Bolsa fecha em queda pela 10ª sessão seguida, maior sequência em 39 anos; dólar sobe 1,20%

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São Paulo- A Bolsa fechou em queda pela décima sessão seguida- visto a última vez em 1984- e perdeu os 117 mil pontos em um dia de aversão ao risco por conta da preocupação com a economia chinesa, principalmente o setor imobiliário do país e com isso as ações ligadas às commodities metálicas, com destaque para a Vale (VALE3) puxaram o índice para baixo. O país asiático deve seguir no radar dos investidores amanhã (15) com a divulgação de vários dados econômicos.

As ações da Vale (VALE3) caíram 3,08%. A CSN (CSNA3) perdeu 1,36%. Os bancos caíram, mas com maior destaque para o Itaú (ITUB4), que cedeu 1,44%. O destaque negativo ficou para Yduqs (YDUQ3), que caiu 1,44% e arrastou o setor de educação após notícias sobre as incertezas de como o Ministério da Educação irá cumprir a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre curso de medicina. Na ponta positiva, Alpargatas (ALPA4) subiu 1,71%, em um movimento de correção após perdas recentes.

O principal índice da B3 caiu 1,06%, aos 116.809,55 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto perdeu 1,13%, aos 116.945 pontos. O giro financeiro foi de R$ 22,2 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.

Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, disse a Bolsa chegou a uma sequência de 10 pregões de queda, algo que não ocorria desde fevereiro de 1984. “É uma conjunção de preocupações puxadas pelos temores com a inflação persistente lá fora e dos problemas no setor imobiliário da China, que poderia sofrer maior desaceleração da atividade” .

Nishimura afirmou que o cenário interno “também ajudou para reforçar o ambiente negativo, com a falta de avanços na agenda fiscal e o IBC-Br levemente abaixo das estimativas, além disso as falas da diretora de Assuntos Internacionais do Banco Central, Fernanda Guardado, sobre ‘ameaça de que o mundo conviva de uma forma mais prolongada com a inflação alta e persistente.

André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, disse que as preocupações com a China e a proximidade do vencimento de opções na B3 puxam o índice pra abaixo. “A China vem apresentando problemas em grandes conglomerados financeiros, que tem ligação com o setor imobiliário por lá. Não estão sendo pagos o cupom dos juros dos bonds das empresas desse setor e isso acabou derrubando o mercado de ações ligadas a commodities, principalmente as metálicas. Como Vale tem o maior peso no Ibovespa, é a ação que mais está puxando o índice para baixo hoje. Além disso, a proximidade do vencimento de opções e futuro de Ibovespa na quarta-feira (16), e vencimento de opções de ações na sexta-feira (18, acaba sendo uma semana mais volátil e trazendo um maior sentimento de risk-off dos investidores”.

Caio Henrique Soares Rodrigues, sócio da Atika Investimentos, disse que a Bolsa cai pela décima vez consecutiva no mês e alguns fatores externos impactam aqui. “O mercado tenta entender se é só um movimento de correção, após a forte alta em julho, ou uma reversão de tendência, acredito que seja uma correção em meio as questões da China. A gente enxerga uma China mais fraca com indicadores deteriorados, principalmente em relação ao mercado imobiliário; apesar de o governo tentar segurar, o buraco é mais embaixo e o mercado está colocando no preço das mineradoras e siderurgias; tem uma correção bem forte em Vale; não vemos uma perspectiva boa para o país no curto prazo”.

O sócio da Atika Investimentos que em relação à Petrobras, os investidores lidam com a questão da defasagem de preçoscom o mercado internacional e a intervenção na empresa. “O mercado tem tentado dar preço para o tamanho da intervenção estatal, está esperando o reajuste nos preços nos combustíveis e historicamente dificilmente essa disparidade passa de 20% a 25% por muito tempo, além disso tem as questões do [novo] PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] que interfere juntamente com a queda do barril de petróleo lá fora”.

Um analista do mercado financeiro disse que a Bolsa cai com a Vale “ação de maior peso no índice por conta da cautela dos investidores com a situação da economia chinesa; a maior incorporadora do país, a Country Garden deixou de pagar seus bonds e isso é preocupante”.

Ubirajara da Silva, gestor de renda variável, disse que o mercado fica de olho na Petrobras e na China. “Devemos acompanhar o desenrolar da Petrobras com muitos comentários sobre reajuste de combustíveis, a defasagem do preço da gasolina está acima de 20% e do diesel próximo de 26%. Está tendo questionamentos até da ANP. Petróleo realizando lucros, minério de ferro sofrendo com a preocupação de desaceleração da China; foco nas ações da Petrobras na sessão de hoje”.

O dólar comercial fechou em alta de 1,20%, cotado a R$ 4,9650. A moeda refletiu, ao longo da sessão, as preocupações que envolvem a economia chinesa.

Para o sócio da Ethimos Investimentos Lucas Brigato, “o dólar está voltando a testar os R$ 5, olhando para uma China que não decolou no pós-pandemia. Em uma sequência de dados ruins em diversos aspectos, a economia chinesa vem pagando o preço de uma política ultra restritiva e, com certo atraso, ainda ruminando efeitos de seus bloqueios e restrições”.

“A China está há muitos meses com números abaixo das expectativas, com o mercado imobiliário mostrando fragilidade. As commodities estão sentindo”, avaliou Brigato.

“Segundo a Bloomberg, a Zhongzhi Enterprise, um dos maiores gestores de fortunas do país, não realizou o pagamento de cupons de parte de suas dívidas. O regulador bancário chinês criou uma força tarefa para examinar os riscos da instituição, preocupados com potencial contágio ao setor”, explicou a Ajax Research.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em alta nesta segunda-feira refletindo a apreensão dos agentes financeiros com a situação da economia chinesa, uma vez que o país asiático é um dos principais parceiros comerciais do Brasil.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,460 % de 12,440% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,450% de 10,345 %, o DI para janeiro de 2026 ia a 9,970 %, de 9,820 %, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,155 % de 9,990 % na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo positivo, enquanto Wall Street aguarda os últimos dados sobre as vendas no varejo e os relatórios do último trimestre das principais empresas norte-americanas do setor.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,07%, 35.307,63 pontos
Nasdaq 100: +1,05%, 13.788,3 pontos
S&P 500: +0,57%, 4.489,72 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA