Bolsa fecha em queda, precificando cautela do Fed com Trump, denúncia contra Bolsonaro, à espera de balanços

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São Paulo, 19 de fevereiro de 2025 – A Bolsa fechou em queda, refletindo a cautela vista na ata da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), divulgada na tarde desta quarta-feira. O documento indicou que a autoridade monetária deve manter os juros em meio às incertezas geradas pelo governo Trump. Antes da ata, os mercados já repercutiam negativamente novas ameaças de taxações pelo presidente dos EUA e as tratativas com a Rússia para tentar interromper a guerra na Ucrânia e seus impactos sobre as commodities. O mercado também avaliou os resultados corporativos trimestrais e de 2024 e as denúncias contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e 33 aliados por tentativa de golpe de Estado. A denúncia ainda precisa ser aceita pelo Supremo Tribunal Federal (STF), aberta a ação penal e iniciado o julgamento, o que deve levar alguns meses e influenciar a próxima eleição presidencial.

Nesta quarta-feira também foram divulgados os dados relativos a construções de moradias nos Estados Unidos caíram 9,8% em janeiro ante dezembro. A previsão era de queda de 6,6% em base mensal.

Após balanço do 4T4/2024, divulgado ontem à noite, os papéis de Carrefour Brasil (CRFB3), Pão de Açúcar (PCAR3) e Iguatemi (IGTI11) fecharam com perdas de 2%, 7,16% e 3,09%, respectivamente.

Após o fechamento do mercado, saem os resultados de serão anunciados os números da mineradora Vale, Banco do Brasil, Gerdau, Metalúrgica Gerdau e Assaí.

O principal índice da B3 caiu 0,95%, aos 127.308,80 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril recuou 0,96%, aos 129.500 pontos. O giro financeiro foi de R$ 14,9 bilhões. Em NY, os índices de ações fecharam em alta.

Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, resume a ata do FOMC: ata com tom mais hawkish, com alguns diretores levantando dúvidas sobre o progresso da desinflação, em vista dos últimos números de inflação. Diante disso, alguns diretores afirmaram que seriam necessários novos sinais de progresso, antes de novos cortes de juros. Além disso, na discussão sobre política monetária, alguns diretores disseram que os juros podem não estar tão restritivos.

“Acredito que houve um tom um pouco mais conservador na ata do que no texto da decisão e a ata de hoje parece em linha com um comitê que prefere adotar uma pausa longa, em vista das elevadas incertezas, ainda mais diante de várias mudanças de política econômica à frente. Vemos o documento consistente com a perspectiva de juros estáveis ao longo de 2025.”

O analista cita entre os destaques da ata: 1. Atividade: o comitê espera o fechamento do hiato do produto até o início de 2025, com a taxa de desemprego se aproximando no nível natural (consistente com o produto potencial). A ata afirma que não houve grandes alterações frente ao documento anterior, mesmo sobre as hipóteses em torno das políticas econômicas da nova administração. 2. Inflação: a ata notou que a projeção de inflação não mudou frente ao cenário de dezembro e que o comitê já incorporou um efeito inflacionário da política tarifária da nova administração em 2025, sem efeitos de longo prazo. 3. O comitê notou que as incertezas estavam similares aos últimos 20 anos e que os riscos às projeções de atividade e mercado de trabalho estão relativamente balanceados, mas que, em termos de inflação, os riscos são assimétricos para cima.

Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, comenta: “a ata do Fed divulgada hoje à tarde enfatizou a observância de progressos adicionais na inflação para retomada de corte de juros. Além disso, adotou um tom de cautela a respeito dos níveis da taxa neutra de juros americana e a calibragem da política monetária.”

De acordo com o especialista, o mercado de juros reagiu positivamente revertendo a alta nos rendimentos, especialmente nos vértices mais longos, após o leilão de títulos do Tesouro ter demanda abaixo do esperado. “No âmbito doméstico, o fluxo de dólares tem sido expressivo em fevereiro, impulsionado principalmente pelo diferencial de juros entre o mercado local e o externo, pelo aumento dos preços das commodities e, mais recentemente, pelo sucesso da emissão de bonds do Tesouro brasileiro, que captou US$ 2,5 bilhões no mercado internacional. No entanto, hoje houve uma atenuação desses fatores, levando a moeda a um ajuste mais técnico, com o mercado refletindo um menor fluxo de entrada de dólares na sessão.”

