Bolsa fecha em queda e renova a mínima do ano com as dúvidas sobre a PEC dos precatórios; dólar sobe

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São Paulo- A Bolsa fecha em queda de 0,50% pelo quarto dia consecutivo, aos 102.426,00 pontos, pior pontuação do ano, em um movimento de aversão ao risco devido ao imbróglio da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos precatórios, em tramitação no Senado. O recuo das ações ligadas às commodities, como Vale e siderúrgicas, e do setor financeiro também contribuíram para o mau humor do mercado. O Ibovespa renovou a mínima do ano no interdiário de 102.013,98 pontos.

Perto do fechamento, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que a PEC deve passar com mudanças no Senado, mas espera uma aprovação de 95% do texto. Lira afirmou que a proposta não mostra que há espaço para aumento salarial aos servidores públicos.

Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, afirmou que os investidores seguem acompanhando com parcimônia o desenrolar da PEC dos precatórios no Senado e, por enquanto não há novidades nessa matéria.

“A reação ruim do mercado não é pela proposta em si da PEC. Não há questionamento técnico da legitimidade do que está sendo proposto, mas da incerteza de que volta para a Câmara. Quando estende o período de discussão de uma matéria, a Bolsa patina”.

As ações da Vale (VALE3) baixaram 4,10% e Petrobras (PETR3 e PETR4) recuaram 0,07% e 0,15%. Os papéis do Itaú (ITUB4) caíram 1,66% e Bradesco (BBDC3 e BBDC4) retraíram 1,23% e 0,96%.

Matheus Spiess, analista da Empiricus, comentou que o Ibovespa tentou segurar uma performance próxima a estabilidade nas duas primeiras horas de pregão, mas as commodities e bancos pressionam o índice, com destaque para Vale e Petrobras.

“Hoje o Ibovespa não é um representante fidedigno do que acontece na Bolsa porque apresenta distorções de peso. O setor financeiro e commodities perfaz 50% do índice e caem; 20% estão super comprometidos com o peso de Vale e Petrobras”.

Spiess explicou que o Ibovespa tem mais ações no positivo do que no negativo, mas como “o peso torna essa proporção discrepante a gente acaba tendo uma queda consolidada no índice”.

A quedas das commodities se deve a baixa do minério de ferro que reflete os excessos, neste semestre, com os processos regulatórios e questões de produção na China. O analista da Empiricus disse que a Petrobras vinha performando bem, mas “agora com intervenção dos EUA e da China e o presidente Joe Biden pressionando empresas relacionadas ao petróleo pesam nas ações”.

O analista da Empiricus disse que diante de sessões anteriores com as tensões envolvendo fiscal e as perspectivas de crescimento para o Brasil, o pregão não é tão ruim.

O dólar comercial fechou em R$ 5,5690, com alta de 0,77%. A moeda norte-americana teve baixa volatilidade durante a sessão, e foi pressionada pelos indícios de aquecimento da economia dos Estados Unidos e pelas já habituais dificuldades e morosidade na aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios.

De acordo com o analista de investimentos da Toro, Helder Wakabayashi, “estamos começando a enxergar o início de uma retomada econômica nos Estados Unidos, o que também pode gerar inflação e o aumento precoce de juros”.

As indefinições fiscais, diz Wakabayashi, faz com que não seja possível fazer previsões a longo prazo: “Acabamos não sendo atrativos e estes investimentos acabam deslocados para outros mercados”, complementa o analista.

Segundo o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, “há uma nítida sensação de que os investidores estão buscando um porto seguro fora do país”. Este porto seguro seriam as economias desenvolvidas, em especial a dos Estados Unidos, que dá sinais de forte recuperação.

Rosa vê enormes dificuldades na aprovação dos Precatórios: “O imbróglio está cada vez maior, agora com os senadores tentando colocar os precatórios fora do teto. Isso não é necessariamente ruim, mas gera novas negociações”, pontua.

“Dificilmente a proposta será aprovada da maneira que ela saiu da Câmara, e isso pode deteriorar ainda mais o ambiente fiscal, aumentando a aversão ao risco”, destaca Rosa.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta mediante as incertezas fiscais com a tramitação da PEC dos Precatórios no Senado e a sinalização de que o presidente Jair Bolsonaro pretende reajustar em 5% o salário de todos os servidores federais, gerando um custo extra de R$ 15 bilhões aos cofres.

O DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 8,570% de 8,532% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 12,165%, de 12,020%; o DI para janeiro de 2025 ia a 12,090%, de 11,990% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,960% de 11,900%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam em campo misto depois de uma temporada de balanços de bons resultados mas que não conseguiram dispersar as preocupações com a inflação.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,17%, 35.870,95 pontos
Nasdaq Composto: +0,45%, 15.993,7 pontos
S&P 500: +0,33%, 4.704,54 pontos