São Paulo- A Bolsa fecha em queda pelo quarto dia seguido com as atenções dos investidores voltadas para a reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) na próxima semana (20 e 21) e adotando uma cautela com o tom que o presidente da instituição deve adotar em seu discurso, após os dados de inflação, na terça, que acendeu o alerta de que vem mais juros altos. Na semana encerrou com recuo de 2,69%.
Assim como nos Estados Unidos, semana que vem também é dia de decisão de política monetária. No mercado há quem acredita na manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano (aa) e os que apostam em uma elevação de 0,25 pp.
Por aqui, as ações das empresas ligadas ao consumo subiram com a queda dos juros futuros. As ações de Magazine Luiza (MGLU3) avançaram 2,76%, Via (VIIA3) e Americanas S.A. (AMER3) registraram alta de 1,60% e 2,41%.
O principal índice da B3 caiu 0,61%, aos 109.280,37 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro perdeu 0,44%, aos 110.135 pontos. O giro financeiro foi de R$ 39,1 bilhões. Em NY, as bolsas operam em queda.
Cassiano Konig, sócio-fundador da GT Capital, afirmou que a Bolsa cai acompanhando as bolsas globais. “O mercado fica temeroso em relação a novas altas de juros por parte do Fed, após os dados de inflação na terça-feira”.
Konig comentou sobre a Super Quarta em que o Banco Central (BC) e o banco central norte-americano decidem sobre os juros.
“Acredito em um aumento de 0,75 pp a 1pp por parte do Fed e o Copom deve subir 0,25pp, com isso os mercados entram no modo de alerta com a possibilidade de vir uma sinalização mais forte do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês)”.
Felipe Moura, analista de investimentos da Finacap, disse que os investidores mantêm posição de cautela, com ajuste de portfólios, “aguardando os próximos passos do Fed, depois da inflação ao consumidor (CPI, sigla em inglês) na terça-feira (13), que subiu 0,1% na comparação anual, e jogou um “balde de água fria” no mercado, que acreditava que os preços tivessem chegado no topo e começassem a cair”.
Moura acrescentou que é praticamente consensual um aumento de 0,75 pp ou 1 pp na elevação dos juros.
“Desde Jackson Hole o Fed vem adotando um discurso mais conservador e que não ia medir esforços para controlar a inflação, mas em uma economia do porte da norte-americana o grande problema em conter a inflação sem ter um efeito colateral na economia é muito difícil e o mercado começa a colocar mais peso nesse cenário de hard landing [pouso forçado].
Alexandre Silverio, CEO da Tenax Capital, disse que já era esperado esse cenário de inflação, juros altos e atividade nos Estados Unidos e a expectativa de aumento nas taxas foi crescendo.
“O mercado opera com probabilidade grande de que os juros serão elevados para 4,5% e isso se dará com um aumento de 0,75 ponto percentual (pp) na próxima reunião, seguidos de duas altas de 0,50 pp e mais um de 0,25pp”.
A despeito de um aperto monetário mais forte nos Estados Unidos, o Banco Central aqui encerrará o ciclo de alta da Selic em 13,75% ao ano (aa) e em se tratando de Bolsa, “com os juros elevados, os valuations das companhias brasileiras seguem um tanto atrativo, tanto as empresas de ciclo global de commodities, bem como as cíclicas domésticas em virtude delas se apresentarem muito saudáveis em seus balanços e conseguirem operar em um momento do ciclo econômico ainda em atividade no Brasil, que surpreende de forma favorável”.
O dólar comercial fechou em alta de 0,40%, cotado a R$ 5,2600. A moeda refletiu a forte aversão global ao risco, enquanto o mercado aguarda decisões de política monetária de diversos bancos centrais, que ocorrem na próxima semana. Na semana, o dólar valorizou 2,20%.
Segundo o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, “o movimento segue totalmente o que acontece lá fora. Na próxima semana diversos bancos centrais deverão anunciar o aumento dos juros, não teria como ser diferente”. Vieira se refere às instituições de China, Japão, Inglaterra, Suíça e Estados Unidos, além do próprio Brasil.
Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “os vetores que nos favorecem estão mais fracos, com a queda generalizada das commodities. Além disso, a conjuntura global é recessiva, especialmente na China, com o setor imobiliário. Isso também prejudica as exportações brasileiras”.
“O diferencial dos juros está favorecendo os países desenvolvidos, com o Banco Central (BC) terminando o ciclo. Isso faz com que não entre dinheiro estrangeiro. A dinâmica macro está mais difícil para o nosso câmbio, especialmente no curtíssimo prazo”, contextualiza Borsoi.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda com mercado em acomodação após semana estressada.
O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,795% de 13,785% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,230%, de 13,225%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,030%, de 12,080% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,700% de 11,775%, na mesma comparação.
Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda, encerrando a semana com perdas robustas, à medida que Wall Street absorve dados negativos da economia estadunidense e aguarda a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) na próxima semana.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,45%, 30.822,42 pontos
Nasdaq 100: -0,90%, 11.448,4 pontos
S&P 500: -0,71%, 3.873,33 pontos
Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA