Bolsa fecha em queda, pelo segundo dia seguido, com possibilidade cada vez mais forte de Haddad ocupar Fazenda e incertezas fiscais; Dólar sobe

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São Paulo – A Bolsa fechou em queda de 1,66%, pelo segundo dia consecutivo, com os investidores preocupados com os riscos fiscais e com a evidência cada vez mais clara da confirmação do nome do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, na pasta da Fazenda. Hoje, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, disse que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva anunciará alguns ministros amanhã (9).

Boa parte das ações caiu na Bolsa na sessão de hoje, com destaque para os papéis ligados ao consumo e varejo “Apesar de os dados de varejo ter vindo em linha-cresceu 0,4% em outubro-, não ajuda o setor que está machucado e a expectativa está ruim lá na frente com possíveis altas de juros”, disse Apolo Duarte, CFP, sócio e head da mesa de renda variável da AVG Capital.

O destaque positivo fica para a Vale (VALE3), com peso relevante no índice, subiu 1,22% e contribuiu para o Ibovespa não despencar mais.

O principal índice da B3 caiu 1,66%, aos 107.249,04 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro perdeu 2,12%, aos 107.310 pontos. O giro financeiro foi de R$ 26,2 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.

Armstrong Hashimoto, sócio e operador de renda variável da Venice Investimentos, afirmou que o cenário político interno segue pesando na Bolsa e a Vale ajuda para a perda não ser pior. “Rumores de que Aloizio Mercadante ocupe a Casa Civil e Haddad [Fernando] a Fazenda estressaram a Bolsa, não deveria, mas quanto mais o fato vai se aproximando a volatilidade aumenta”.

Hashimoto disse que outros pontos de atenção do mercado foram as indicações do Copom e a PEC da Transição aprovada no Senado. “A sinalização do Banco Central (BC) de que juros altos no patamar de 13,75% devem prolongar por mais tempo e algumas casas começaram a reavaliar o cenário para juros para o ano que vem e o grande ponto é quando acontece essa inflexão na curva; a PEC apesar de ter sido desidratada em R$ 30 bilhões acaba trazendo preocupação de quanto pode ter de gastos nos próximos anos e o mercado não fica confortável”.

Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos, disse que a Bolsa acelerou as perdas com a notícia divulgada pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, de que amanhã (9), o presidente eleitor Luiz Inácio Lula da Silva vai divulgar alguns nomes para compor seu ministério.

“O nome do Haddad ganhou mais força para ocupar a pasta da Fazenda, principalmente depois do encontro dele com o Paulo Guedes [atual ministro da Economia]; acredito que amanhã será anunciado o Haddad [Fernando] pra Fazenda, Dino [Flávio] para a Justiça e Múcio [José Múcio Monteiro] para a Defesa”.

Leão comentou que o mercado “estava esperando para a Fazenda um expert e vemos que o nome de Haddad é mais uma escolha de confiança porque ele não tem grande experiência na área”. E acrescentou que o mercado adotou a cautela devido a “incerteza no horizonte e tudo passa pelos nomes dos ministros”.

O especialista da Valor Investimentos também comentou sobre a sinalização do Copom sobre as incertezas fiscais.

Cássio Bambirra, líder de renda variável da One Investimentos, comentou que a Bolsa recua com os investidores preocupados com a questão fiscal em meio à PEC da Transição e o comunicado do Copom.

“É um rombo bem relevante que atrapalha muito a dinâmica da nossa política fiscal, inclusive o Copom sinalizou isso e o mercado reflete a dinâmica de juros e o andamento da PEC de Transição, apesar de os setores de siderurgia e mineração estarem subindo com a reabertura na China”.

Bambirra comentou que muitos bancos já revisaram a taxa terminal da Selic [taxa básica de juros] para cima em 2023. “Isso prejudica ass ações do setor de varejo que são sensíveis a juros”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,21%, cotado a R$ 5,2170. Os rumores sobre o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad assumir o ministério da Fazenda não foi bem vista pelo mercado e prejudicou a moeda brasileira.

Segundo o sócio da Top Gain Leonardo Santana “o que pega agora é a o Haddad. Existe a chance de ele ser anunciado amanhã, e isso deve estressar o mercado. O dólar hoje era para estar em queda, seguindo o movimento global”.

Santana coloca em dúvida da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição ser aprovada e o quanto ela será desidratada, e acredita que hoje o problema fiscal não possui reflexo significativo no câmbio.

Para o analista da Ouro Preto Investimentos Bruno Komura, “o dólar está praticamente no zero, talvez ainda tenha muito fluxo estrangeiro com o atrativo da renda fixa”.

Komura, contudo, entende que o “cenário, na visão do investidor, ainda é muito ruim. Esperamos que na Câmara os deputados sejam um pouco mais fiscalistas”.

De acordo com o relatório da Ajax Asset, “a forte expansão dos gastos, promovida pelo PEC da Transição, deve manter elevados os prêmios de risco”. o que prejudica o real.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta, com exterior desafiador e risco fiscal no radar. O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,658% de 13,664% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,830%, de 13,845%, o DI para janeiro de 2025 ia a 13,080%, de 13,035% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,785% de 12,715%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 5,2130 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam em queda superior a 1%, com o Nasdaq perdendo mais de 3%, depois que a ata da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) foi divulgada. O documento mostrou a preocupação dos membros com uma inflação insistente e um comprometimento com o aperto monetário.

Dow Jones: +0,55%, 33.781,48 pontos
Nasdaq Composto: +1,13%, 11.082,0 pontos
S&P 500: +0,75%, 3.963,51 pontos

Darlan de Azevedo, Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil