Bolsa fecha em queda por preocupação com juros e recuo dos bancões; dólar encerra a R$ 5,05

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São Paulo -A Bolsa fechou em queda, no primeiro pregão de abril, em dia de aversão ao risco global com atenção aos juros americanos em razão de a economia mostrar resiliência.

Os bancões também ajudaram a puxar o índice pra baixo e o recuo não foi maior devido à alta dos pesos-pesados como Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3 e PETR4).

Mais cedo foi divulgado o índice de ISM de atividade industrial nos Estados Unidos e veio acima do esperado-subiu 50,3 pontos- contra projeção do mercado de alta para 48,1 pontos.

A Vale (VALE3) subiu 0,64% e Usiminas (USMI5) avançou 0,79%. Petrobras (PETR 3 e PETR4) registrou alta de 0,73% e 0,77%. Itaú (ITUB4) tombou 3,40%, Bradesco (BBDC4) perdeu 0,91% e Banco do Brasil (BBAS3) caiu 0,95%.

O principal índice da B3 caiu 0,87%, aos 126.990,45 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril recuou 0,95%, aos 127.475 pontos. A máxima no interdiário atingiu 128.658,86 pontos e a mínima 126.771,80 pontos. O giro financeiro foi de R$ 19,7 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam mistos.

Um analista de um grande banco disse que o mau humor no exterior e o setor financeiro derrubam a Bolsa.

“Os investidores estão temerosos com os juros americanos, já quem aposta no corte em setembro por isso ninguém quer assumir posição. Com isso, o rendimento das treasuries-títulos de 10 anos do Tesouro norte-americano- passou de 3,23% para 3,32%. Apesar da inflação PCE [subiu 0,3% em fevereiro em base mensal] ter vindo em linha na sexta-feira (29), hoje o ISM da atividade industrial mostrou que a economia nos EUA segue resiliente e o mercado fica cauteloso até a divulgação do payroll na sexta-feira. Aqui o setor financeiro ajuda a puxar o índice pra baixo e Petrobras e Vale avançam e seguram o Ibovespa”.

Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, disse que com uma economia dos Estados Unidos pujante “o mercado começou a ficar em compasso de medo de que os juros não caiam a partir de junho e essa incerteza refletiu aqui. Sem o corte de juros lá fora, a nossa Bolsa não sobe no curto prazo, o que é muito negativo”.

Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, disse que com a atividade forte nos Estados Unidos em uma semana de dados importantes é natural um dia de aversão ao risco.

“O pregão não está pior por conta das commodities metálicas e o Indice Small Caps [-0,47%] cai menos que o Ibovespa. Hoje é um dia de cautela com o mercado à espera do payroll na sexta-feira, depois de um PCE em linha com o esperado. Vale destacar que hoje a sessão não é de normalidade porque os mercados no Pacífico e na Europa estão fechados, apesar de o gigante Estados Unidos estar operando”.

Mais cedo, Ubirajara Silva, gestor de renda variável independente, disse que a Bolsa abriu em alta com as commodities metálicas em meio a uma semana relevante com os dados de emprego nos Estados Unidos.

“Os dados de atividade manufatureira da China [PMI oficial do setor industrial subiu para 50,8 pontos em março] melhor que o esperado impulsionou o minério de ferro, que avançou mais de 2%. O grande destaque são as commodities metálicas. Essa semana tem payroll na sexta (05), ADP na quarta-feira (3) e é importante acompanhar os números para ver quais os passos do Fed nos próximos meses. Por aqui, ficar de olho se vai ou não ter interferência nas estatais e a acompanhar a defasagem da gasolina e o desempenho da Petrobras”.

O dólar fechou em alta de 0,88%, cotado a R$ 5,0586. A moeda norte-americana refletiu, ao longo da sessão, o temor de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) não afrouxe o ciclo contracionista neste semestre.

Para o analista da Potenza Investimentos Bruno Komura, “apesar do índice de preços para os gastos pessoais (PCE) em linha, favorável, anda temos um grande nível de incerteza, como no discurso do Waller, na semana passada. Isso cria aversão ao risco e bate nas moedas emergentes”, referindo-se ao membro do Fed, Christopher Waller.

O PCE subiu 0,3% em fevereiro na comparação mensal, depois de subir 0,4% em janeiro.

Komura entende que o ISM de atividade industrial, que foi a 50,3 pontos em março (projeção de 48,1 pontos), é mais uma evidência de que a economia estadunidense segue aquecida, o que dificulta a tarefa do Fed.

“Estamos vendo o mercado piorar conforme aumenta a cautela dos investidores em relação aos dados americanos. Os dados mais fortes preocupam porque pode fazer com que o Fed postergue o inicio dos cortes dos juros”, avalia Komura.

Contudo, em entrevista sexta-feira, o presidente do Fed, Jerome Powell afirmou que a divulgação estava “alinhada ao seu pensamento”, segundo a Ativa Investimentos. “A propósito, diferentemente dos duros discursos sobre política monetária de Christopher Waller, na quinta-feira, Powell manteve alinhamento com a press conference pós- Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês).

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em alta, seguindo os Treasuries (Títulos do tesouro norte-americano) que sobem desde a batelada de dados da economia dos Estados Unidos que foi divulgada na primeira metade do dia.

O DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 9,925%, de 9,920% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 9,925% de 9,930%, o DI para janeiro de 2027 ia a 10,210%, de 10,490%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 10,520% de 10,460% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo misto, enquanto os juros dos títulos dos Treasuries subiram e impactaram as bolsas.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,60%, 39.566,85 pontos
Nasdaq 100: +0,11%, 16.396,8 pontos
S&P 500: -0,20%, 5.243,77 pontos

 

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA