São Paulo -No primeiro pregão do ano, a Bolsa fechou em queda e perdeu mais de 1,5 mil pontos em um movimento de realização de lucros, após fortes altas nos últimos dois meses de 2023.
Somado a isso, reflete a preocupação com a fraqueza da atividade global e alta dos rendimentos das treasuries. As ações da Petrobras (PETR 3 e PETR4) mantiveram em alta firme, apesar da volatilidade do petróleo.
Por outro lado, os papéis da economia doméstica, bancos e setor de mineração e siderurgia caíram. À exceção ficou para a CSNMineração (CMIN3) que liderou a alta do Ibovespa, de 1,67%
Mais cedo, foi divulgado o índice dos gerentes de compras do setor industrial (PMI, sigla em inglês) dos Estados Unidos, que caiu para 47,9 pontos na leitura revisada em dezembro, de 49,4 pontos em novembro.
A Petrobras (PETR3 e PETR4) subiu 0,97% e 1,45%. Vale (VALE3) caiu 0,19%. “Os desempenhos das duas ações ajudaram a conter uma queda mais forte do Ibovespa. A estatal se manteve em campo positivo até o final da sessão, em sentido contrário dos seus pares que acompanharam a queda do petróleo no mercado internacional, enquanto a mineradora caiu ligeiramente e sucumbiu às perdas no meio da tarde, deixando os ganhos iniciais influenciados pelo avanço do minério de ferro”, disse Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.
As ações de companhias aéreas e de agências de turismo caíram, influenciados pela alta dos DIs e do dólar, completou. Azul (AZUL4) caiu 8,18%.
O principal índice da B3 recuou 1,10%, aos 132.696,63 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro caiu 1,25%, aos 134.175 pontos. A máxima no interdiário atingiu 134.194,94 pontos e a mínima foi de 132.094,61 pts. O giro financeiro foi de R$ 19,6 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas.
Ubirajara Silva, gestor de renda variável independente, disse que a primeira sessão do ano começou com a realização dos mercados, após ganhos fortes nos últimos meses do ano passado.
“Os investidores estão colocando no bolso os ganhos consideráveis que tiveram nos meses de novembro e dezembro; as treasuries estão subindo e o petróleo tem uma sessão volátil [começou o dia subindo quase 3% com as tensões no Mar Vermelho e passou a cair quase 2%], o mercado está com receio em relação à atividade global após os dados de atividade nos EUA bem mais fracos que o esperado e também da China [divulgados no final de semana], isso justificaria a realização do petróleo; o minério de ferro subiu e o cobre que vinha em alta passou a cair e pressionar as ações da Vale; apesar da realização do petróleo, a ação da Petrobras segue firme; por aqui, as ações ligadas à economia doméstica, bancos e siderurgia e mineração caíam”.
Bruno Komura, analista da Potenza Investimentos, disse que a Bolsa acompanha o exterior com os dados mais fracos da economia norte-americana.
“A preocupação do mercado é com a possibilidade de o Fed começar a cortar juros por conta de uma recessão; o ideal seria o soft landing [pouso suave]; as treasuries estão subindo”.
Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos, disse que a queda da Bolsa se deve a temores de desaceleração dos Estados Unidos e China.
“O Ibovespa acompanha Nova York e o mercado abre 2024 de forma mais cautelosa com as tensões no Mar Vermelho e que fez o preço do petróleo subir, além de dados fracos da China [o PMI do setor industrial caiu para 49 pts em dezembro, ante 49,9 pts em novembro, indicador divulgado em 31/12]. Os setores de mineração e petroleiro tem bom desempenho com a alta das commodities; por aqui o IPCA deve atingir 3,5% a 4,2% no final de 2024 [a taxa a ser cumprida é de 3% com tolerância de 1,5 pp pra mais ou pra menos]; se essa projeção se concretizar, vai ser o segundo ano que que ficará abaixo da meta inflacionária; em 12 meses até dezembro o IPCA registra alta de 4,72%”
Um analista de um grande banco de investimentos disse que o estresse no mercado se deve “à preocupação com agravamento da situação no Mar Vermelho, não sabemos se os Estados Unidos esperam uma guerra; o petróleo sobe forte e as treasuries também avançam; se o cenário piorar, a expectativa que o mercado trabalhava com começo do ciclo de corte de juros em março pode mudar”.
O dólar comercial fechou em alta de 1,29%, cotado a R$ 4,9147. A moeda refletiu, ao longo da sessão, a aversão global ao risco nesta primeira sessão do ano, além da pressão nas Treasuries.
Para o analista da Potenza Investimentos Bruno Komura, “muitos analistas ainda acreditam no soft landing (pouso suave), mas ainda existe o temor que uma recessão ocorra nos Estados Unidos. Os investidores estão cautelosos com os dados que vão sair nesta semana”.
Komura entende que o movimento de hoje é motivado pela pressão nos juros norte-americanos, que dá força mundial à divisa estadunidense, que também apresenta certa correção.
Para a economista-chefe do Ouribank, “as expectativas ficam por conta da ata, nos Estados Unidos, e do payroll, que acontecem nesta semana”.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em alta primieiro pregão do ano. Isso reflete, além da pressão dos Treasuries, um risk off global.
O DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,045% de 10,030% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 9,645% de 9,610%, o DI para janeiro de 2027 ia a 9,775%, de 9,720%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 9,995% de 9,990% na mesma comparação.
Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam o primeiro pregão de 2024 em queda, pressionados por um declínio nas ações da Apple após o rebaixamento de uma corretora e uma breve alta nos rendimentos do Tesouro, à medida que os investidores moderaram as expectativas de corte nas taxas de juros.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: +0,07%, 37.715,04
Nasdaq 100: -1,64%, 14.765,9
S&P 500: -0,56%, 4.742,83
Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Erika Kamikava / Agência CMA