Bolsa fecha em queda em movimento de realização e refletindo preocupação com economia forte; dólar sobe

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São Paulo – A Bolsa fechou em queda, oscilou entre a mínima de 120.796,40 e máxima de 122.659,70 pontos, mas conseguiu terminar no patamar dos 121 mil pts em um dia de realização de lucros após a euforia da véspera. Esse recuo foi marcado pelo temor de a atividade econômica seguir aquecida e a taxa básica de juros (Selic) em ritmo de alta. Das 87 ações do índice, apenas oito subiram.

Os destaques negativos ficaram para BRF(BRFS3), LWS (LWSA3) e Magazine Luiza (MGLU3) de 6,95%, 6,86% e 6,75%, respectivamente. Na ponta positiva, Azul (AZUL4) e Embraer (EMBR3) subiram 3,62%, 3,56%.

A Vale (VALE3) fechou em alta de 0,13% e Cosan (CSAN3) subiu 0,58%.

Mais cedo, foi divulgado o Indice de Atividade Econômica (IBC-Br) do Banco Central de novembro, prévia do PIB, subiu 0,10% em novembro em base mensal, indo a 154,18 pontos. Segundo o Termômetro CMA, a previsão era de alta de 0,05% em novembro ante outubro.

O principal índice da B3 recuou 1,15%, aos 121.234,14 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro caiu 1,23%, aos 121.975 pontos. O giro financeiro foi de R$ 30 bilhões. Os índices norte-americanos fecharam em queda.

Felipe SantAnna, especialista da mesa proprietária da Star Desk, disse que “hoje o mercado está realizando lucros com a percepção do mercado que a economia ainda está forte e a Selic pode ficar alta por mais tempo. Ontem tivemos uma alta forte puxada pelos indicadores de inflação nos EUA. Aqui o cenário não mudou, nossos problemas domésticos continuam e a euforia passou. Essa venda de Vale por parte da Cosan, e os comentários em relação à economia do país deixam claro que temos muitos desafios ainda”.

Rodrigo Molierno, head de renda variável da Veedha Investimentos, também acredita que o movimento de hoje é de realização, após alta expressiva da véspera.

“Alguns fatos estão no radar com a divulgação do IBC-Br, ligeiramente acima das expectativas, mas ainda assim mostrando uma desaceleração no crescimento que foi o ponto positivo, mas nem isso foi suficiente para trazer o mercado para um movimento de realização. Outro ponto é que o mercado está com grande expectativa para o resultado do PIB da China, que será divulgado hoje à noite. O setor aí de commodities realiza com os investidores acreditando que a China não obter o crescimento desejado de 5% do PIB. Só a Vale que está na contramão, praticamente no zero a zero, por conta de uma pressão vendedora que saiu do papel onde a Cosan vendeu a participação dela de 4% na Vale através de um blog trade. O setor propenso à queda é o de proteínas por conta do medo de tarifação Estados Unidos dado que o Bessent [Scott Bessent, indicador por Trump para o Tesouro dos EUA] falou hoje no Congresso que pode ter tarifação para continuar protegendo indústria. Essas empresas são exportadoras e o mercado americano é um consumidor [de seus produtos]”.

Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, disse que com avanço do IBC-Br, que mostra a atividade mais forte, e fica a percepção de que a taxa de juros fica alta por mais tempo, estressando o mercado.

“Após de um pregão positivo ontem ajudado pelo CPI que fez a curva de juros lá e aqui fecharam e com dados de atividade mais fraco aqui, sugerindo um arrefecimento econômico que poderia antecipar gatilhos para bolsa, corte de Selic antes do esperado, troca política em 2026 mais certeira. Hoje estamos com efeito ao contrário. A divulgação do IBC-Br de novembro contraia um pouco os dados de atividade do IBGE de novembro como produção industrial, vendas no varejo e de serviços, que mostraram queda, revertendo as expansões de outubro. O IBC-Br divulgado hoje- +0,10% quanto a expectativa era a estabilidade para o mês de novembro- gera preocupação de que a economia [brasileira] continua forte, ou seja, a taxa de juros vai ficar alta por bastante tempo, e perdemos de vista a possibilidade de um corte de Selic”.

Em relação à venda da participação da Cosan na Vale, representada pelo Grupo Ometto, Larissa disse que “é uma notícia positiva para Cosan porque melhora o fluxo de dividendos líquidos para o acionista da Cosan. A empresa contraiu uma dívida de 15 bilhões para comprar essa participação de 4,9% da Vale há alguns anos. Essa posição vale R$ 10 bilhões. É positivo porque o que ela [a Cosan] deixa de gastar com juros quitando, ainda que parcialmente, a dívida com a Vale é maior do que o que ela deixa de receber de dividendos da Vale. A queda de Vale é um pouco”.

Por meio de fato relevante, a Cosan confirmou a venda de 173.073.795 em ações em bloco com participação do capital social votante da Vale de aproximadamente 4,05%. Além da venda de 173 milhões de ações, ainda restaram 45 milhões de ações., disse uma fonte do mercado financeiro.

No mercado de câmbio, o dólar fechou em alta de 0,50%, cotado a R$ 6,0546. A moeda refletiu, ao longo da sessão, as expectativas com a gestão Donald Trump e com a política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

A economista da Valor Investimentos Paloma Lopes entende que o movimento de hoje é gerado por fatores externos, o que gera cautela nos investidores, especialmente com as incertezas de como será o relacionamento entre Trump e Fed.

Para o sócio da Pronto! Invest Vanei Nagem, o dólar está “de lado”, com movimento de realização depois de algumas quedas: “O mercado ainda está vazio, esperando a definição sobre Trump”, avalia. .

Da mesma forma que o dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) seguem em alta, depois que a prévia do PIB trouxe números acima do esperado pelo mercado. O temos dos agentes financeiros é a brecha para mais um aumento dos juros no próximo Comitê de Política Monetária (Copom). A Inflação de serviços também registrou alta no mês de novembro.

Por volta das 16h55 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,890 de 14,815% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 15,145%, de 14,995, o DI para janeiro de 2028 ia a 15,095%, de 14,910%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 15,015% de 14,830 na mesma comparação.

No exterior, os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo negativo, influenciados por mais uma rodada de balanços de grandes bancos e uma queda nas ações do setor de tecnologia. Os investidores também acompanharam a audiência de confirmação no Capitólio do indicado para Secretário do Tesouro pelo presidente eleito Donald Trump, Scott Bessent.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,16%, 43.153,13 pontos
Nasdaq 100: -0,89%, 19.338,3 pontos
S&P 500: -0,21%, 5.937,34 pontos

 

Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência Safras News