São Paulo, 3 de fevereiro de 2025 – A Bolsa fechou o primeiro pregão de fevereiro em queda, diante de novas confirmações de uma perspectiva mais negativa para os ativos de risco. A Bolsa abriu os negócios em queda nesta segunda-feira, reagindo ao anúncio oficial do presidente dos Estados Unidos de impor tarifas de 25% ao Canadá e ao México e de 10% à China, e à nova rodada de piora no boletim Focus para a inflação e Selic. Os dados corroboram para projeções de juros altos por mais tempo e desconfiança com o cumprimento das metas fiscais pelo governo brasileiro. No entanto, com a volta do Congresso Nacional, os investidores chegaram a mostrar otimismo com que algumas pautas fiscais avancem, o que refletiu em queda menos acentuada da B3 em comparação a outros mercados no início da manhã.
O movimento positivo na Bolsa brasileira também refletiu o anúncio da presidente do México, Claudia Sheinbaum, de uma negociação bem sucedida para suspender as tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos, mas voltou a operar em queda, refletindo a cautela dos investidores. A presidente do México se comprometeu a colocar mais agentes de segurança na fronteira para conter o fluxo de drogas para os EUA e as tarifas devem ficar suspensas por 30 dias.
No entanto, o mercado manteve a volatilidade e, depois, prevaleceu a tendência baixista.
Assim, o principal índice da B3 fechou em baixa de 0,13%, aos 125.970,46 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro recuou 0,45%, aos 126.190 pontos. O giro foi de R$ 14,9 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em queda.
As ações de maior peso, como grandes bancos e Petrobras, que apresenta seu relatório de produção e vendas do quarto trimestre e 2024 após o fechamento de hoje, fecharam em campo negativo, contribuindo para as perdas do índice. A ação da Vale (VALE3) fechou em leve alta, mas próxima do zero (+0,07%).
Alexandro Nishimura, diretor da Nomos, comenta que apesar da grande tensão com os anúncios no fim de semana de tarifas dos EUA sobre Canadá, México e China, o Ibovespa teve um reflexo limitado das perdas no exterior. “No início da tarde o índice ainda chegou a subir, mas em seguida voltou para o negativo, mesmo com os mercados internacionais reduzindo as perdas conforme o noticiário apontava para um adiamento do início da cobrança das novas tarifas sobre o México”, observa.
Em relação aos investimentos, o analista resalta a busca por ativos mais seguros. “O ouro bateu novo recorde. O movimento é natural de momentos de estresse, no qual os investidores buscam por ativos seguros.”
Nishimura destaca que as ações da Natura operaram boa parte do pregão em forte em alta com a melhora de recomendação do Goldman Sachs de Neutra para Compra, destacando que o papel tem posições defensivas em meio a um cenário macroeconômico que pode atrapalhar as companhias cíclicas de consumo no Brasil. A ação NTCO3 fechou em alta de 0,79%.
Já as ações da Azul caem perto de 6% pois enfrentaram realizações de lucros após uma alta de 25% em 2025, impulsionada pelo sucesso na reestruturação da empresa, além do recente aumento no preço do querosene de aviação, anunciado pela Petrobras, que impacta negativamente as finanças da companhia aérea.
Na avaliação do diretor da Nomos, a redução do prêmio de risco interno ajudou na queda dos juros futuros.
Alison Correia, analista de investimentos e sócio-fundador da Top Gain e Dom Investimentos, avalia que quando tudo encaminhava para um dia “muito sangrento” nos ativos locais e nos ativos internacionais, o movimento de hoje mostrou uma melhora, principalmente nos ativos de economias emergentes. Em reflexo ao ‘tarifaço’ de Trump, os mercados abriram muito estressados, uma forte queda para os futuros americanos, asiáticos, europeus, e aqui no Brasil não foi diferente. “Se a gente olha a Bolsa brasileira, a gente vai ver que a variação foi extremamente grande. Se a gente olhar entre a máxima do dia e a mínima, foram mil pontos de oscilação aproximadamente no IBOV”, comentou.
“Ou seja, os mercados reagiram de uma forma mais calma no decorrer do dia, viraram do avesso por conta do Trump também, que teria feito uma reunião com a presidente mexicana, que teria se comprometido em cuidar da fronteira e mandar 10 mil militares para a fronteira.
E aí, essa questão das tarifas foi adiada por um mês, ou seja, Trump confirmou uma pausa de um mês nas tarifas sobre produtos do México, após essas conversas. E ele comentou ainda que a conversa foi muito amigável. Então esses pontos acabaram fazendo com que o dólar passasse a cair contra várias moedas. Tudo virou depois desse acordo e dessa pausa momentânea. Além disso, saiu agora a pouco que os Estados Unidos está considerando taxar em 10% produtos da União Europeia”, acrescenta Correia.
Na sua avaliação, esse “vai e vem” continua trazendo volatilidades. “Trump começou seu governo de forma mais light, e os ativos animaram com isso, sem taxar a China. Ele comentou que taxaria em até 60% os produtos chineses e isso por enquanto não aconteceu. Mas conforme ele foi aumentando o tom em relação a isso, realmente o clima foi ficando mais tenso e os preços acabaram trabalhando de forma mais negativa.”
Em relação às empresas, ele destaca a JBS (+0,56%), que tiveram suas recomendações melhoradas. JBS e exportadores de animais podem se beneficiar do arrefecimento de uma guerra comercial e se beneficiam no pregão de hoje, avalia.
Como queda de maior destaque, ele cita Magazine Luiza (-3,21%), em movimento de correção. “O papel está subindo no ano mais de 16%, pegou uma movimentação bem intensa, então temos uma correção.”
A ação da Petrobras cai agora também na expectativa pelos balanços. PETR3 caiu 1,22% e PETR4 recou 0,50%.
Já os papéis da Gerdau fecharam em alta (+1,50%), pois a companhia pode escapar das taxações em relação a empresas concorrentes e se beneficia nesse cenário.
O dólar comercial fechou em queda de 0,34%, cotado a R$ 5,8154. A moeda refletiu, na segunda parte da sessão, a sinalização de que México e Estados Unidos negociam para chegar a um meio sobre as tarifas de importação.
O anúncio foi feito pela presidente do México, Claudia Sheinbaum, mais cedo.
Para o analista da Potenza Capital Bruno Komura,”o Trump parece que está disposto a negociar e chegar em um meio termo”.
Komura acredita que muito provavelmente o mesmo irá acontecer com os produtos chineses e canadenses, que serão sobretaxados em 10% e 25%, respectivamente: “Parece que ele (Trump) quer sempre estar muito presente”, avalia.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em firme queda, seguindo os Treasuries (títulos do Tesouro norte-americano). Ambos os mercados reagem às incertezas quanto ao ‘tarifaço’ de Trump, mas as taxas domésticas caem porque a expectativa de atividade econômica arrefecida gera menor pressão inflacionária.
Por volta das 16h35 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,875 de 14,940% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 14,825%, de 15,035, o DI para janeiro de 2028 ia a 14,565%, de 14,850%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 14,450% de 14,775 na mesma comparação. O dólar opera em queda, cotado a R$ 5,8354 para venda.
Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda, em reação ao anúncio do governo Trump sobre a implementação de tarifas contra o Canadá e a China, embora os principais índices tenham recuperado parte das perdas significativas após o presidente Trump declarar que os Estados Unidos adiariam as tarifas sobre importações mexicanas por um mês.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,28%, 44.421,91 pontos
Nasdaq 100: -1,20%, 19.392,0 pontos
S&P 500: -0,76%, 5.994,57 pontos
Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Safras News
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