Bolsa fecha em queda, em clima de cautela, à espera da Super Quarta; dólar sobe

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São Paulo – A Bolsa encerrou o pregão desta segunda-feira em queda, em dia de agenda local esvaziada, limitada pela Vale, à espera das decisões sobre juros no Brasil e nos Estados Unidos na próxima quarta-feira (31). O principal índice da B3 fechou em queda de 0,36%, aos 128.502,66 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro caiu 0,17%, aos 129.100 pontos. O giro financeiro foi de R$ 12,081 bilhões. Em NY, os índices fecharam em alta.

Os próximos dias prometem ser agitados devido às decisões de política monetária na “Super-Quarta”, referência à coincidência de datas das reuniões do Comitê de Política Monetária do Brasil (Copom) do Banco Central (BC) e do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), quando as autoridades monetárias do Brasil e dos Estados Unidos vão anunciar os rumos da política de juros para os próximos meses nos dois países. Por aqui, espera-se que o BC reduza a taxa de juros.

A semana ainda terá decisão sobre juros do do Banco da Inglaterra (BOE), o relatório de empregos urbanos (Non-farm payrolls) nos Estados Unidos e aos balanços das grandes empresas de tecnologia (entre terça quinta-feira, Alphabet, Microsoft, Amazon, Meta e Apple publicam seus resultados).

O mercado também precificou importantes notícias corporativas, como a liquidação da incorporadora imobiliária chinesa Evergrande, a aprovação da recuperação judicial da Gol e o aumento de capital da Magazine Luiza.

Do lado das commodities, o preço do minério de ferro continuou em alta, impulsionado por medidas da China destinadas a apoiar o mercado de ações. Mesmo assim, as ações da Vale (VALE3) recuaram 1,66%, a R$ 69,50, à espera da prévia operacional da companhia após o fechamento. A ação vem sendo pressionada por notícias relacionadas à troca de comando da companhia. “Apesar do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ter negado interferência na Vale, o governo está cobrando R$ 25,7 bilhões pela renovação antecipada de concessões”, comenta Guide.

O petróleo caiu, com a crise imobiliária na China ofuscando as tensões no Oriente Médio, que impulsionavam o papel no início da sessão. Os papéis da Petrobras (PETR 3; PETR4) também subiram 0,95% e 1,52%, a R$ 42,36 e R$ 40,57, impulsionados por notícias operacionais positivas divulgadas pela companhia na noite de sexta-feira (26).

As maiores altas foram de Assaí (ASAI3: +4,78%), Hypera (HYPE3: +2,79%), Raízen (RAIZ4: +1,87%), Totvs (TOTS3: +1,78%) e a Petrobras PN.

As principais quedas, por sua vez, foram da Gol (GOLL4: -33,61%), Casas Bahia (BHIA3: -4,71%), Suzano (SUZB3: -3,98%), CVC (CVCB3: -3,25%) e Carrefour (CRFB3: -3,17%).

Leandro Petrokas, analista de investimentos, diretor de research e sócio da Quantzed, avalia que o clima de cautela de hoje está relacionado a incertezas em relação aos dados econômicos que serão divulgados nesta semana. “O IPCA-15 divulgado na semana passada, que veio abaixo das expectativas do mercado deve ajudar o Copom a seguir o plano de cortes de 0,5% nas próximas três reuniões. Acredito que a autoridade monetária brasileira deva reforçar a preocupação com o cenário internacional, haja visto os três conflitos mundo afora, principalmente com a elevação dos custos do frete dado os problemas no Mar Vermelho. Adicionalmente, acredito que alguma menção deva surgir no comunicado do lado interno, com um olhar especial ao fiscal com a divulgação de números ruins, como déficit acima de 230 bilhões em 2023”, opina o analista.

“Na minha visão, se o executivo não apresentar propostas robustas e negociar com o legislativo a aprovação das mesmas, podemos ver uma deterioração rapida das expectativas e um eventual stress na curva de juros nas próximas semanas. Isso poderia pressionar o Banco Central nas futuras reuniões do Copom”, acrescenta.

Ele também cita as tensões entre os poderes Legislativo e Executivo brasileiros, após o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a R$ 5,6 bilhões em emendas de comissão, que não agradou os membros dos partidos.

Do lado internacional, Petrokas destaca um aumento “substancial” das dúvidas sobre qual será a postura do Fomc. “O mercado precificava na curva de juros uma queda de 1,5 a 1,75% para 2024 e agora as apostas já mostram o mercado acreditando em manutenção da atual taxa (5,25-5,50%), na próxima reunião, com expectativas variando para o primeiro corte nas reuniões de março ou maio. O comunicado do Fed após a decisão de 31 de janeiro deve ser muito importante para eventuais sinalizações para as próximas reuniões.”

Ele ressalta que membros do Fed já apresentam falas mais duras (hawkish) em eventos ou coletivas nas últimas semanas.

Mais cedo, Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos indicava que em semana de Copom, que deve reduzir a Selic em 0,50% novamente, a agenda tranquila deixa o mercado local exposto ao exterior. “Em semana cheia de eventos importantes, com decisões do FOMC, payroll e PMIs globais, além dos resultados das Big Techs, bolsas operam com cautela, impactadas, também, pelas tensões geopolíticas, após mortes de três soldados americanos na Jordânia ontem”.

O analista da Quantzed comenta que a Gol cai após divulgar que possui uma dívida de R$ 20 bi até dezembro de 2023, enquanto a Suzano é por conta do rebaixamento do Morgan Stanley para venda, com preço alvo em R$ 47 (de R$60 anteriormente). Segundo o relatório, os preços da celulose atingiram o pico e devem começar a cair em fevereiro. “Casas Bahia cai por falta de interesse do mercado no nome, com juros subindo e relatório do Citi dizendo que o case é um investimento desafiador”, completa.

Entre as altas, a de Assaí sobe na contramão de alguns nomes, como Pão de Açúcar e Carrefour. “Como o modelo de atacarejo é bem-visto pelo mercado, parece que há um rotation de fluxo para ASAI, sem notícias especificas envolvendo o case no dia de hoje”, avalia Petrokas.

Já Hypera sobe com reforço da recomendação de compra do Itaú BBA com preço-alvo de R$ 40, divulgada na sexta (26).

A varejista Magazine Luiza (MGLU3) operou boa parte do pregão em alta, com a notícia de aumento de capital privado de até R$ 1,25 bi para reforço de caixa, mas fechou em baixa de 0,48%, devolvendo quase todos os ganhos da sessão. “Como a subscrição foi precificada a R$ 1,95, talvez o mercado acredite que ainda haja espaço para mais quedas na ação, com eventual convergência do preço de tela para o preço de subscrição”, finaliza.

O dólar comercial fechou em alta de 0,79%, cotado a R$ 4,9497. A moeda refletiu, ao longo dia, a tensão que envolve as decisões de política monetária do Comitê de Política Monetária (Copom) e, especialmente, do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), nesta quarta (31).

Segundo o sócio da Ethimos Investimentos Lucas Brigato, as apostas para esta super quarta já estão precificadas: “A expectativa é com o tom do comunicado, se ele irá indicar algo a curto prazo”, avalia.

Para o sócio da Top Gain Leonardo Santana, apesar do dia mais fraco, esta é uma das principais semanas do ano, com as decisões do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) e Comitê de Política Monetária (Copom), além do payroll que será divulgado na próxima sexta (2): “O mercado espera um discurso dovish do (presidente do Fed, Jerome) Powell para iniciar o corte dos juros ainda neste semestre”, avalia.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em alta, reagindo reagindo ao déficit primário histórico, além da investigação da Polícia Federal sobre o uso da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) pelo vereador e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, Carlos Bolsonaro para fazer espionagem ilegal.

Por volta das 16h40 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 9,975% de 9,960% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 9,665% de 9,625%, o DI para janeiro de 2027 ia a 9,840%, de 9,790%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 10,105% de 10,055% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar comercial operava em alta, cotado a R$ 4.9503 para a venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em alta, com o S&P 500 alcançando mais um fechamento recorde, enquanto os investidores se preparam para uma semana movimentada repleta de atualizações de ganhos das grandes empresas de tecnologia, a decisão de política monetária Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e o payroll de janeiro.

Os futuros do WTI, referência nos Estados Unidos, caíram mais de 1% para fechar a US$ 76,78 por barril, enquanto os futuros globais do Brent também fecharam em baixa a US$ 82,40 por barril.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,59%, 38.333,45 pontos
Nasdaq 100: +1,12%, 15.628,0 pontos
S&P 500: +0,75%, 4.927,93 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA

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