que os ruídos políticos estressaram os juros e derrubam a Bolsa por conta de rumores de que “os parlamentares querem passar o auxílio emergencial de R$ 400 sem votar no Congresso”. O especialista da Inversa Publicações não acredita que isso ocorra.
Abdouni explicou que com a Selic em quase 8% faz com que a Bolsa depare com concorrentes e leva o investidor brasileiro retirar parte do seu capital da renda variável, aumentando a parcela de renda fixa de sua carteira. “A elevação da taxa de juros drena um pouco o capital da Bolsa porque boa parte dos investidores brasileiros faz migrações e os estrangeiros acabam investindo em renda variável. O Ibovespa está enfrentando muita concorrência com as BDRs-ações norte-americanas- e as criptomoedas, é um momento até interessante para o investidor devido às várias opções”.
Por outro lado, os balanços corporativos criam boas expectativas. “O resultado do Santander divulgado na véspera foi muito bom e sinaliza que os balanços do Itaú e Bradesco devam vir excelentes”. Abdouni disse que o mercado espera bons resultados de Petrobras e Vale, ligados ao minério e dólar forte, só que a bolsa está sofrendo a concorrência e gera essa volatilidade”.
O dólar comercial fechou em R$ 5,6260, com alta de 1,25%. Influenciada pelo adiamento da votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios – o que gera ainda mais incertezas sobre o orçamento de 2022 -, a moeda norte-americana não arrefeceu durante toda a sessão.
Para o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, “cada hora é uma notícia pior quer a outra. O dólar hoje está caindo lá fora, mas toda a bagunça interna em cima disso (fiscal) gera esta volatilidade constante”.
Vieira também enfatizou que a alta do Comitê de Política Monetária (Copom) era para ter surtido o efeito inverso: “Estamos à mercê do contexto global, ninguém sabe o que vai acontecer”, lamentou o economista.
De acordo com a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “o mercado tinha uma expectativa que o Banco Central (BC) fosse até mais hawkish (austero). Existe sempre a impressão de que ele (BC) está atrás da curva, que usa um remédio menos amargo do que deveria”.
O novo adiamento da votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios também vai ganhando contornos dramáticos: “O governo colocou todas as fichas do orçamento de 2022 nesta PEC. Isso (a aprovação) não é algo tão trivial como disse o (ministro da Economia) Paulo Guedes”, observa Abdelmalack.
Segundo o head de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, “o Banco Central, ontem, fez o papel dele, pois o balanço de riscos – fiscal e inflação, por exemplo – só piorou”. Weigt ressalta que embora a declaração da instituição não tenha sido forte, a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) pode ser mais conclusiva.
Para Weigt, o problema vai além do fiscal: “O político está mandando, como no caso dos Precatórios, já que a votação ocorre na Câmara dos Deputados. Esta indefinição é precificada no câmbio”, aponta. Weigt também acredita que mesmo com o rompimento do teto, o mercado se acalmaria caso soubesse que isso não aconteceria novamente.
Assim como o câmbio, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em forte alta após governo sinalizar extensão do auxílio emergencial, diante da resistência de ala importante da Câmara em relação à PEC dos Precatórios, que, entre outras medidas, abre espaço no Orçamento para aumentar o valor do Auxílio Brasil. A informação foi divulgada pela CNN. Além da forte pressão fiscal, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de elevar a taxa básica de juros (Selic) a 7,75% ao ano foi vista como “insuficiente” pelo mercado.
No final fechamento do pregão regular, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 8,400% de 8,422% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 12,400%, de 11,510%; o DI para janeiro de 2025 ia a 12,510%, de 11,810% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,470% de 11,900%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações norte-americano fecharam em alta, ignorando a desaceleração econômica no terceiro trimestre e priorizando os fortes resultados das empresas entre julho e setembro. Com isso, o S&P 500 e o Nasdaq voltaram a terminar o dia em nova máxima.
Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: +0,68%, 35.730,48 pontos
Nasdaq Composto: +1,39%, 15.448,10 pontos
S&P 500: +0,98%, 4.569,42 pontos