Bolsa fecha em queda empurrada por Vale e preocupação com recessão e PEC da Transição no radar; Dólar recua

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São Paulo – A Bolsa fecha em queda puxada pelas commodities, principalmente Vale (VALE3), com maior peso no índice, refletindo os dados da China mais fracos e as projeções de produção da mineradora abaixo da expectativa do mercado. Somado a isso, acompanha o exterior negativo com a preocupação de uma recessão nos Estados Unidos.

Os investidores ficam na expectativa da votação da Proposta da Emenda à Constituição, no plenário Senado, após a aprovação da véspera na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) em que os senadores aprovaram com unanimidade o gasto R$ 145 bilhões fora do teto por dois anos e o governo deverá apresentar, ao Congresso, até metade de 2023 um novo arcabouço fiscal para substituir o teto de gastos.

A Vale (VALE3) caiu 3,55%, cotada a R$ 84,84. Os papéis da Petrobras (PETR3 PETR4) perderam 1,50% e 1,13%, a R$ 28,74 e R$ 25,35.

O principal índice da B3 caiu 1,01%, aos 109.068,55 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro perdeu 1,11%, aos 109.475 pontos. O giro financeiro era de R$ 23,7 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital, disse a Bolsa cai seguindo o exterior e com a pressão da Vale. “Existe uma preocupação de o Fed ser mais duro na semana que vem e dados mais fracos do país asiático jogou um banho de água fria no mercado; a ação que vinha sustentando o índice [Vale] caía forte com o efeito China e divulgação de projeção futura de produção da empresa”.

Silva ressaltou que a Vale chegou a subir mais de 35% desde o começo de novembro,” essa realização acaba sendo saudável, vamos ver como a ação vai se comportar amanhã”.

Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial, afirmou que a Vale impulsiona a venda do índice e “pressão ainda é por conta da PEC sem definição para o futuro ea tendência é que o risco diminuía por volta do dia 13 com o anúncio dos ministros, a melhoria do mercado viria se o quadro fosse mais técnico”.

Leonardo de Santana, analista da Top Gain, disse que as commodities, como “Vale e Petrobras derrubam a nossa Bolsa”.

Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos, disse que a Bolsa recua puxada pelas bolsas internacionais “com a preocupação com a desaceleração da economia norte-americana e temor de recessão no mundo; ademais da queda das commodities em que a Petrobras recua acompanhando a desvalorização do petróleo e Vale motivada pelo medo de recessão, mas principalmente pelos dados de projeção de produção da mineradora abaixo do esperado pelo mercado e recuo do minério de ferro”.

Matheus Spiess, analista da Empiricus, observou que o Ibovespa tinha uma performance pior que o Indice Small Cap–empresas de menor capitalização-, por conta de “peso-pesado como Vale (VALE3) refletindo os dados econômicos da China mais fracos que pressionam o minério de ferro”. O Indice Small Cap (SMLL) subia 0,28%.

Spiess comentou que a Bolsa acompanha a tendência internacional. “Não tivemos um bom dia na China e espirra no mercado brasileiro, temor de recessão e mais juros à frente, além de temor dos riscos fiscais aqui”.

Em relação à PEC que será votada hoje no Senado, o analista da Empiricus afirmou que “deve ter desnutrições adicionais, ontem teve uma podada boa e com uma sinalização importante, não só de desidratação de R$ 30 bilhões na conta geral, mas limite de tempo e marco para o governo tratar a nova âncora fiscal”.

Nicolas Farto, head de renda variável da Renova Invest, disse que a após a aprovação do texto da PEC da Transição na CCJ ontem com desidratação “amenizou um pouco o risco fiscal e agora vai a plenário e pode ter mais desidratação, redução do gasto previsto e no prazo, o que pode favorecer o mercado”.

Farto também comentou que a notícia que saiu da China se alinha com a ideia que pode ter recessão e o tom é de cautela. “O clima está mais azedo com a recessão lá fora e expectativa da aprovação da PEC, à medida que ela vai sendo aprovada vamos vendo o tamanho do risco que vamos correr do ponto de vista no fiscal; em relação ao Copom é importante olhar o comunicado e isso pode fazer com que a curva de juros se estresse”.

As ações da Vale (VALE3) caíam forte, após altas recentes. A empresa atualizou o guidance (projeções) da capacidade de produção- em 2022 a produção de minério de ferro deve ficar em aproximadamente 310 milhões de toneladas (mt)-veio abaixo do esperado, o que reflete nos papéis. “Pode ser que mude no decorrer do dia porque pode surgir uma expectativa de demanda maior e faria com que o preço do minério voltasse a subir”, disse.

Um gestor de investimentos do mercado financeiro que não quis se identificar disse que a queda forte na abertura do Ibovespa futuro reflete a preocupação no exterior “com uma recessão iminente nos Estados Unidos ademais de dados ruins na China; o Copom deve manter inalterada a taxa Selic”.

O dólar comercial fechou em queda de 1,19%, cotado a R$ 5,2060. A moeda refletiu a reabertura da economia chinesa e a chance da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição ser mais austera no aspecto fiscal.

Segundo o sócio fundador da Pronto! Invest Vanei Nagem, “o fluxo era positivo, mas a PEC já foi desidratada, o que teoricamente diminui o risco fiscal. A gente tinha um espaço para corrigir o real. Se a PEC for aprovada entre RS 120 e 150 bilhões o dólar pode chegar perto dos RS 5,10”.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “o que mais chama a atenção é que o real o perdeu a tração, estamos descolados do exterior. Desde o final de julho, com algumas exceções, ficamos na faixa entre os R$ 5,15 e R$ 5,40”. O economista acredita que isso é causado pelas incertezas fiscais, que criou um clima de piora sobre as contas brasileiras.

“A abertura da China é bastante positiva para a gente, é o país mais importante para a balança comercial do país”, observa Borsoi.

De acordo com o boletim da Ajax Asset, “lá fora, os números fracos do comércio exterior da China em novembro aumentaram as preocupações dos investidores com o cenário da economia global. Assim, os ativos de risco registram um dia negativo”.

A balança comercial chinesa, em novembro, ficou em US$ 70 bilhões, abaixo das expectativas (US$ 78 bilhões), enquanto as exportações caíram 9% no comparativo mensal (projeção de -4,0%) e teve decréscimo de 11% ante novembro de 2021 (projeção de -7%).

“Por aqui, ambiente externo desfavorável deve impactar negativamente nas ações locais. No front político, PEC da Transição deve ser aprovada sem maiores dificuldades no Senado”, avalia a Ajax.

Em sessão volátil, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda nesta tarde, com o mercado de olho no Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que se reúne para definir a taxa básica de juros da economia, a Selic. O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,664% de 13,666% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,845%, de 14,000%, o DI para janeiro de 2025 ia a 13,035%, de 13,175% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,715% de 12,800%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em queda, cotado a R$ 5,2060 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos devem fechar o pregão em campo negativo, estendendo as quedas do início da semana, com os investidores pesando taxas de juros mais altas e a perspectiva de uma desaceleração econômica.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o
fechamento:

Dow Jones: -0,005%, 33.597,92 pontos
Nasdaq 100: -0,51%, 10.958,6 pontos
S&P 500: -0,18%, 3.933,92 pontos

Darlan de Azevedo, Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil