Bolsa fecha em queda pelo 2º dia com temor à inflação e queda das commodities; dólar recua

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São Paulo- A Bolsa fechou em queda pelo segundo dia consecutivo acompanhando a aversão global ao risco em um dia em que os investidores ficaram preocupados com a inflação no mundo e as commodities também impactaram negativamente com a piora da covid-19 na China.
Por aqui, os investidores ficaram atentos ao discurso do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que reforçou a surpresa do Indice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)- avançou 1,62% em março, maior patamar para o mês desde 1994, divulgado na última sexta-feira. O mercado acredita que o ciclo de aperto monetário perfure por mais tempo.
O principal índice da B3 caiu 1,15%, aos 116.952,85 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril perdeu 1,23%, aos 116.890 pontos. O giro financeiro foi de R$ 21,7 bilhões. Em Nova York, as bolsas registraram forte queda.
Um analista de uma grande gestora de investimentos que não quis se identificar disse a preocupação do mercado é a inflação. “O IPCA de sexta-feira-subiu 1,62% em março- acendeu uma luz amarela e o Campos Neto disse hoje que vai observar a inflação e dependendo do comportamento pode ter mais de uma alta da Selic. Acredito em uma elevação de 1 ponto porcentual (pp) em maio e mais 0,50 pp em junho, mas já existem apostas no mercado de mais 1pp [em junho]”.
A fonte também disse que a China “está no radar dos investidores com o avanço da pandemia e a preocupação com os juros nos Estados Unidos reflete na queda do S&P500”.
Com a expectativa de aumento de juros aqui, as empresas ligadas ao consumo voltam a sofrer. As ações do Pão de Açúcar (PCAR3) e Grupo Soma (SOMA3) caíram respectivamente 2,23% e 3,93%. Os papéis da Vale (VALE3) perderam 1,20%. Petrobras (PETR3 e PETR4) recuou 1,32% e 0,76% acompanhando a queda do petróleo no exterior.
Mais cedo, Luiz Carlos Corrêa, sócio da Nexgen Capital, disse que os investidores estão cautelosos com a inflação global. “A inflação alta na China preocupa e o mercado fica atento para ver quais as medidas que serão tomadas para combatê-la, nos Estados Unidos também têm divulgação [inflação] essa semana e aqui a fala de Campos Neto [presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto] estressou a Bolsa em um primeiro momento e depois melhorou”.
O presidente do BC disse em um evento, mais cedo, que a parte da surpresa do Indice de Preços ao Consumidor (IPCA)-subiu 1,62% em março-, divulgado na sexta-feira, foi reflexo dos preços dos combustíveis e que é necessário analisar a alta para ver se essa tendência muda.
O sócio da Nexgen Capital afirmou que a Bolsa está com um movimento de realização de lucros. “O Ibovespa vem de uma alta expressivas nas últimas três semanas e agora os investidores estão aproveitando as notícias ruins [sobre inflação] para colocar o lucro no bolso”.
O dólar comercial fechou em R$ 4,6910, com queda de 0,46%. A moeda oscilou durante toda a sessão e firmou direção próximo ao final da sessão, influenciada pelo possível aumento do ciclo de aperto monetário e intenso fluxo estrangeiro.
Segundo o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, “apesar do dólar ganhar lá fora, o fluxo continua vindo, o que ajuda o real”. Rosa fala que o discurso mais “hawkish” (duro) do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, nesta manhã, dando a entender que o aumento na Selic (taxa básica de juros) pode ser prolongado, ajuda o real a ganhar força.
A fala de Campos Neto, nesta manhã, sobre a possibilidade de estender o ciclo de aperto monetário fortaleceu momentaneamente o real, observa o head de análise macroeconômica da GreenBay Investimentos, Flávio Serrano.
“Campos Neto disse que talvez tenha de reavaliar o processo de aperto monetário, e que o mercado já começa a considerar dois aumentos de 0,5% na Selic (taxa básica de juros) nas reuniões do Copom de junho e agosto, chegando a 13,75%”, analisa Serrano.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em forte alta após a fala do presidente do Banco Central Roberto Campos Neto sobre o IPCA.
O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,085% de 12,960% % no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,650%, de 12,430%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,970%, de 11,770% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,635% de 11,500%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo negativo, com o Nasdaq recuando 2,18%, com os investidores preocupados com a maior alta nos juros do país em três anos podendo causar desaceleração na economia.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -1,19%, 34.308,08 pontos
Nasdaq Composto: -2,18%, 13.412 pontos
S&P 500: -1,68%, 4.412,53 pontos