Bolsa fecha em queda por apreensão à alta de juros nos EUA; dólar sobe

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lSão Paulo – A Bolsa fechou em queda em um dia de aversão ao risco, abaixo dos 102 mil pontos e acompanhando o movimento negativo em Nova York puxado pelo pessimismo em relação ao aumento nos juros norte-americanos. As estimativas são de que a elevação já ocorra em março e alguns bancos acreditam em mais de três altas. 
Na semana passada, a ata do Federal Reserve (Fed, banco central norte americano) indicou um aperto monetário antes que o mercado espera. 
As ações do setor varejista e imobiliário seguem sofrendo por conta dos juros altos. 
O principal índice da B3 baixou 0,75%, aos 101.945,20 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro caiu 0,39%, aos 102.990 pontos. O giro financeiro foi de R$ 22,6 bilhões. 
Rodrigo Natali, diretor de estratégia da Inversa Publicações, comentou que a queda na Bolsa hoje foi em parte por causa da questão dos juros nos Estados Unidos no que se refere à narrativa, “mas acredito mais em um movimento de ressaca que registrado desde dezembro em que muitos ativos, como as smalls caps [empresas domésticas com menor participação em termos de volume negociado], vêm sofrendo em comparação com o MAT B 11-exportadoras. Hoje essa disparidade bateu o nível máximo”. 
“Hoje é mais um movimento baseado em sentimento que em fundamentos. Dentro da Bolsa está tendo uma rotação muito grande e muito traumática para diferentes participantes. Nunca um setor do Ibovespa performou tão bem contra outro com um desempenho tão ruim”, afirmou. 
Luiz Henrique Wickert, analista sênior da plataforma sim;paul, comentou que a abertura das bolsas em Nova York foi pesada com notícias relacionadas à elevação dos juros por lá e o reflexo foi imediato na nossa Bolsa. “Alguns bancos americanos, como o Goldman Sachs, já estão prevendo quatro alta de juros este ano assustando os investidores”. 
A Nadasq cai mais que o Dow Jones e o S&P e “o temor da alta de juros impacta mais as empresas de tecnologia”. Nadasq chegou a perder mais de 2,50% e fechou em leve alta de 0,05%. Dow Jones recuou 0,45% e S&P 500 registrou queda de 0,57%. 
No campo corporativo, o destaque negativo fica para ações da Banco Inter (BIDI 11) que caíram 8,56% em um movimento de correção da sessão de sexta-feira que subiram mais de 14%. Os papéis do setor de varejo e tecnologia também sofrem com o aumento da taxa de juros. 
Os analistas da Commor DTVM corretora comentaram que os investidores aguardam dados econômicos domésticos e norte-americanos durante a semana. 
“Os dados de inflação nos EUA poderão reforçar o posicionamento mais duro do banco central do país. Por aqui, o IPCA ficará acima da meta da inflação e o mercado aguarda o resultado de amanhã para realizar leves ajustes em suas expectativas para este ano e 2023”. 
O dólar comercial fechou em R$ 5,6740, com alta de 0,74%. A moeda norte-americana foi pressionada durante toda a sessão pelo iminente aumento dos juros nos Estados Unidos, além do anúncio da inflação no Brasil e Estados Unidos, referente a dezembro, que acontece amanhã e quarta, respectivamente. 
Segundo o executivo da REAG Investimentos, Antonio Machado, “a aversão ao risco e a queda da bolsa americana estão impactando o dólar”. 
Diferente dos juros e da bolsa, Machado acredita que o câmbio está mais estável: “A política monetária do Banco Central (BC) está fazendo efeito, mesmo com a queda da bolsa”, explica. 
De acordo com a equipe da Ouro Preto Investimentos, “o movimento dos juros, nos Estados Unidos, é o drive de hoje. Agora todos os membros do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) estão com um discurso hawkish (austero, favorável ao aumento dos juros), inclusive os que têm direito a voto. Alguns analistas já preveem quatro altas, e não mais três”. 
Embora exista expectativa para os resultados da inflação nos Estados Unidos referentes a dezembro, que serão divulgados nesta quarta, a Ouro Preto que a esta altura isso não deve alterar a política do Fed. 
Para o economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi, “a segunda-feira começa no mesmo tom da semana anterior, com bolsas em queda, sentindo as altas nos juros e dólar”. O economista acredita que este cenário aumenta a percepção de aversão ao risco dos investidores, com uma sessão mais negativa para o dólar. 
Borsoi considera que o momentâneo recuo de Bolsonaro quanto ao aumento dos salários foi recebido positivamente pelo mercado: “A fala de Bolsonaro pode conter os ânimos”, opina. 
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta nesta segunda-feira, confirmando um movimento que já se verificava na última sexta-feira, diante de um cenário externo marcado por expectativas em torno da economia norte-americana. 
O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 12,070% de 11,980% do ajuste anterior e o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 11,800% de 11,660%. O DI para janeiro de 2025 ia a 11,480% de 11,380% do ajuste anterior e o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 11,370% de 11,270%. No mercado de câmbio o dólar também operava em alta, cotado a R$ 5,6710 para venda. 
Os principais índices do mercado de ações fecharam o pregão em campo misto num dia de recuperação de perdas ao longo do dia, com o Nasdaq registrando ligeira alta de 0,05% após chegar a cair 2% durante a tarde. 
Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos durante o fechamento: 
Dow Jones: -0,45%, 36.068,87 pontos 
Nasdaq Composto: +0,05%, 14.942,8 pontos 
S&P 500: -0,14%, 4.670,29 pontos