Bolsa fecha em queda menor que Nova York com payroll e IPCA; dólar encerra a R$ 6,10

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São Paulo – A Bolsa fechou em queda menor que os índices norte-americanos influenciada pela boa performance da Petrobras (PETR3 e PETR4) e Vale (VALE3), ações de peso no índice. O mau humor reflete o dado forte do mercado de trabalho nos Estados Unidos (payroll, sigla em inglês) e o estouro da meta da inflação por aqui. Na semana, subiu 0,27%.

Os destaques de queda ficaram para as ações da Localiza (RENT3) e Rumo (RAIL3) com -4,65% e 3,58%. Já entre as altas, as empresas petrolíferas como a Petrobras (ON, +0,49%; PN, +0,27%), Brava Energia (ON, +1,75%) e Petrorio (ON, +1,59) se beneficiaram da valorização do petróleo. Vale (VALE3) subiu 0,56%.

O principal índice da B3 caiu 0,77%, aos 118.856,48. pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro recuou 0,63%, aos 119.980 pontos. O giro financeiro foi de R$ 19,7 bilhões. Em NY, os índices fecharam em queda.

Gustavo Mendonça, sócio e assessor da Valor Investimentos, disse que payroll e IPCA impactam no mercado, mas commodities ajudam a amenizar a queda do Ibovespa.

“As bolsas globais refletiram os dados do mercado de trabalho nos EUA bem acima das expectativas, e isso implica no reforço de uma política mais contracionista do Fed. No cenário doméstico, o IPCA mostrou um descumprimento da meta [da inflação] por parte do BC em que fechamos [2024] em 4,8%, apesar de dezembro ter vindo um pouco abaixo do consenso. O Ibovespa tem queda menor que as bolsas globais por conta da Vale e Petrobras que apresentam performance positiva. A Vale fechou um acordo com a ANTT [Agência Nacional de Transporte Terrestre] de um aporte R$ 11 bilhões”.

Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, disse que o Ibovespa reflete os dados do IPCA e do mercado de trabalho aquecido nos Estados Unidos, mas ainda “acredito que possivelmente os juros norte-americanos devem cair, só que o ritmo pode ser menor”.

Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, disse que a Bolsa reflete o cenário internacional e local duvidoso com uma inflação alta e fiscal.

“A economia nos Estados Unidos está muito aquecida, é o que mostra o mercado de trabalho robusto. A expectativa era que houvesse uma normalização vista em novembro e não aconteceu. Soma-se à incerteza do início do governo Trump, mas vamos saber como ele vai agir rapidamente. Existe o medo [da aplicação] das tarifas, imigração e gastos públicos. Dá mesmo margem para cortar juros no curto prazo, o ciclo de cortar será pausado e essa a pausa deverá ser mais longa que se pressupunha. Tem fortalecimento do dólar, das treasuries e muita aversão ao risco nos mercados. Para piorar no local, tem o fiscal que está longe de ser resolvido e a inflação ruim que rompeu a meta. A alta da Petrobras limita um pouco as perdas”.

Spiess disse que qualitativamente a inflação é preocupante, difusão superando 70%, inflação de serviços acelerando. Isso indica que [a inflação] em 2025 será pior mais uma vez. O BC tem motivo para subir juros. Em janeiro deve ser mais alta porque muitas cidades reajustaram transporte e vai ter impacto”.

Em relação ao payroll, Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, disse apesar do payroll forte não muda muito a condução de política monetária do Fed, o que vai ditar o rumo é a condução da política do presidente eleito Donald Trump.

“O payroll veio com criação de vagas acima do esperado, mas os salários cresceram menos e isso é o que mais importa para o banco central norte-americano dos EUA, não podemos confundir. Eu imagino que mudou pouco a visão do banco central norte-americano para janeiro e até para a reunião de março. O que vai ser bem decisivo mesmo é a política do Trump, principalmente questão de tarifas e deportações que são dois itens muito sensíveis para inflação americana. Se a gente tiver menos mão de obra os itens tendem a encarecer. Temos de ver o que foi dito na campanha e o que realmente vai virar tema de política econômica. Vemos ele voltar atrás em alguns temas como a questão da Ucrânia, mas também ao mesmo tempo surgem novas questões como a Groenlândia, Canadá e Canal do Panamá”.

Um outro analista do mercado financeiro disse que a queda da bolsa é “limitada pela alta da Petrobras”.

Quanto ao IPCA, Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, disse que o indicador veio ligeiramente abaixo da mediana do mercado.

“O dado ficou acima da nossa projeção de +0,44%. Apesar do desvio significativo no índice cheio, os serviços subjacentes apresentaram variação próxima à nossa projeção. Destaca-se que a concentração dos desvios altistas em componentes impactados pela sazonalidade ameniza preocupações mais profundas sobre a dinâmica inflacionária nos próximos meses. Avaliamos, preliminarmente, que a projeção para 2025 deverá permanecer em 4,4% após a incorporação dos dados do IPCA de dezembro de 2024”.

Mais cedo, foram divulgados do mercado de trabalho nos Estados Unidos em que foram criaram 256 mil vagas em dezembro. O mercado estimava 153 mil postos de trabalho. A taxa de dezembro fica em 4,1% e os salários cresceram 0,4% em base mensal e 3,9% na comparação anual.

Mais cedo, aqui, foi divulgado o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dezembro, inflação oficial do País, de dezembro que subiu 0,52% ante expectativa de +0,54%, levemente abaixo do esperado. A inflação fechou o ano em 4,83% e a previsão era de 4,85%, estourando o teto da meta da inflação de 3% com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual (pp) pra cima ou pra baixo.

No mercado de câmbio, o  dólar comercial fechou em alta de 1,00%, cotado a R$ 6,1028. A moeda refletiu, ao longo da sessão, certo movimento de correção e o temor de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) diminua o número de cortes nos juros em 2025. Este sentimento ganhou força após a divulgação do payroll, no começo da sessão. Na semana, a moeda teve desvalorização de 1,28%.

Foram criada nos Estados Unidos, em dezembro, 256 mil vagas ante projeções de 164 mil. Já o desemprego caiu de 4,2% para 4,1% e a hora média trabalhada avançou 0,3%.

Para o economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano, o movimento de hoje não está relacionado apenas ao payroll, mas também é uma correção da queda observada ontem.

Serrano, contudo, chama a atenção para os constantes sinais de que a economia estadunidense segue aquecida, e que o mercado agora projeta que o Fed irá realizar apenas mais um corte até o final deste semestre.

O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, observa que “os números foram muito fortes, reforçando a percepção de força do mercado de trabalho nos Estados Unidos. Nosso cenário já contemplava um ciclo de cortes do Fed bem mais tardio, no fim de 2025, mas não seria improvável o Fed não cortar os juros esse ano, a depender do tamanho do impulso fiscal e regulatório das políticas da administração Trump. Acredito que o tema alta de juros por lá deve voltar ao radar dos investidores nos próximos meses”.

Mais cedo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dezembro teve alta de 0,52%, em linha com as projeções (0,54%).

Assim como o dólar,  as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em alta, reagindo ao IPCA que, apesar de vir em linha com as estimativas, não teve resultado benigno. Os Treasuriues (títulos do Tesouro norte-americano) também sobem, pressionados pelo payroll que mostrou criação de vagas bem acima do esperado.

Por volta das 16h40 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 15,065 de 14,965% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 15,425%, de 15,320, o DI para janeiro de 2028 ia a 15,415%, de 15,245%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 15,360% de 14,140% na mesma comparação.

No exterior, os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda, após um relatório robusto de empregos esfriar as esperanças de Wall Street para novos cortes na taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) este ano.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,63%, 41.938,45 pontos
Nasdaq 100: -1,63%, 19.161,6 pontos
S&P 500: -1,54%, 5.827,04 pontos

Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo  / Agência Safras News