Bolsa cai pelo 3º dia seguido puxado por Americanas, salário-mínimo e commodities

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São Paulo – A Bolsa fechou em queda pelo terceiro pregão seguido, em um dia de baixa liquidez por conta do feriado nos Estados Unidos, com os investidores temerosos com que a Americanas entre em recuperação judicial.

Somado a isso informações de que o governo poderia aumentar o salário-mínimo em um valor acima do previsto no orçamento e queda das commodities também ajudaram no mau humor do Ibovespa. Vale (VALE3) caiu 1,67%.

Os investidores também estão acompanhando o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suiça, que conta com a presença do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

O evento começou hoje e vai até sexta-feira (20). Haddad deve falar sobre âncora fiscal, reforma tributária, pacote anti-deficit e combate à fome.

As ações do setor financeiro seguem sofrendo desde o episódio da Americanas por serem credores da empresa. Bradesco (BBDC3 e BBDC4), Itaú (ITUB4); Santander (SANB11) caíram forte respectivamente 2,21% e 3,06%; 1,08%; 4,41%.

Em contrapartida, as varejistas como Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3) subiram 12,24% e 10,54%.

O principal índice da B3 caiu 1,53%, aos 109.212,66 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro cedeu 1,64%, aos 110.145 pontos. O giro financeiro foi de R$ 18,6 bilhões.

Alison Correia, CEO da Top Gain, disse que a Bolsa recua em meio a informações “que vazaram de que Lula queria aumentar o salário-mínimo acima dos R$ 1320 previstos, o que prejudicaria mais a questão fiscal, e que cada vez mais se fala em recuperação judicial para a Americanas”. A ação da Americana (AMER3) caiu 38,41%, a R$ 1,94.

Gabriel Meira, sócio e especialista da Valor Investimentos, disse que Bolsa recua com o evento Americanas, “com a dívida ter batido próximo a R$ 40 bilhões e da possível recuperação judicial, o mercado está receoso com um efeito sistêmico; além do reajuste do salário-mínimo passar para acima do valor previsto no orçamento”.

Matheus Spiess, analista da Empiricus, disse que a queda na Bolsa é atribuída ao evento da Americanas e commodities.

“É um dia ruim para mineração e siderurgia e os desdobramentos da Americanas reverberam de forma ruim em setores pesados do Ibovespa como o bancário, além de pouca liquidez sem Estados Unidos e aguardando novos comentários da equipe econômica com Haddad [Fernando Haddad, ministro da Fazenda] e Marina Silva [ministra do Meio Ambiente] em Davos, querendo vender o Brasil. Em especial o Haddad com compromisso fiscal que pretende implementar”.

Spiess disse que a Americanas pode entrar em recuperação judicial e, se isso acontecer ela deve sair do índice. Em relação às outras varejistas, “a resposta é clara que elas não têm o mesmo problema que a Americanas; a questão é da dívida junto aos bancos e as empresas ligadas ao 3G [grupo 3G Capital-companhia de privaty equity de Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles], em especial a Ambev, vai ter questionamento, porque não é a primeira vez que o grupo está envolvido com reclassificação”.

Em relação às commodities, na China também teve ruído de que empresas poderiam estar praticando irregularidades nos preços do minério de ferro, o que impacta a cotação.

O dólar comercial fechou em alta de 0,78%, cotado a R$ 5,1470. A sessão foi marcada pela baixa liquidez devido ao feriado de Matrin Luther King, nos Estados Unidos, o que contribuiu para um movimento de correção da moeda norte-americana, após sucessivas quedas.

Segundo o economista da Guide Investimentos Rafael Pacheco, “existe uma correção técnica do dólar, mas ele tem espaço para cair mais, a depender das notícias. No nosso modelo, o preço justo é de R$ 5,10”.

Pacheco acredita que enquanto a questão fiscal doméstica não for solucionada a moeda brasileira não deve ganhar mais força.

De acordo com o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, “estamos vendo uma correção global, começamos a ver uma moderação. Para o mercado a alta de 0,25 ponto percentual (pp) nos juros dos Estados Unidos já está solidificada. Para o curto prazo, a precificação é otimista”.

Borsoi entende que o movimento de hoje reflete a queda das commodities, além de uma correção do dólar que foi de R$ 5,50 para R$ 5,10 em cerca de duas semanas.

Para economista do Banco Ourinvest Cristiane Quartaroli, “nesta semana, o mercado continuar atento aos acontecimentos políticos internos e também às reuniões que acontecerão no Fórum Econômico Mundial em Davos”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta com liquidez reduzida e expectativa altista de inflação. O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,535% de 13,445% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 12,640%, de 12,415%, o DI para janeiro de 2026 ia a 12,490%, de 12,245%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,460% de 12,215% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 5,1460 para venda.

Com Paulo Holland e Pedro do Val de Carvalho Gil / Agência CMA.