São Paulo -A Bolsa fechou em queda, em movimento oposto a Wall Street, com os investidores preocupados em relação à política fiscal do governo e os juros altos nos Estados Unidos.
As falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, chegaram a amenizar as perdas, mas o suficiente para virar para o positivo.
Mais cedo, após a reunião com o presidente Lula, Haddad, e Tebet falaram com a imprensa. No encontro, os chefes das pastas disseram que o aumento das renúncias fiscais e os gastos com a Previdência chamaram a atenção de Lula.
Eles apresentaram ao presidente os gastos tributários do governo em 2023 e conversaram sobre o orçamento para 2025. A reforma tributária também foi pauta da reunião.
O destaque positivo ficou para o Itaú (ITUB4), subiu 2,44% com o Morgan Stanley elevando a recomendação dos Adrs da instituição financeira para compra. O banco de investimento aposta por um período mais longo de juros por aqui. Vale (VALE3) caiu 0,39% e Petrobras (PETR4) avançou 0,37%.
As ações cíclicas caíram refletindo a abertura na curva de juros. O Comitê de Política Monetária (Copom) decide a taxa básica de juros (Selic), na quarta-feira (19) e o mercado acredita na manutenção.
O principal índice da B3 caiu 0,43%, aos 119.137,86 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto perdeu 0,63%, aos 120.870 pontos. Na mínima do interdiário, atingiu 118685,10 pontos. O giro financeiro foi de R$ 17,4 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em alta.
Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, disse que apesar de o Ibovespa “experimentar uma recuperação durante a sessão, foi insuficiente para zerar as perdas, tendo como pano de fundo a combinação de retomada das apostas em juros mais altos nos Estados Unidos e os contínuos temores fiscais internos”
Nishimura ressaltou que “as declarações de Fernando Haddad e de Simone Tebet sobre a disposição do governo em revisar gastos foi uma tentativa de melhorar o ceticismo dos investidores com o compromisso de Brasília com o ajuste nas contas públicas”.
Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital, disse que a bolsa cai na sessão de hoje influenciada por questões fiscais.
“Os investidores ficam mais receosos e com menor apetite ao risco com o governo tendo um posicionamento desarticulado e embates com o Congresso. Temos muitos estrangeiros saindo da bolsa, o que também faz com que tenha mais volatilidade nos papéis”.
Para a decisão de juros na quarta-feira (19), Hemelin acredita em uma postura mais conservadora do Copom com a manutenção da taxa em 10,50% ao ano (aa) devido às incertezas fiscais.
Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que o mau humor do mercado reflete o cenário interno e lá fora.
“Estamos antevendo uma pausa da Selic [taxa básica de juros, na reunião de quarta-feira, 19] e ainda repercutindo o Fed da semana passada. O mercado precifica uma situação fiscal [doméstica] se deteriorando com mais força e à espera de mais clareza sobre os gastos do governo. A reunião de Lula e ministros [principalmente da área econômica] ainda não fez preço. Vemos o dólar beliscando níveis de 2023 quando ainda não tinha iniciado o corte da Selic e os DIs longos subindo bem”.
O dólar comercial fechou em alta de 0,73%, cotado a R$ 5,4214. A moeda refletiu, ao longo da sessão, as persistentes incertezas fiscais domésticas.
Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “o fiscal é o tema latente no mercado financeiro, que olha atentamente o orçamento público”.
Abdelmalack explica que mesmo com a Selic (taxa básica de juros) o investidor estrangeiro está cauteloso, o que afugenta o fluxo para o Brasil.
De acordo com o head de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, “o Brasil descolou dos pares e do DXY. O governo precisa sinalizar que vai fazer algo em relação ao fiscal”.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em alta, refletindo o boletim Focus, que elevou a previsão da inflação, da Selic e do dólar para 2024.Os investidores também estão com a questão doméstica no radar. Os Treasuries (títulos do Tesouro norte-americano) também operam em alta.
Por volta das 16h40 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,695%, de 10,660% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 11,285% de 11,205%, o DI para janeiro de 2027 ia a 11,600%, de 11,500%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 11,830% de 11,740 na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo positivo, saltando para novas máximas históricas, com o S&P 500 marcando seu 30º fechamento recorde do ano, enquanto Wall Street avalia se o rali de alta que se estende em 2024 tem mais espaço para correr.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: +0,49%, 38.778,10 pontos
Nasdaq 100: +0,95%, 17.857,02 pontos
S&P 500: +0,77%, 5.473,23 pontos
Com Paulo Holland, e Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência Safras News