Bolsa fecha em queda, na mínima do dia, com alta dos DIs, oposto a NY; dólar recua

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São Paulo -Em um pregão volátil, a Bolsa fechou em queda, não conseguiu acompanhar o bom humor externo, em virtude da abertura na curva de juros dado o comunicado mais hawkish do Comitê de Política Monetária (Copom) e sem o comprometimento do colegiado com as altas futuras da taxa básica de juros (Selic).

As empresas ligadas às commodities ajudaram a segurar o índice, enquanto as ações expostas a juros caíram.

Ontem após o fechamento do mercado, o Copom elevou a Selic em 0,25 ponto porcentual (pp) para 10,75% ao ano. A votação foi unânime.

A Vale (VALE3) avançou 1,19%; Petrobras (PETR4) subiu 0,33% e Magazine Luiza (MGLU3) caiu 3,12% e MRV (MRV3) perdeu 3,39%. O Indice Small Caps (SMLL) recuou 1,75%.

O principal índice da B3 caiu 0,46%, aos 133.122,67 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro recuou 0,48%, aos 133.950 pontos. O giro financeiro foi de R$ 22 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam no positivo.

Ubirajara Silva, gestor de renda variável independente, disse que “a bolsa não está subindo em razão da abertura na curva de juros, tanto a curta como a longa. Os membros do Copom falaram mais do que deveriam e a situação se complicou, chegaram a sinalizar alta de 0,50pp e depois desmentiram. O comunicado de ontem foi bem duro, e quando olhamos o modelo do BC, a alta tem que ser acima dos 200 bps, deram dose menor, o que poderia ser mal interpretado pelo mercado. O cenário é ideal para o dólar, com a elevação de 0,25pp aqui e corte de mais juros pelo Fed. O carry trade é favorecido com esse movimento de ontem, e o fluxo vai vir pra cá”.

Pedro Moreira, sócio e assessor da One Investimentos, disse que a Bolsa opera com volatilidade, principalmente por conta da decisão do Copom.

“Como o Banco Central não trouxe nenhum guidance no comunicado [de ontem] sobre aumento [de juros] para as próximas reuniões de política monetária, isso gerou incerteza ao mercado. Os membros do Copom falaram que vão continuar acompanhando os dados econômicos, principalmente em relação à inflação. Eles [os membros do Fomc] foram hawkish na parte fiscal e de inflação. Adotaram a mesma estratégia do Fed, que vão acompanhar os dados, e isso vai balizar a decisão em novembro e dezembro. As ações da Petro e Vale estão segurando o índice, small caps caindo com a abertura dos DIs”.

Moreira disse que o mercado vai esperar pela ata do Copom na próxima terça-feira (24), acompanhar dados econômicos e de fluxo estrangeiros.

“A ata vai trazer uma visão mais clara do que os membros pensam. A partir de agora o mercado vai acompanhar na virgula se a inflação está controlada ou não, se está tendo desviu pra cima, e dados de atividade. As falas dos membros do Copom vão ser importantes para ver a mentalidade deles para reunião de novembro. Ainda temos IPCA-15, IPCA início de outubro e dados de atividade econômica. O fluxo de estrangeiro, a partir da semana que vem, será importante para a gente ter ideia de quanto o gringo está alocando no Brasil”.

No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou em queda de 0,68%, cotado a R$ 5,4232. A moeda refletiu, ao longo da sessão, as decisões de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e Comitê de Política Monetária (Copom), que aumentaram o diferencial dos juros brasileiros e favoreceram o real.

O Copom aumentou a Selic (taxa básica de juros) em 0,25 ponto percentual (pp), indo a 10,75%, enquanto o Fomc cortou em 0,25 pp.

Segundo o analista da Potenza Capital Bruno Komura, “o real está muito bem, refletindo a animação do mercado com o corte dos juros nos Estados Unidos, e isso beneficia as moedas emergentes. O movimento é de apetite ao risco”.

“O câmbio está se beneficiando bastante do diferencial de juros, que tende a aumentar cada vez mais e acaba atraindo bastante operadores de carry trade. O movimento de dólar deve continuar durante algum tempo, mesmo com os problemas locais”, opina Komura.

“A decisão [do Copom] foi unânime, e reforçou resiliência da economia e robustez do mercado de trabalho, que resultaram na revisão para cima do hiato do produto (isto é, atividade econômica forte é mais um fator de pressão nos preços). O Copom manteve política monetária mais restritiva por conta do contexto interno. Provavelmente, o BC deverá acelerar a alta dos juros para 0,5 pp nos próximos encontros”, projeta a Ajax Asset.

Diferentemente do dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em alta, tanto os vértices curtos como os longos, em razão de o Comitê de Política Monetária (Copom) ter subido a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto percentual (pp), passando de 10,5% para 10,75%.

Por volta das 16h15 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,980% de 10,975% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 12,045%, de 11,915%, o DI para janeiro de 2027 ia a 12,010%, de 11,900%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 12,040% de 11,970% na mesma comparação.

No exterior, os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em expressiva alta, com o Dow Jones fechando acima do nível de 42 mil pontos pela primeira vez, impulsionado pelo crescente otimismo de que o grande corte de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) ajudará a garantir um “pouso suave” para a economia americana.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +1,26%, 42.025,19 pontos
Nasdaq 100: +2,51%, 18.014,0 pontos
S&P 500: +1,69%, 5.713,64 pontos

Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Agência Safras News