Bolsa fecha em queda puxada pelo setor financeiro e fiscal no radar, oposto a Nova York; dólar sobe

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São Paulo- A Bolsa voltou a fechar em queda, no patamar dos 117 mil pontos, oposto ao exterior, puxada pelo setor financeiro, após a divulgação do déficit primário em julho de R$ 35,9 bilhões pelo Governo Central-que compreende Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) também impactaram negativamente.

As ações do Itaú (ITUB4) caíram 1,91%. O Bradesco (BBDC3 e BBDC4) perdeu 1,32% e 2,13%. Banco do Brasil (BBAS3) recuou 1,44% e Santander (SANB11) cedeu 1,36%.

A CVC (CVCB3) liderou as ações em alta de 17,09% no Ibovespa estendendo o movimento da véspera beneficiada com a crise na 123 Milhas. “Com o problema da 123 Milhas, a CVC é favorecida porque tira um player do mercado”, disse um analista de um grande banco.

Na ponta negativa, a Via (VIIA3) foi destaque com perda de 6,99% “A queda é por conta das incertezas envolvendo o potencial aumento de capital na companhia, com a Assembleia Geral Extraordinária (AGE) na sexta-feira para deliberar sobre o assunto”, disse Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

Mais cedo, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostrou que no Brasil foram criados 142.7902 mil postos de trabalho com carteira assinada em julho. Os dados foram divulgados pelo Ministério do Trabalho e Previdência.

O principal índice da B3 recuou 0,73%, aos 117.535,10 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro baixou 0,66%, aos 119.295 pontos. O giro financeiro foi de 16,6 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em alta.

Bruno Komura, analista da Potenza Investimentos, disse que a Bolsa ampliou a queda refletindo o déficit do Governo Central. “O déficit primário em julho deve fazer com que a gente tenha mais medidas arrecadatórias e isso pode incluir JCP [Juros sobre Capital Próprio], o que seria bem ruim para os bancos”.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, disse que o mercado reagiu negativamente aos dados do Caged, queda do setor bancário e atenção ao fiscal. “O mercado ficou impressionado com o Caged, mas abrindo os dados não justifica a reação negativa, é um exagero; segundo semestre será mais estagnado; vemos nitidamente a realização dos bancos e mesmo em dia de juros em queda as varejistas e construtoras não se beneficiam, pesa a desconfiança do mercado de o governo abandonar a questão fiscal de buscar um déficit zero já em 2024; o mercado acompanha dados nos Estados Unidos e a possibilidade de subir juros por lá é baixa.

Vicente Matheus Zuffo, fundador e CIO da Chess Capital, disse que “principalmente os bancos puxam a Bolsa para baixo, o setor de consumo também contribui, além disso reflete as incertezas fiscais, desde ontem quando foi publicada a MP [Medida Provisória] da tributação de fundos exclusivos e offshores, o Brasil ficou para trás. Essas medidas visam um aumento na arrecadação que ainda assim não vai ser suficiente para cumprir as metas de primário do ano que vem e os próximos; o governo se recusa a cortar gastos; os dados dos EUA corroboram com a tese de pouso suave da economia, o que alivia a curva de juros”.

Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que os dados do Caged mostram uma queda de 27,70% em relação ao mesmo período do ano passado. “É o enfraquecimento da economia muito por conta da taxa de juros [Selic] ainda alta por aqui. O corte da Selic ainda não reflete nesse Caged, a fotografia é quando os juros estavam em 13,75% ao ano [atualmente está em 13,25%], impactando a economia real, sinaliza mais uma necessidade de continuar com corte de juros pra que a gente tenha a médio prazo um ambiente mais favorável para a criação de empregos e uma economia mais aquecida; o destaque ficou para o setor de serviços, que teve uma criação de vagas mais expressiva-56.303 postos de trabalho”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,33%, cotado a R$ 4,8693. A moeda refletiu, ao longo da sessão, as incertezas sobre os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e o temor uma recessão nos Estados Unidos.

Segundo a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “o mercado oscila bastante nas apostas. Não há um consenso sobre a recessão nos Estados Unidos”.

Abdelmalack acredita que ainda é muito cedo para cravar os próximos movimentos do Fed: “Este assunto é sensível”, avalia.

Para o analista da Potenza Investimentos Bruno Komura, “estamos vendo a volatilidade predominar nos mercados, como observado anteriormente. Em diversos eventos nós vimos o mercado reagir de uma forma, e durante o dia mudar de posição. Hoje nós vimos os mercados reagirem positivamente, com a narrativa de que os dados devem corroborar a tese de um Fed mais leve na política monetária”.

Komura, contudo, observa que a desaceleração é acompanhada pelo temor de uma recessão na economia estadunidense.

“Os dados do ADP estão em linha com o Jolts. Estamos vendo a economia americana desacelerar e o mercado vê o término da alta dos juros, e já começa a precificar o início dos cortes para antes de junho. Isso enfraquece o dólar”.

O Automatic Data Processing (ADP) apontou a criação de 177 mil vagas em agosto ante expectativa de 200 mil. Já as vagas criadas em julho foram revisadas de 324 mil para 371 mil. Já o relatório Jolts apontou a criação de 8,827 milhões vagas em julho (projeção de 9,465 milhões).

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) operam mistas no final do pregão, depois do dia de quedas, aliviadas com dados dos Estados Unidos que mostravam possível arrefecimento da sua atividade econômica. Em ambiente doméstico, o número de empregos criados no Brasil, agregados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e o Indice Geral de Preços Mercado (IGP-M) – ambos divulgados hoje – foram bem recebidos pelo mercado.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,375% de 12,400% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,450% de 10,460%, o DI para janeiro de 2026 ia a 9,990%, de 9,980%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,115% de 10,145% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo positivo, chegando a uma sequência de quatro dias consecutivos de ganhos, à medida que os investidores avaliam novos indicadores da economia norte-americana.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,11%, 34.890,24 pontos
Nasdaq 100: +0,54%, 14.019,3 pontos
S&P 500: +0,38%, 4.514,87 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA