Bolsa fecha em queda, em clima de cautela à espera de definições no plano fiscal; dólar sobe

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São Paulo, 21 de novembro de 2024 – A Bolsa encerrou o pregão desta quinta-feira em queda na retomada dos negócios após o feriado na véspera. O clima de cautela contaminou os investidores, diante das incertezas no cenário local e internacional que afugentam os investimentos estrangeiros e aumentam a aversão aos investimentos de risco. O atraso sobre o ajuste fiscal no Orçamento brasileiro e a escalada do conflito na Europa, diante do ataque da Rússia contra a Ucrânia com um míssil criado para guerra nuclear, entre outros fatores externos, reduzem a atratividade da Bolsa.

Sem sinal de anúncio das medidas de ajuste fiscal para equilibrar as contas públicas, o mercado acompanhou com atenção as falas dos integrantes do governo federal para encontrar pistas sobre o alcance e a implementação dessas propostas. O ministro dos Transportes, Renan Filho, disse que deve caber ao seu partido, o MDB, cuidar da agenda econômica do Brasil, em referência ao ajuste de gastos que está em vias de ser proposto pelo Executivo ao Congresso. As declarações foram dadas nesta quinta-feira, em discurso na cerimônia de divulgação do Programa de Otimização de Contratos de Concessão de Rodovias, no Palácio do Planalto, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na ocasião, o presidente Lula disse que quer entregar a estabilidade econômica prometida da sua campanha eleitoral ao mesmo tempo que reforçou seu compromisso com as políticas sociais. “Eu quero criar nesse país a estabilidade econômica. Eu quero ter estabilidade fiscal, jurídica e previsibilidade nas coisas que vão acontecer. Daqui pra frente, qualquer empresário que quiser fazer qualquer investimento e qualquer coisa nesse país, ele sabe que não será contido pelos malandros e pelos espertos que levantam dúvidas para ganhar dinheiro. Nós não queremos mais isso.”

Mais cedo, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, que disse, em entrevista à Globonews, que os técnicos do governo estão alinhando o texto do pacote de medidas para cortar gastos e que, devem apresentá-las ainda essa semana ao documento ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Costa não quis adiantar detalhes ou a data do anúncio do tão esperado conjunto de medidas, ressaltando que dependerá do aval do presidente. Ele também sinalizou que os volumes de investimentos em educação e saúde serão mantidos, mas que o governo não abrirá mão do equilíbrio fiscal.

O principal índice da B3 caiu 0,99%, aos 126.922,11 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro recuou 1,18%, aos 127.710 pontos. O giro financeiro foi de R$ 17 bilhões. Em Nova York, os futuros fecharam em alta.

As ações da Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3; PETR4), de maior peso na Bolsa, fecharam em queda de 0,10% e altas de 0,17% e 0,29%. Hoje, a Petrobras pagará aos acionistas a primeira parcela dos R$ 13,57 bilhões em proventos aprovados por seu conselho de administração em 8 de agosto. O colegiado também se reúne para aprovar o novo Plano de Negócios 2025-2029, que prevê investimentos totais de US$ 111 bilhões e dividendos ordinários com faixa que começa em US$ 45 bilhões e flexibilidade para pagamentos extraordinários de até US$ 10 bilhões no período do Plano, segundo proposta apresentada pela diretoria na segunda-feira (18).

Pedro Caldeira, sócio da One Investimentos, comenta que o dia após o feriado foi marcado por liquidez reduzida, sem notícias de impacto. “O mercado segue em clima de incerteza, aguardando o pacote de corte de gastos, de olho no fiscal, para que uma direção seja definida. Se o pacote vier muito aquém do que o mercado espera, talvez a gente veja um desempenho mais negativo da Bolsa, e se vier acima das expectativas, por sua vez, talvez tenha algo mais positivo.”

Segundo o analista, ao observar o valuation das empresas, é possível ver uma forma muito atrativa, em patamares também atrativos, mas essa incerteza tira um pouco dessa perspectiva.

Ele lembra que nesta semana, alguns bancos internacionais rebaixaram o Brasil em termos de investimentos devido à questão fiscal local e alguns fatores externos, que reduzem a atratividade da Bolsa local para os estrangeiros. “Neste momento o mundo está buscando algo mais seguro, mais certo, principalmente quando se olha o cenário do Brasil. Por isso vemos a Bolsa mais fraca, sofrendo, em mais um dia de queda aqui, e a curva de juros abrindo bastante.”

Em relação ao conflito entre Rússia e Ucrânia, Caldeira comenta que o petróleo mostrou forte oscilação nesta quinta-feira, chegando a subir 2%, mas não gerou uma precificação tão forte na Bolsa, que já vem considerando esse conflito a um certo tempo, pelo menos no atual patamar e estágio em que ele está. “Tendo um novo episódio, um aumento mais acentuado, aí sim a gente pode ver um impacto mais forte na Bolsa. Mas hoje o principal trigger é a parte fiscal e o Brasil”, conclui o analista da One.

Para Vito Agnelo, analista da CM Capital, o preço do petróleo Brent tem experimentado uma trajetória de alta desde a mudança na retórica de Putin, que adotou uma postura muito mais agressiva. “Entre os exemplos dessa mudança, destacam-se a alteração na política nuclear e a declaração de que países aliados à Rússia, se atacados, poderão retaliar com armas nucleares. Esses eventos ocorreram após o uso dos mísseis ATACMS pela Ucrânia (fornecidos pelos Estados Unidos). Há um risco de agravamento da situação caso os ucranianos optem por utilizar os mísseis Storm Shadow, que possuem maior alcance”.

“Embora essa escalada de tensões tenha impulsionado o preço do petróleo, que registrou uma alta de 1,68% pela manhã, os mercados estão reagindo com cautela, quase como se a intensificação dos conflitos estivesse sendo incorporada de forma gradual nas expectativas. Esse movimento também está sendo refletido no preço do ouro, que, após duas semanas de quedas significativas, já começou a registrar novas altas”, comenta.

O dólar comercial fechou em alta de 0,60%, cotado a R$ 5,8114. A moeda refletiu, ao longo da sessão, o aumento da tensão no conflito entre Rússia e Ucrânia, além da espera pelo pacote fiscal que deve ser anunciado pelo governo nos próximos dias.

De acordo com o sócio da Pronto! Invest Vanei Nagem, o dólar está “pressionadíssimo” devido à expectativa pelo pacote de ajustes fiscais.

A economista da Valor Investimentos Paloma Lopes classifica o conflito geopolítico na Europa como “preocupante”, e que isso também impacta o dólar hoje.

Para a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, a tensão geopolítica contribui com a valorização do dólar, que também reflete a espera pelo pacote de ajustes fiscais que deve ser anunciado pelo governo nos próximos dias.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) passaram a cair depois o presidente russo Vladimir Putin esclareceu que o artefato usado mais cedo contra a Ucrânia foi um novo tipo de míssil balístico, “em resposta à agressão do Ocidente” e não um míssil balístico intercontinental conforme militares ucranianos haviam dito mais cedo.

Por volta das 16h40 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 11,470% de 11,454% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 13,190%, de 13,180%, o DI para janeiro de 2027 ia a 13,335%, de 13,340%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 13,255% de 13,260% na mesma comparação. O dólar opera em alta, cotado a R$ 5,8129 para venda.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam o pregão em alta, enquanto os investidores digeriam os resultados da Nvidia e a queda da Alphabet, em meio à iniciativa do Departamento de Justiça de desmantelar seu império de busca online.

A queda da Alphabet ocorreu após o Departamento de Justiça pedir a um juiz que obrigue o Google a vender seu navegador Chrome.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +1,06%, 43.870,35 pontos
Nasdaq 100: +0,03%, 18.972,4 pontos
S&P 500: +0,53%, 5.948,71 pontos

Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo (Safras News)

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