Para Sidney Lima, Analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, a ata revela uma postura cautelosa do Fed em relação aos juros, mantendo-os entre 4,25% e 4,50%. “Esta decisão reflete preocupações com inflações futuras potencialmente impulsionadas por políticas comerciais e tarifárias recentes. Para o Brasil, esse cenário sugere maior volatilidade no mercado cambial e possíveis impactos no custo do financiamento externo, dada a influência das taxas de juros americanas sobre o fluxo global de capital. Investidores devem, portanto, monitorar de perto as futuras decisões do Fed e seus comentários sobre a economia global, que poderão afetar diretamente as estratégias econômicas e fluxo de investimento no país”, avalia.

Sobre a denúncia apresentada pela PGR ao STF contra o ex-presidente Bolsonaro e mais 33 pessoas, por suposta tentativa de golpe e organização criminosa, Alison Correia, analista de investimentos e sócio da Dom, comenta: “Bolsonaro é acusado de ser o líder. Ele e o coronel Braga Neto. Isso aí ainda vai dar pano para muita coisa”, avalia o analista. “Na pior das hipóteses, se tudo der errado pro Bolsonaro, ele pode pegar até 40 anos de
cadeia. E a melhor das hipóteses para ele é o Supremo não dar sequência”, opina.

Para a Levante Investimentos, “a denúncia não quer dizer, necessariamente, uma condenação. Há muitos passos a ser seguidos” e “o caso será objeto de um processo demorado”, prevê a corretora. “No entanto, a notícia pode reverberar nos mercados pois afeta o cenário político tendo em vista as eleições de 2026. O cenário político é imponderável. É bastante difícil estabelecer um valor específico para determinados eventos”, pondera.

“Em termos hipotéticos, é possível dizer que a notícia enfraquece o discurso da oposição, que passará a atuar na defensiva e a depender dos trâmites do Judiciários. Mas isso não necessariamente fortalece o governo ou facilita a tramitação de suas propostas no Congresso. Nem ajuda no esforço de equilibrar as contas públicas”, comenta.

O dólar fechou em alta de 0,65%, cotado a R$ 5,7256. A moeda norte-americana teve um adicional de alta após a divulgação da ata da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), no final das sessão. O clima hoje foi de cautela com as medidas protecionistas que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, possa tomar.

“A ata do Fed divulgada hoje à tarde enfatizou a observância de progressos adicionais na inflação para retomada de corte de juros. Além disso, adotou um tom de cautela a respeito dos níveis da taxa neutra de juros americana e a calibragem da política monetária”, explicou o especialista em investimentos da Nomad, Bruno Shahini.

Segundo a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, “existe certa cautela do investidor com Trump, então o dólar acaba sendo uma proteção. O movimento também é de correção”.

Para o sócio da Top Gain Leonardo Santana, o cenário de câmbio “não mudou muito. O dólar voltar um pouco, hoje, é normal”.

Santana acredita que o discurso de sobretaxação de Trump e o temor da escalada da inflação nos Estados Unidos contribuem para a desvalorização do real.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em alta. O movimento teve impacto direto da ata da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), divulgada no final da sessão.

Por volta das 16h49 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,690% de 14,70% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 14,680%, de 14,580%, o DI para janeiro de 2028 ia a 14,505%, de 14,370%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 14,475% de 14,305% na mesma comparação. O dólar avançava 0,57%, cotado a R$ 5,7211 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão desta quarta-feira em leve alta, demonstrando resiliência mesmo diante da ameaça do presidente Donald Trump de impor novas tarifas e da postura ainda cautelosa do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,16%, 44.627,59 pontos
Nasdaq 100: +0,07%, 20.056,3 pontos
S&P 500: +0,23%, 6.144,15 pontos

Com Paulo Holland e Larissa Bernardes / Safras News

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